Alberto Oliveira

A inflação persistente no Brasil continua a ocupar uma posição central no debate econômico, preocupando tanto formuladores de políticas públicas quanto investidores.

Apesar das sucessivas elevações da taxa Selic promovidas pelo Banco Central, a inflação brasileira permanece elevada e resiste a convergir para a meta de 3,25%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual.

Conforme dados mais recentes divulgados pelo IBGE, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumula variações anuais superiores ao previsto, impulsionado principalmente pela elevação dos preços de alimentos.

Fatores estruturais como a recorrente instabilidade fiscal, também contribuem para a manutenção da inflação em patamares elevados.

A elevação da taxa básica de juros, embora seja o principal instrumento para controlar o consumo e moderar o aumento dos preços, encontra limitações quando os choques inflacionários provêm de fatores fora do alcance da política monetária convencional, como oscilações nos preços globais de commodities e problemas na oferta.

Outro obstáculo significativo é o intervalo de tempo necessário para que os ajustes na taxa Selic produzam efeitos concretos na economia. Os aumentos iniciados em 2021, por exemplo, somente começaram a afetar o crédito e a atividade econômica de maneira mais perceptível a partir de meados de 2022.

Além disso, a falta de clareza sobre o compromisso fiscal do governo e o cumprimento de metas fiscais intensificam a percepção de risco, pressionando o câmbio e, consequentemente, os preços internos.

Um elemento adicional complica muito a atuação do Banco Central: o ambiente de expansão do crédito, impulsionado por políticas governamentais, estímulos ao consumo e uma maior acessibilidade ao financiamento em determinados segmentos.

Embora o objetivo do aumento da Selic seja restringir o crédito e conter o consumo, medidas de incentivo em setores específicos podem reduzir a eficácia da política monetária restritiva.

É, portanto, particularmente ingrata a missão do Banco Central - de manter o poder de compra da moeda -- quando se vê obrigado a servir a dois senhores, com objetivos conflitantes.

Além disso, o avanço das fintechs e a digitalização do sistema financeiro, que facilitam o acesso a modalidades como crédito consignado e crédito pessoal via aplicativos, favorecem um consumo mais robusto, que pode alimentar a demanda agregada e dificultar o controle inflacionário.

A expansão do crédito em um ambiente inflacionário elevado apresenta desafios adicionais para o Banco Central, uma vez que políticas expansionistas que promovem o consumo podem, na prática, anular parte dos esforços de contenção inflacionária baseados no aperto monetário.

Mais e mais, portanto, o que se vê é um Banco Central sendo obrigado a se desviar de cascas de banana no caminho do enfrentamento à inflação, que brotam como fungos alimentados por um fogo amigo persistente. 

Conseguirá desviar-se de todas elas? Quem sobreviver, verá.

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