Ilustração: Sora IA
O choque tarifário anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre os produtos brasileiros, coloca em risco cadeias produtivas que empregam direta e indiretamente dezenas de milhares de pessoas, no País.
Grande parte do valor exportado ao mercado norte-americano provém de commodities e bens de capital de alto valor agregado. O Brasil abastece, por exemplo, cerca de 33% do café consumido nos EUA, enquanto na pecuária ocupa cerca de 23% das importações americanas de carne bovina. E a Embraer, fabricante nacional de aeronaves, destina ao mercado norte-americano aproximadamente 75% das suas vendas de jatos executivos.
Se as tarifas forem mantidas, o crescimento do PIB-Produto Interno Bruto brasileiro em 2025 pode recuar até 0,4 ponto percentual, sobretudo devido à desaceleração dos setores de base e dos insumos industriais exportados. É o que mostram projeções divulgadas pelo Goldman Sachs.
Esse efeito não se limita a números agregados: o agravamento do custo de insumos, combinado ao desaquecimento da demanda externa, tende a reduzir investimentos em inovação e infraestrutura, minando a já limitada capacidade de expansão produtiva do país.
A aposta na retaliação e no confronto, alardeada pelo governo brasileiro nos momentos que se seguiram ao anúncio do tarifaço, só agrava a delicada situação em que foi colocado o setor produtivo do País. A consequência imediata seria o aumento dos preços de produtos americanos no mercado interno, pressionando ainda mais a inflação e corroendo o poder de compra das famílias, em um momento de recuperação frágil do emprego formal.
Além disso, conflitos comerciais costumam desencadear revisões negativas em ratings soberanos e levam investidores a postergar decisões de alocação de capital, agravando a volatilidade cambial e elevando o custo de financiamento para o Tesouro e para as empresas -- efeitos que ultrapassam em muito a escala de eventuais ganhos políticos de curto prazo.
Em vez disso, a via da negociação oferece resultados superiores. A adoção de salvaguardas temporárias e isenções setoriais negociadas -- por exemplo, para insumos agrícolas ou peças automobilísticas -- seguida de metas de compras escalonadas, permitiria mitigar o choque imediato sem que o Brasil perca sua credibilidade de parceiro comprometido com a estabilidade do comércio internacional.
Um diálogo com o Congresso e com o empresariado norte-americano, combinando compromissos em áreas como energia limpa e facilitação aduaneira, estreitaria laços e abriria caminhos para acordos bilaterais mais amplos, atingindo serviços digitais e cadeias de valor de maior conteúdo tecnológico.
Portanto, ao recusar a escalada de retaliações e optar por negociações objetivas, o Brasil preserva empregos, evita desindustrialização e mantém acesso garantido a um dos maiores mercados consumidores do mundo.
A diplomacia econômica -- pautada em dados, metas claras e reciprocidade proporcional -- não só minimiza as perdas imediatas, mas cria as bases para um relacionamento comercial mais resiliente e diversificado, capaz de impulsionar a competitividade brasileira no longo prazo.