O bairro do Rio Vermelho em Salvador, é, sem dúvida, um dos mais frequentados pelos moradores e turistas. Como não se apaixonar pelo barulho das ondas do mar? Poder assistir à missa na Paróquia de Santana e sentir a brisa da praia tocar nosso rosto? Ou então, conversar com a Rainha Yemanjá e lhe agradar com oferendas? Pois é, isso é só uma parte do que o bairro oferece.
Quando a noite cai, o lugar mostra sua outra face: a boêmia. Com diversas opções gastronômicas e musicais, se consagra como o preferido de quem adora curtir a noite da cidade e consegue mesclar clima de azaração com família, e deu certo...
Ali, a aldeia é deles
por Juliana Tourinho
Eu, por exemplo, sempre gostei do bairro, principalmente da Vila Caramuru, antigo Mercado do Peixe. Já fiquei muito ali com amigos tomando uma cerveja e curtindo a noite. Percebo que o cenário hoje é completamente diferente de sete, oito anos atrás.
Depois da reforma, em vezde barzinhos com cadeiras de plástico e pequenos boxes para atender ao público, os frequentadores encontram restaurantes, hamburguerias, sorveterias e estacionamento. O característico cheiro de peixe, tão marcante para mim, que se misturava com o cheiro do cigarro dos fumantes, deu lugar a um ar mais sofisticado.
Quando o assunto é o Largo da Mariquita, o bar e restaurante Cabral 500 é o meu preferido. Lá, além de ser mais barato que a Vila, o ambiente é mais familiar, com adultos e idosos, que também aproveitam para comer um acarajé na Cira. Costumo ir com minha filha, pois na praça tem pula–pula, balões e vendedores de brinquedos. Pago pouco e minha pequena se diverte.
Finalmente quando chego no Largo de Santana, fico observando o comportamento das pessoas. Andam de um lado para outro, com a lata de cerveja na mão ou com um cigarro. Quem consume nos bares sempre encontrava um amigo sentado no passeio e as tribos acabam se juntando. A diferença social que os separa, naquele momento se dissolve. Casais gays convivem em harmonia com os heterossexuais.
O encontro de vários estilos, pessoas, bairros, culturas e até de países diferentes, torna o Rio Vermelho o lugar mais moderno e eclético da cidade. Quem mora, gosta da praticidade. Não precisa ir muito longe para achar mercado, escola, farmácia ou banco. Está tudo ali, bem pertinho. Caminhar na praia, ir à igreja a pé ou apenas descer para pegar uma pizza na sexta-feira à noite são algumas das vantagens.
Há moradores que reclamam do barulho do som do carro e dos bares. Outros, da violência. E tem aqueles que não se importam com nada disso e acham que está tudo bem. São pessoas que nasceram e se criaram ali.
Mas o que percebi de mais forte nos depoimentos foi a sensação de pertencimento. Ali é a “aldeia deles”. Os bares, a música, o público, estão à parte. Muitos se sentem “invadidos” pelos atrativos noturnos, porém, quando perguntamos se sentem vontade de mudar de lugar, a resposta foi unânime: NÃO!
Apropriação do bairro pelo público LGBT
Por Danielle Souza
A noite no Rio Vermelho tem grandes atrativos para o público gay de Salvador e de fora. São diversas as opções de diversão e entretenimento, divididas para todos os gostos e bolsos. A diversidade do bairro atrai o público LGBT que caracteriza o Rio Vermelho e o destaca como um dos melhores destinos para esse segmento.
Foi a minha primeira noite no Rio Vermelho e logo de cara eu soube o que fazia a alegria do público LGBT: as boates gays. A San Sebastian, por exemplo, é a mais frequentada por quem gosta de curtir a noite.
A fila da San, como é comumente conhecida, começa a crescer por volta das 23h. A partir daí, o passeio da Rua da Paciência começa a lotar de gente fazendo o credenciamento e aguardando a abertura dos portões.
No dia da nossa visita à boate, uma sexta-feira, a festa temática foi sobre Harry Potter, então já imaginou a quantidade de gente que havia fantasiada, por lá, né?
Na fila da San também encontrei um trio de drag queens. Helena Velasco, Pedrita e Allie afirmaram que costumam frequentar bastante o Rio Vermelho como opção de lazer. “Aqui temos a diversidade de público e o bairro centraliza o entretenimento da noite em Salvador. Vem todo mundo pra cá!”, concluiu Helena.
Também conheci o estudante Matheus Machado que estava acompanhado com o seu namorado, David Júnior. Ele afirmou que o bairro é um ótimo destino para quem quer fugir da rotina. “É o local para onde vamos para escapar da mesmice, aqui você vê tribos diferentes e todo mundo se mistura”, declarou.
O Rio Vermelho tem essa particularidade de mesclar pessoas, idades, gostos e ideias diferentes. O bairro também oferece uma certa proteção para o público gay, pois nele está localizado o Centro Municipal de Referência LGBT, onde são disponibilizadas assistência jurídica, psicológica e social para esse segmento.
“Apesar de sofrer violência em qualquer bairro, a gente se sente acolhido e mais protegido no Rio Vermelho. Só o fato de ter uma plaquinha com o nome ‘LGBT’ nos diz que, de alguma maneira, existem políticas que olham pela gente”, destacou Matheus Machado.
Helena Velasco se sente livre para vestir o que quiser, no Rio Vermelho
Curtir a noite tem vários preços
Por Letícia Paixão
O Rio Vermelho se modernizou bastante após a reforma que durou cerca de oito meses, entre os anos de 2015 e 2016. Em duas noites de sexta-feira, foi possível observar que o local possui uma grande variedade de opções de lazer, principalmente quando o assunto é “happy hour”.
No primeiro dia na Vila Caramuru, antigo Mercado do Peixe, observei que existia uma grande quantidade de pessoas da classe média alta que se divertiam de forma segmentada entre as variedades dos quiosques do local (uns mais cheios do que outros). Ao contrário do que vi antes da reforma. Medida em que abordava as pessoas, percebi que algumas preferiam um local mais sossegado outros, nem tanto.
André Gomes mora em Salvador há oito anos, mesmo período o qual frequenta o bairro do Rio Vermelho. Mineiro, e dono do Planeta Burguer, estava no quiosque "Tô em casa" com a namorada e um amigo, afirmou para mim que antes, quando não possuía condições de se divertir em locais sofisticados, gastava cerca de R$ 60 com comida e bebida no Largo Santana, onde fica localizado o acarajé da Dinha. Hoje, na Vila Caramuru, gasta cerca de R$ 200 para se divertir com a namorada.
O quiosque Pai Inácio, mais movimentado entre os outros 10, possuía em seu cardápio uma grande diversidade de pratos e drinks. Os pratos mais caros eram as moquecas, já os mais em conta eram os petiscos como a batata frita e queijo coalho, que custavam 14 reais a porção. Foi possível notar a presença de muitos jovens se divertindo ao som da música ao vivo do local.
Eu fico aqui até as 6 horas da manhã
-- Tia Nil, vendedora de cachorro-quente --
O Dogão da Tia Nil é o melhor do Rio Vermelho, pelo menos é a opinião dos seus clientes que não deixam de provar em cada ida ao bairro
No Largo da Mariquita a variedade de público foi mais visível, já que pude encontrar grupos de famílias e amigos nas mesas dos bares. Existia um telão que exibia o último capítulo da novela A Força do Querer, diferente dos bares da Vila Caramuru onde os frequentadores não estavam se importando com o destino das personagens principais, apenas dançavam ao som das músicas.
No segundo dia quando fomos realizar a segunda parte da pauta, próximo à Paciência, encontrei uma mulher bastante simpática. Nil Araújo. A senhora era vendedora de cachorro quente e nos contou sobre o motivo daquele local para montar o seu negócio.
Dona Nil também relatou sobre a fiscalização rígida montada pela prefeitura para atuar os vendedores ilegais. Ela por exemplo, não pode vender bebidas alcoólicas. Uma vez tentou driblar a fiscalização, mas teve as bebidas apreendidas.
O preço do lanche da dona Nil, que depende da quantidade de salsichas e do tamanho do pão, varia entre R$3 e R$8, sem bebida. Vários adultos e adolescentes que estavam curtindo a noite ao redor, a fim de pagar pouco, fizeram uma grande fila para experimentar o cachorro quente que também é vendido no bairro da Barra.
Quase em frente ao ponto de Nil, foi possível ver uma diversidade de público: heterosexual, drag queen, homossexuais... Não chegamos a entrar nas boates do bairro, mas sabemos que uma cerveja em uma casa noturna não sai a menos de R$12, o que nas ruas sairia por R$ 5, menos da metade do preço.
O que atrai no Rio Vermelho?
por Sarah Matos
O Rio Vermelho é um bairro eclético. Chegando lá, somos capazes de conviver com pessoas de diferentes tribos, idades, gostos, estilos e condições financeiras variadas. É um espaço que dispõe de muitas opções de lazer e talvez isso seja ponto forte e explicação para noites tão longas e movimentadas.
Vila Caramuru, Largo da Mariquita e Largo de Santana. Esses são os três locais mais movimentados nas quintas, sextas e sábados soteropolitanos.
A vila caramuru – antigo mercado do peixe – surpreendeu pela sofisticação e variedade. Lá, frequentadores encontram bares, restaurantes, hamburguerias, sorveterias, estacionamento privado, tudo isso diante da brisa do mar e, para quem gosta, com muita música.
O público predominante é de jovens de classe média alta, devido à diferença de preço em relação às outras opções de diversão do bairro.
Maria Eduarda acredita que o Rio Vermelho é um ótimo espaço para a socialização, devido as variedades de opções
O Largo da Mariquita é outro ponto bastante movimentado e com opções mais baratas que a Vila. Lá, o auge fica por conta dos bares, como o Cabral 500, que percebi ser bastante movimentado. O público, ao meu ver, já muda completamente. É algo mais familiar, com menos jovens e mais adultos e idosos. Nesse largo, além dos bares, as pessoas também se dividem nas tendas de comida.
A orla, coladinha com o Largo de Santana fica bastante movimentada até a madrugada
Por fim, temos o Largo de Santana, popularmente conhecido como “largo da Dinha” e, com certeza, o ponto de maior movimento da noite no Rio Vermelho. O largo e seus arredores são cercados de boates, bares e vendedores ambulantes.
A característica é o público espalhado pela rua, sem necessariamente adentrar aos espaços privados e consumindo dos ambulantes.
Nessa terceira parte do Rio Vermelho, o público é majoritariamente jovem, mas sem uma uniformidade de gostos, já que existem pub’s de rock, boates eletrônicas, sertanejas, LGBTT, pagode, etc. Todas essas pessoas se misturam nos passeios da Rua da Paciência.
O fluxo é tão grande que chega a tomar o asfalto, complicando o trânsito do local.
Uma das opções de lazer encontradas no Rio Vermelho é o campo de futebol
Quando perguntava às pessoas o que as atraem no Rio Vermelho, elas costumavam responder sobre as opções diversas de boates, o público misturado, preços para todos os bolsos. Quando me perguntei sobre o que eu – como frequentadora da noite – me atraio, pude perceber que a resposta casava.
O Rio Vermelho é um bairro para se divertir tanto com, quanto sem dinheiro. É uma noite para olhar o movimento, apreciar o mar, ver as diferenças e conhecer gente nova.
Moradores versus volume máximo
Por Amanda Maria Azevedo
Particularmente, eu não sou das maiores entusiastas de som alto e muito barulho. Sempre fui da turma que prefere sons em volumes mais baixos ou silêncio total e ao observar as várias facetas do Rio Vermelho, o volume dos sons nos bares e casas noturnas foi uma das coisas que mais me chamou atenção.
Apesar de ser um dos importantes pontos turísticos de Salvador e também um local conhecido pela sua boemia e festas noturnas, o Rio Vermelho é um bairro residencial e fiquei muito curiosa para saber como os moradores e frequentadores do local lidavam essa situação.
Acho que o primeiro fato que pude afirmar com certeza é que o som alto divide a opinião dos moradores. Uns acabam ficando chateados e defendem que o som alto é um desrespeito à Lei do Silêncio (lei que estabelece restrições para a geração de ruídos em locais públicos), já outros afirmam não se incomodar com o volume alto de alguns bares e restaurantes.
Muitos moradores dizem que após a obra de requalificação da orla do Rio Vermelho, o bairro ficou mais organizado e disciplinado. Para o comerciante Marcos Barreto, junto a essa organização e disciplina, os bares começaram a respeitar a Lei do Silêncio e a deixar o volume dos seus respectivos sons no limite do que é permitido por lei. “Depois da reforma, o barulho é controlado, o clima é diferente”, afirmou ele.
Outros moradores são categóricos ao afirmar que o barulho produzido pelos diversos bares da Rua da Paciência (principal via de movimentação dos frequentadores dos bares e festas do Rio Vermelho) é insuportável.
“O maior problema são os carros de som que ficam com um volume muito alto, na entrada dos condomínios. Uma vizinha minha começou a ficar com problemas de saúde porque esses carros ficavam até mais de quatro horas da manhã por aqui”, comentou a comerciante Rosa Marques.
Rosa ainda afirma que comunicar a secretaria responsável pela fiscalização da Lei do Silêncio em Salvador a Sedur (Secretaria de Desenvolvimento e Urbanismo - antiga SUCOM) não resolve muito o problema.
“A gente liga e eles dizem que vão mandar o carro para fiscalizar. Quando eles passam com o carro, os donos dos carros com o som alto abaixam o volume, mas basta eles irem embora para o barulho voltar”, ressalta ela.
Apesar do problema, alguns moradores afirmam que essa questão do barulho já melhorou bastante desde a implantação da prefeitura-bairro no local.
“Houve uma época que essa questão era mais que insuportável, hoje já está mais controlado que antes”, disse Dona Josefa Barbosa, dona de casa.
Segundo as informações da Sedur, a Lei do Silêncio permite que o som esteja em até 70 decibéis (unidade de volume do som), das 7h até às 22h. Já das 22h até às 7h é permitido 60 decibéis.
O trabalho desenvolvido pelos agentes da Sedur é delicado e muitas vezes não apresenta os resultados esperados por quem recorre ao órgão, por falta de estrutura de trabalho e por falta de agentes suficientes para realizar a fiscalização.
Sendo assim, o que resta aos moradores que se incomodam com o barulho, é esperar que haja um bom senso por parte dos outros moradores e frequentadores do bairro quanto ao volume adequado dos bares e carros de som.