CAETANO E OS OUTROS BAIANOS
Como os baianos mudaram a música brasileira
REPORTAGEM -
Eric-Yves Delgoffe, Gerson Almeida, Heider Motta, Luiz Paulo San Martin, Maurício Marques
A importância histórica do estado da Bahia para a música nacional vai além da criação de ritmos, gêneros eestilos. Os músicos baianos estiveram à frente dos mais importantes movimentos musicais da nossa história.
Da Bossa Nova, vinda da genial mente de João Gilberto, passando pelo Tropicalismo, até a mais atual sofrência dos versos de Arrocha, ritmo que se originou na cidade de Candeias, o sucesso da música feita no estado extrapolou as barreiras estaduais, regionais, nacionais e até mesmo mundiais.
Sobram nomes marcantes para a música brasileira que vieram da Bahia, como Dorival Caymmi, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa, Maria Bethânia, Raul Seixas, Armandinho, João Gilberto, Moraes Moreira, Ivete Sangalo, Daniela Mercury, Edson Gomes, Saulo, Luiz Caldas, Sarajane, entre tantos outros.
Música é um dos mais marcantes aspectos da Bahia e os impactos da música feita por baianos é sentido até hoje na produção musical do Brasil.
Foto: Acervo familiar/FotosPublicas.com
Sofisticação praieira
Minha jangada vai sair pro mar Vou trabalhar, meu bem querer
-- Suíte do Pescador – Dorival Caymmi --
Considerado gênio da música brasileira, o cantor e compositor soteropolitano Dorival Caymmi nasceu no dia 30 de abril de 1914.
Famoso por cantar os costumes e tradições da Bahia e criar o que se pode chamar de "música praieira", Caymmi influenciou a Bossa Nova e criou belíssimos sambas canção.
Compôs de forma sofisticada 101 canções que marcaram a música popular brasileira e ajudaram a valorizar a cultura popular.
Entre seus sucessos estão "Samba da Minha Terra", "Marina", "Samba da Bahia", "O Dengo Que a Nega Tem" e "Saudade de Itapoã".
Em 1938 se mudou de Salvador para o Rio de Janeiro, onde se apresentou em rádios, como a Tupi, e cantou músicas como o samba "O Que É Que a Baiana Tem?", um dos seus maiores sucessos. A música foi incluída no filme hollywoodiano "Banana da Terra" (1938), com Carmen Miranda, e que alcançou sucesso nacional e internacional ajudando e apresentou a música popular brasileira ao mundo.
Em 60 anos de carreira Dorival Caymmi gravou cerca de 20 discos, mas o número de versões de suas músicas feitas por outros intérpretes é praticamente incalculável.
É pai de três grandes artistas da música brasileira: Nana, Dori e Danilo Caymmi.
Morreu em 16 de agosto de 2008, aos 94 anos, em casa.
Segundo João Gilberto "com Dorival Caymmi a gente aprende tudo".
Foto: Divulgação
A bossa do violão
Céu tão azul, ilhas do sul e o barquinho é um coração deslizando na canção
-- O barquinho – João Gilberto --
Um dos maiores nomes da música brasileira é o cantor, compositor e violonista João Gilberto Prado Pereira de Oliveira ou, simplesmente, João Gilberto.
Baiano de Juazeiro, o artista, hoje com 86 anos, é considerado uma lenda. A sua importância ultrapassa as fronteiras da Bahia e até mesmo do Brasil.
É um dos criadores da Bossa Nova, no final dos anos 50 do Século XX, juntamente com nomes como Tom Jobim e Vinícius de Moraes.
A Bossa Nova foi um movimento musical que conquistou o mundo e deriva do samba, possuindo também fortes influências do jazz, do chorinho e do blues, sendo uma das marcas culturais do Brasil.
O disco "Chega de Saudade", de João Gilberto, lançado em março de 1959, é considerado o pontapé inicial da Bossa Nova. Isso é justificado pelo fato de as canções contidas no LP trazerem uma batida e harmonias diferentes do que havia na época.
Destacam-se, nesse disco, as músicas "Bim Bom", composta pelo próprio João Gilberto e "Chega de Saudade", escrita por Tom Jobim e Vinícius de Moraes, que intitula o LP.
A partir daí, a carreira de João Gilberto decolou e, junto com ele, uma nova geração de músicos na época.
Vai, minha tristeza, e diz a ela que sem ela não pode ser
-- Chega de saudade – João Gilberto --
A Bossa Nova e João Gilberto chegaram aos Estados Unidos com o disco "Brazil's Brilliant João Gilberto", lançado naquele país em 1961.
No ano seguinte, ele participou de um concerto histórico no Carnegie Hall, em Nova Iorque. Essa apresentação visava promover o ritmo em solo norte-americano. Mais de três mil pessoas estiveram presentes para ouvir as apresentações de João Gilberto, Luiz Bonfá, Tom Jobim, Sérgio Mendes, entre outros artistas brasileiros.
O reconhecimento não veio apenas pela divulgação dos seus álbuns, músicas e apresentações ao redor do mundo, mas também através de uma premiação importante. Em 1965 João Gilberto recebeu o Grammy, o maior prêmio da indústria musical americana, de Melhor Álbum pelo disco Getz/Gilberto, gravado em parceria com o saxofonista estadunidense Stan Getz, músico de grande influência no Jazz e um dos responsáveis por fazer a Bossa Nova ser conhecida em todo o mundo.
Destaca-se aqui a versão em inglês da famosa música Garota de Ipanema, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes.
Antes de voltar a morar no Brasil, João Gilberto viveu dois anos no México, onde lançou o disco "João Gilberto em México". Em 1980 fixou residência no Rio de Janeiro. Também foi destaque do Festival de Montreux, na Suíça, em 1986.
Uma apresentação de destaque aconteceu em 1994, quando gravou ao vivo o álbum "Eu Sei Que Vou Te Amar", em São Paulo, no Palace.
Seu último álbum de estúdio foi lançado em 2000, intitulado "João Voz e Violão".
Voltou a apresentar-se nos palcos em 2008 para uma celebração dos 50 anos da Bossa Nova, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
Extremamente perfeccionista com todos os detalhes que envolvem suas músicas e shows, João Gilberto é uma lenda da música brasileira e também mundial. Dono de uma voz suave e sem excessos, apresentava dicção perfeita e não deixava transparecer sotaque baiano.
Um dos marcos da Bossa Nova é como violão e voz se fundem em um só, algo que João Gilberto sabia fazer como ninguém.
Já teve músicas como trilha sonora de filmes, novelas e seriados, tanto no Brasil, quanto no exterior.
Em 2011, o repórter alemão Marc Fischer, escritor dos romances Eine Art Idol (2001) e Jäger (2002), publicou o livro "Ho-ba-la-lá – à procura de João Gilberto", onde tentou desvendar os mistérios do artista, que pouco conversa com a imprensa e é bastante reservado em relação à mídia. Fischer acabou por falar poucos dias antes do lançamento do livro.
Extremamente influente para outros artistas, João Gilberto é um marco na história da música brasileira. Sua contribuição vai muito além da criação da Bossa Nova, mas pela própria importância histórica que construiu ao longo da carreira.
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Foto: Carol Garcia/Secom
Geleia Geral
Um poeta desfolha a bandeira e a manhã tropical se inicia
-- Geleia Geral – Gilberto Gil e Torquato Neto --
O Tropicalismo foi um movimento musical surgido no Brasil em 1967 e que também atingiu outras esferas culturais como artes plásticas, cinema e poesia.
Sob a influência das correntes artísticas da vanguarda e da cultura pop nacional e estrangeira, misturou manifestações tradicionais da cultura brasileira a inovações estéticas radicais.
Tinha objetivos comportamentais, que encontraram eco em boa parte da sociedade, que estava sob a ditadura militar, no final da década de 1960. Mas o Tropicalismo se manifestou principalmente na música e seus principais representantes foram o letrista e poeta Torquato Neto, o grupo paulista Os Mutantes - do qual fazia parte Rita Lee - e os cantores e compositores baianos Caetano Veloso, Gilberto Gil e Tom Zé, além da cantora Gal Costa.
Arrojado, a mais pura vanguarda da época, o Tropicalismo foi muito importante servindo para modernizar a música brasileira, incorporando e desenvolvendo novos padrões estéticos. Neste sentido, foi um movimento cultural revolucionário, embora muito criticado no período, e que acabou por influenciar as gerações musicais brasileiras nas décadas seguintes.
O Maluco que fez a Terra parar
A obra de Raul Seixas é composta por discos lançados em seus 26 anos de carreira e seu estilo musical é tradicionalmente classificado como rock e baião.
Embora Raul mantivesse um gosto muito sincero pela música, seu sonho maior era ser escritor como Jorge Amado. Quem diria...
Raul Santos Seixas, Raul Seixas, Raulzito, Maluco Beleza, Pai do Rock Brasileiro, nasceu em Salvador em 28 de junho de 1945 e morreu em 21 de agosto de 1989.
O baiano poderia ser considerado diversas coisas em sua época, não apenas músico, mas um pensador e até filósofo, que conseguiu a partir de sua voz revolucionar a cabeça de um país inteiro.
Suas letras eram diferentes de qualquer coisa já ouvida no Brasil e no mundo, quase como se um grande filósofo tivesse nascido e decidido seguir o caminho da música para divulgar seus ideais de forma livre e apaixonante.
Com seu intenso interesse pelo rock internacional, ao longo de sua juventude, unindo-se ao fato de seu péssimo desempenho acadêmico, Raul acabou decidindo seguir a carreira musical e em 1963 juntou-se aà cena do rock que se formava em Salvador.
A banda que formou chegou a ter diversos nomes, como Relâmpagos do Rock, era formada pelos irmãos Délcio e Thildo Gama, e passou por várias formações. Em 1963 passou a se chamar The Panters, e se tornou sensação em Salvador. A fama se espalhou, e a banda foi rebatizada pelo nome Os Panteras, tendo em sua formação definitiva além de Raulzito, os integrantes Mariano Lanat, Eládio Gilbraz e Carleba.
Eu já bem sabia que você não ficaria um minuto mais
-- Um Minuto Mais – Raul Seixas com Os Panteras --
Em 1972, após o fracasso de Os Panteras, Raul Seixas decide participar do Festival Internacional da Canção, transmitido pela TV Globo.
Os festivais da canção foram importantíssimos para o lançamento de grandes nomes da música brasileira.
O cantor compõe duas músicas : "Let Me Sing, Let Me Sing", defendida pelo próprio Raul e "Eu Sou Eu e Nicuri é o Diabo", defendida por Lena Rios & Os Lobos. Ambas chegam à final, obtendo sucesso de crítica e de público.
Rapidamente foi contratado pela gravadora Philips e começou a fazer sucesso comercial nacionalmente em 1973, quando iniciou também sua parceria com Paulo Coelho e gravou o disco "Krig-há, Bandolo!". O disco tem cinco canções da dupla: "As Minas do Rei Salomão", "A Hora do Trem Passar", "Al Capone", "Rockixe" e "Cachorro Urubu".
O álbum seguinte, o enorme sucesso "Gita", traz os primeiros clássicos escritos pelos dois. Além de "Gita", explodiram "Medo da Chuva" e "Sociedade Alternativa", uma das músicas mais famosas do rock brasileiro.
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Faça o que quiseres pois é tudo da lei, da lei
-- Sociedade Alternativa” – Raul Seixas e Paulo Coelho --
Os ideais que tentam ser estabelecidos pela dupla através das expressões artísticas que infelizmente foram constantemente censuradas pela “justiça”, com a premissa de que os dois estariam criando uma “sociedade alternativa”, que ia contra os ideais da ditadura militar vigente no Brasil, levaram os dois à prisão e posteriormente a um breve exílio nos Estados Unidos. Mas em 1974 Raul volta ao Brasil graças ao sucesso de Gita. A ditadura militar perdoou o maluco beleza.
Em 1975 lançou o LP “Aeon”, que traz parcerias importantes com Paulo Coelho, como "Rock do Diabo", "Tente Outra Vez" e "A Maçã". As duas últimas também assinadas por Marcelo Motta. Mas a parceria acabaria em 1976, com o lançamento de "Há 10 mil anos atrás". Das 11 canções do disco, o Mago participa de dez.
Claudio Roberto tinha cerca de 15 anos quando conheceu Raul, no Rio de Janeiro. As primeiras contribuições da dupla ocorreram no álbum "O dia em que a Terra parou", de 1977. Co-autor das nove faixas do disco, Claudio escreveu seu nome na história da música brasileira com "Maluco Beleza", talvez o maior clássico de Raul. Das muitas músicas escritas pelos dois, algumas das mais lembradas são "Aluga-se" e "Rock das Aranha", ambas censuradas pela ditadura militar.
Outras parcerias importantes aconteceram com o argentino Oscar Rasmussen, que participou de todas as canções de "Por quem os sinos dobram", o último disco de Raul pela gravadora WEA, lançado em 1979; a ex-mulher de Raul, Kika, que também escreveu mais de dez canções ao lado do músico. Faixas do casal, que se separou em 1986, aparecem em quatro álbuns do Raulzito: "Abra-te Sésamo" (1980), "Raul Seixas" (1983), "Metrô Linha 743" (1984) e "A Panela do Diabo" (1989).
Veja o clipe de Maluco Beleza
No início dos anos 80 Raul estava sem gravadora e agora também sem perspectiva de um novo contrato. Mergulhado na depressão, recorreu ainda mais às drogas.
Só em 1983 Raul foi convidado para gravar um disco pelo Estúdio Eldorado. Logo depois gravou o especial infantil Plunct, Plact, Zuuum da Rede Globo, onde cantou a música "Carimbador Maluco". O álbum Raul Seixas (1983), que continha a canção, dá a ele mais um disco de ouro. Porém, as portas se fecharam novamente, devido ao seu consumo excessivo de álcool.
Em 1988, fez seu último álbum solo, A Pedra do Gêneses. A convite de Marcelo Nova, participou dealguns shows em Salvador, após três anos sem pisar num palco e em 1989, faz uma turnê com Marcelo Nova, agora parceiro musical, totalizando 50 apresentações pelo Brasil. Durante os shows, Raul mostra-se claramente debilitado devido aos vícios e à depressão.
As inúmeras apresentações pelo Brasil resultaram naquele que seria o último disco lançado em vida por Raul Seixas. O disco foi intitulado de A Panela do Diabo e, por mais sombrio e inoportuno que pareça, foi lançado pela Warner Music Brasil no dia 22 de agosto de 1989.
Na manhã do dia 21 de agosto, Raul Seixas foi encontrado morto sobre a cama, por volta das oito horas da manhã, em seu apartamento em São Paulo, vítima de uma parada cardíaca: seu alcoolismo, agravado pelo fato de ser diabético, e por não ter tomado insulina na noite anterior, causaram-lhe uma pancreatite aguda fulminante.
O LP A Panela do Diabo vendeu 150 mil cópias, rendendo a Raul um disco de ouro póstumo, entregue à sua família e também a Marcelo Nova, tornando-se assim um dos discos de maior sucesso de sua carreira. Raul foi velado pelo resto do dia no Palácio das Convenções do Anhembi.
No dia seguinte seu corpo foi levado por via aérea até Salvador e sepultado às 17 horas, no Cemitério Jardim da Saudade.
Mesmo depois de sua morte, a música e a filosofia de Raul Seixas continuam impregnadas nas mentes das pessoas que puderam ouvir sua voz loucamente bonita. Graças a diversos álbuns póstumos como, O Baú do Raul (1992), Raul Vivo (1993 - Eldorado), Se o Rádio não Toca... (1994 - Eldorado) e Documento (1998) e livros como o Baú de Raul e homenagens das mais diversas formas, com filmes, programas e shows mais variadas gerações de todos os cantos do país puderam e podem apreciarecada verso que teve a assinatura de Raul Seixas, que era feito da terra, do fogo, da água e do ar.
Geleia Geral
Em 1976 um grupo chamado Doces Bárbaros foi formado pelos cantores e compositores Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Maria Bethânia com a finalidade de realizar uma turnê pelo Brasil para comemorar os dez anos de sucesso em suas carreiras individuais.
Com 15 canções novas, compostas exclusivamente para a turnê, a primeira apresentação foi em São Paulo. No repertório, músicas como "Um índio", de Caetano Veloso; "Pássaro Proibido", de Caetano e Bethânia; e "O Seu Amor", de Gil.
Como grupo, Doces Bárbaros poderia ser descrito como uma típica banda hippie dos anos 70, mas sua característica marcante foi a brasilidade e o regionalismo, naturais de todos os integrantes.
O disco de 1976 é considerado por muitos uma obra-prima da música brasileira, mas, curiosamente, na época do lançamento, foi criticado por outros artistas, produtores e críticos musicais.
Novos Baianos
Um grupo musical marcou de forma diferente a MPB nos anos 70: os Novos Baianos - formado basicamente por Moraes Moreira, Baby Consuelo, atualmente Baby do Brasil, Pepeu Gomes, Paulinho Boca de Cantor, Dadi e Luiz Galvão.
O grupo foi criado em 1969, quando os artistas se apresentaram juntos no Teatro Vila Velha, em Salvador, com o espetáculo “O Desembarque dos Bichos Depois do Dilúvio Universal”.
Os Novos Baianos, que viviam numa comunidade estilo hippie, lançaram oito álbuns de estúdio - É Ferro na Boneca, Acabou Chorare, Novos Baianos F.C., Novos Baianos, Vamos pro Mundo, Caia na Estrada e Perigas Ver, Praga de Baiano e Farol da Barra. Em 1978 as atividades foram encerradas. Porém, desde 1987, o grupo se reúniu para apresentações. Em 2017, por exemplo, foi lançado um álbum ao vivo intitulado "Acabou Chorare - Novos Baianos se Encontram".
Foto: Mauro Zaniboni/Agecom
Axé Music
Após o sucesso de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e outros músicos baianos que se consagraram na MPB, o cenário musical baiano sofreu um certo hiato nacional. Esse cenário se modificou a partir do início do Axé Music, na década de 80.
A palavra axé vem de uma saudação religiosa usada no candomblé, que quer dizer energia positiva. Assim, o ritmo mistura ijexá, samba, reggae, frevo, forró, ritmos próprios do candomblé, pop rock, além de outras batidas afro-brasileiras e latinas.
Tudo começou no bairro da Graça, em Salvador, no estúdio WR. No local foi formado um grupo que tinha como membros o baterista Cesinha, Alfredo Moura, que era compositor, arranjador e pianista, além dos professores Lindembergue Cardoso, Ernst Widmer, Jamary Oliveira e Paulo Costa Lima.
O cantor Luiz Caldas também foi integrante, trazendo junto com ele o percussionista Tony Maia. Por fim, Carlinhos Brown foi o último aprovado.
Desse encontro de músicos nasceu a banda Acordes Verdes, que deu início ao movimento do que conhecemos hoje como Axé Music.
O primeiro hit de sucesso do Axé Music foi “Fricote”, música composta por Luiz Caldas e Paulinho Camafeu. Trazendo um arranjo inovador, com um ritmo de deboche, a música foi um verdadeiro marco para o axé.
Veja entrevista com a cantora Sarajane
Abre a rodinha, meu amor/Abre a rodinha, por favor
-- "Abre a roda" - Sarajane --
Após o sucesso iniciado por "Fricote", diversos músicos baianos fizeram sucesso e se tornaram conhecidos a nível nacional, entre eles a banda Reflexu's, que embalou o sucesso Madagascar Olodum, a banda Chiclete com Banana, liderada por Bell Marques, Ara Ketu, Márcia Freire e a banda Cheiro de Amor, Ricardo Chaves, da música "É o Bicho", além de Sarajane, do clássico sucesso "A Roda" e Gerônimo, cantor de "Eu Sou Negão".
Com o Axé Music, as músicas baianas não precisavam mais passar pelo eixo Sul-Sudeste, considerado o pólo musical do país, para fazer sucesso. O ritmo musical foi um marco na cultura baiana e, junto com a expansão do carnaval de Salvador, a maior festa de rua do mundo, cada vez mais esse gênero ganhou importância e revelou bandas e artistas de sucesso.
Margareth Menezes, Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Saulo, Netinho e Claudia Leite são apenas alguns exemplos de como a música baiana, através do Axé, ultrapassou barreiras e se tornou extremamente influente e importante para o país.
A ligação entre o carnaval e o axé
Pagode e sofrência
Ritmo marcante e totalmente com identificado com a cultura baiana o Pagodão - de swinguera ou pagode baiano - é um gênero musical derivado do pagode, ritmo originário do samba no Rio de Janeiro, com fortes influências de Axé Music. Não faltam representantes baianos de sucesso desse ritmo: Harmonia do Samba, Companhia do Pagode, É o Tchan, além das bandas que surgiram após os anos 2000, como o Psirico, Parangolé e Fantasmão.
A nível nacional, o pagode baiano entra em evidência geralmente na época de Carnaval, onde os olhos do Brasil e do mundo estão voltados para a festa de rua que agita Salvador.
Outro fato sobre o pagodão é que muitas das suas músicas causam polêmicas, já que boa parte delas contém letras com frases de duplo sentido fazendo apologia a sexo, violência e até mesmo o uso de drogas.
Música de corno
Ê sofrência! Quem já ouviu essa expressão nas rádios em todo o Brasil? "Hoje eu acordei me veio a falta de você, saudade de você, saudade de você". A música Fui Fiel, do cantor Pablo do Arrocha, é um dos maiores sucessos do ritmo musical.
Nascido na cidade de Candeias, na Bahia, em 2001, o Arrocha traz uma mistura de axé, com forró, seresta e brega.
As músicas quase sempre possuem uma batida parecida e as letras geralmente contam histórias de pessoas que foram traídas ou sentem falta de um antigo amor. Algo que diferencia esse gênero é a simplicidade das produções. Não é preciso uma banda completa, basta um teclado, uma guitarra e um saxofone. Com isso, vários nomes surgiram - a banda Asas Livres, o cantor Júlio Nascimento, pioneiro no gênero, Tayrone Cigano, Nara Costta, Silvanno Salles, entre outros.
Pablo do Arrocha é o nome de maior sucesso a nível nacional.
Foto: Max Haack/Agecom
Playsom
A BaianaSystem mistura vários ritmos em suas canções, conseguindo até ser considerada uma nova vertente da música baiana. Explodindo para o mundo com a música Playsom, que fez parte da trilha sonora do jogo FIFA 2016, a banda também teve importantes participações no Rock in Rio e no Lollapalooza no ano de 2017, assim abrindo as portas para eventos internacionais.
Os integrantes Russo Passapusso, Roberto Barreto, SekoBass e Filipe Cartaxo procuram sempre levar em suas apresentações a cultura nordestina contemporânea.Assinando as composições, Duas Cidades, Frevo Foguete, Da Calçada para o Lobato, Invisível e Lucro, a banda resolveu quebrar paradigmas surgindo este ano com a canção Capim Guiné, com Margareth Menezes e a cantora Transexual Titica, ícone do estilo kuduro em Angola.
O vídeo no YouTube em menos de um mês tem 182 mil visualizações. Já em época de carnaval, o Navio Pirata, seu trio, carrega uma multidão peças ruas da cidade de Salvador. Levando uma mensagem para a população que o antigo carnaval tem que voltar, sem cordas e com fantasias.
Uma marca da BaianaSystem são as máscaras de caretas distribuídas nos shows, criadas pelo integrante Filipe Cartaxo que é responsável pela concepção visual da banda, todas em azul e branco em homenagem a Iemanjá.
Como surgiu a BaianaSystem
Outra questão curiosa sobre a banda são as polêmicas. A primeira foi o não comparecimento no prêmio Multishow, em outubro do ano passado onde conquistou dois troféus.
A mais recente polêmica com a BaianaSystem foi com o Conselho Municipal do Carnaval (Comcar) que, em resposta ao grito de “Fora, Temer” provocado pelo vocalista Russo Passapusso em pleno carnaval 2017, ameaçou retirar a banda do carnaval de 2018.
A agenda da banda é bem recheada de shows pelo Brasil inteiro. A mistura de ritmos e a valorização da Bahia são a mensagem da BaianaSystem.
A crítica fica pela realização de poucas apresentações em sua terra natal.