
As recentes medidas tarifárias anunciadas pelos Estados Unidos podem causar um forte impacto na economia brasileira, especialmente na indústria de transformação e na agropecuária.
De acordo com estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), se as tarifas americanas forem elevadas para até 50% sobre produtos brasileiros, o Brasil poderá perder até R$ 52 bilhões em exportações.
Além disso, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro pode sofrer uma retração de R$ 19,2 bilhões e cerca de 110 mil postos de trabalho devem ser eliminados no país.
A queda do PIB se concentraria principalmente nos seguintes estados:
-- São Paulo: -R$ 4,4 bilhões
-- Rio Grande do Sul: -R$ 1,9 bilhão
-- Paraná: -R$ 1,9 bilhão
-- Santa Catarina: -R$ 1,74 bilhão
-- Minas Gerais: -R$ 1,66 bilhão
Empregos perdidos:
-- 40 mil na agropecuária
-- 31 mil no comércio
-- 26 mil na indústria
As projeções foram feitas a partir da análise de diversos cenários de elevação de tarifas pelos Estados Unidos, que incluem sobretaxas sobre produtos da China, do Brasil e de outros países como Coreia do Sul e Japão.
O estudo revela que os setores mais afetados seriam os industriais e agropecuários, principalmente aqueles altamente dependentes do mercado americano, como a produção de aeronaves, máquinas agrícolas e carne de aves. Nesses segmentos, as exportações poderiam cair mais de 22%, enquanto a produção doméstica teria redução de até 9%.
O impacto se estenderia para todo o território nacional, com os estados mais industrializados liderando as perdas. São Paulo, por exemplo, poderia registrar uma retração de R$ 4,4 bilhões no PIB estadual.
Outros estados com perdas relevantes seriam Rio Grande do Sul (-R$ 1,9 bilhão), Paraná (-R$ 1,9 bilhão), Santa Catarina (-R$ 1,74 bilhão) e Minas Gerais (-R$ 1,66 bilhão).
A relação comercial entre Brasil e Estados Unidos, embora histórica e considerada estratégica, apresenta desequilíbrios. Em 2023, o Brasil aplicou uma tarifa real média de apenas 2,7% sobre produtos americanos, enquanto os EUA mantiveram, ao longo da última década, um superávit expressivo: US$ 43 bilhões em bens e US$ 165 bilhões em serviços. Em 2024, o comércio bilateral de bens totalizou US$ 80,9 bilhões, com leve vantagem americana -- US$ 40,6 bilhões em importações feitas pelo Brasil e US$ 40,3 bilhões em exportações brasileiras para os EUA.
Os Estados Unidos são atualmente o terceiro principal parceiro comercial do Brasil e o principal destino das exportações da indústria de transformação brasileira. Apenas em 2024, 78,2% das exportações industriais brasileiras tiveram os EUA como destino, com destaque para setores como metalurgia, madeira, equipamentos de transporte, máquinas e produtos químicos. Ao todo, os dez principais setores exportadores responderam por 83% da pauta exportadora para o país norte-americano.
Entre os produtos mais vendidos estão óleos brutos de petróleo, produtos semimanufaturados de ferro ou aço, café não torrado, pasta química de madeira, ferro fundido e aviões. Os Estados Unidos são o maior destino de seis dos dez produtos mais exportados pelo Brasil.
A CNI ressalta que as economias brasileira e americana são complementares, com intensa troca de bens intermediários, combustíveis e bens de capital. Em 2024, 54% das exportações brasileiras para os EUA foram compostas por bens intermediários, enquanto 61% das importações provenientes dos EUA pertenciam à mesma categoria. Esse padrão reflete a integração das cadeias produtivas entre os dois países.
Apesar dessa integração, o relatório da CNI alerta para a necessidade de atenção quanto ao desequilíbrio tarifário. A tarifa média consolidada do Brasil na Organização Mundial do Comércio (OMC) é de 12% (sendo 12,5% para a indústria e 9% para a agricultura), enquanto a dos EUA é de apenas 3,3% (3,1% para a indústria e 5% para a agricultura). Esse contraste, segundo a CNI, reforça o caráter desproporcional das barreiras comerciais que podem ser impostas pelos Estados Unidos ao Brasil.
Em meio às tensões comerciais globais e à crescente adoção de políticas protecionistas, o estudo defende a necessidade de ações coordenadas entre o governo brasileiro e o setor privado para proteger a indústria nacional. A entidade sugere a busca de negociações diplomáticas, fortalecimento da presença brasileira em fóruns internacionais e adoção de medidas que preservem a competitividade da produção brasileira.
A CNI conclui que o comércio entre Brasil e Estados Unidos é vital para a sustentabilidade de setores-chave da economia brasileira. Qualquer ruptura ou desestímulo nas trocas comerciais pode representar não apenas uma ameaça econômica imediata, mas também o enfraquecimento de uma relação estratégica de mais de 200 anos.