Vela e Irmã Dulce
  Fé e milagres
  Foto: Morgana Montalvão/LEIAMAISba

O anjo bom
por Morgana Montalvão e Alberto Oliveira.

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Irmã Dulce
Uma santa nascida na Bahia

Em 1949 eles eram 70. Doentes. Moradores de rua.

Para ajudá-los, uma só pessoa. Magrinha (42 quilos e 1,42 metro de altura). Frágil. Sem recursos.

Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes tinha 35 anos e nenhum local para abrigá-los.

10 anos antes ela já havia invadido 5 casas na Ilha do Rato, em Água de Meninos, Salvador, para onde levara doentes recolhidos nas ruas. Foi expulsa e peregrinou com seus enfermos por vários locais da cidade.

Até que conseguiu autorização da madre superiora do Convento Santo Antonio para usar uma construção ao lado: um galinheiro.

67 anos depois aquele galinheiro se transformou no Hospital Santo Antonio, na Avenida Dendezeiros do Bonfim, 161, em Salvador, com uma média de 16,5 mil internações e 10 mil cirurgias anuais, 373 leitos, um Centro de Tratamento Intensivo e atendimento em 17 especialidades, divididas entre as enfermarias de clínicas Médica, de Longa Permanência (crônicos) e Cirúrgica.

E Maria Rita, a Irmã Dulce - Beata Dulce dos Pobres, a Bem-Aventurada Dulce dos Pobres - foi considerada santa pelo Vaticano: a primeira nascida no Brasil.

As galinhas criadas pela madre superiora? Viraram canja para os doentes.

Atendimentos nas Obras Sociais Irmã Dulce

13 de março de 1992. 16h45. O coração de Irmã Dulce parou de bater.

Ela tinha 77 anos e há 2 mal conseguia respirar. 70% de seus pulmões estavam comprometidos.

Um ano antes, no dia 20 de outubro de 1991, recebera a bênção e extrema-unção, das mãos do papa João Paulo II.

Irmã Dulce tinha bronquiectasia, doença degenerativa que danifica as vias aéreas dos pulmões, causa tosse crônica e acúmulo de muco nos brônquios pulmonares.

Ela dormia no máximo 4 horas por dia, em uma cadeira de madeira maciça, o que fez por 30 anos - para pagar uma promessa que fizera pela recuperação de sua irmã, Dulcinha, que, em 1955, deu à luz a Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, sobrinha e atual superintendente das obras sociais. Dulcinha teve uma gravidez de alto risco e poderia morrer.  Irmã Dulce cumpriu a promessa até 1985, quando passou a dormir em uma cama após muita insistência dos médicos.

Seus últimos 16 meses foram de sofrimento, "meses de agonia, meses de Calvário", nas palavras de Dom Murilo Krieger, arcebispo de São Salvador da Bahia, primaz do Brasil.

O corpo de Irmã Dulce foi sepultado na Capela das Relíquias, na Igreja da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, em Salvador e, 8 anos depois, os restos mortais acabaram transferidos para a Capela do Convento Santo Antônio, sede das Obras Sociais Irmã Dulce, onde ficaram até 2011. A partir de então encontram-se no Santuário erguido no local.

Irmã Dulce com os pais e irmãosMaria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes nasceu em 26 de maio de 1914, segunda filha de Dona Dulce Maria de Souza Brito Lopes Pontes e de Augusto Lopes Pontes, dentista e professor da Universidade Federal da Bahia, que nos anos 1920 saía pela cidade atendendo famílias sem condições de pagar um tratamento dentário.

O avô paterno, Manuel Lopes Pontes, nasceu em Santo Amaro em 1845. Político, advogado, professor  e militar, fundou o Colégio Santo Antônio na rua direita de Santo Antônio além do Carmo e foi um dos idealizadores do "Monumento aos Heróis do 2 de julho" sendo o tesoureiro da obra, em 1895. Ele também comandou o 5º Batalhão de Infantaria da Guarda Nacional, em 1897, no governo Luiz Viana, época da Guerra de Canudos.

Ladeira da Independência, 61, no bairro de Nazaré. Era ali que morava a menina Maria Rita.

Irmã Dulce aos 13 anosFoi naquela casa que decidiu se dedicar à vida religiosa, quando tinha apenas 13 anos, depois de visitar áreas carentes de Salvador, acompanhada por um tia. Mas era jovem demais e por esse motivo acabou recusada pelo Convento de Santa Clara do Desterro.

As imagens de fome e pobreza presenciadas por ela nunca foram esquecidas. E na casa de número 61 a menina de 13 anos começou a receber pessoas necessitadas, com o apoio da irmã Dulcinha. Logo eram tantos mendigos, moradores de rua e abandonados que a casa da Ladeira da Independência ficou conhecida como "a portaria de São Francisco".

Mas 6 anos antes ela já pedia farinha à mãe, para entregar aos garotos pobres de Água de Meninos.

Dulce Maria, mãe de Irmã Dulce, morreu aos 26 anos de idade. A menina Maria Dulce tinha 7 anos. Um ano depois fez a Primeira Comunhão, na Igreja de Santo Antônio Além do Carmo, junto com os irmãos Augusto e Dulcinha.

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Atendimentos na Osid
  Ladeira da Independência, 61
  O início da santidade

O amor e seus sonhos são a única porta para a eternidade
-- Irmã Dulce --

Maria Rita teve que esperar até 8 de fevereiro de 1933, dois meses após receber o diploma de professora pela Escola Normal da Bahia, para ser aceita no Convento de São Francisco, na cidade de São Cristóvão, em Sergipe, pela Congregação da Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, primeira casa de formação desta congregação no Nordeste.

Tinha 19 anos.

Convento de São Francisco
Irmã Dulce aos 19 anos, na Igreja e Convento de São Francisco, em São Cristóvão, Sergipe

Ficava para trás a garotinha que brincava de guerra de mamona com os irmãos, empinava pipa, andava de bonde e fazia bordados. A menina que brincava na rua, sabia tocar acordeon e adorava futebol, a torcedora do Esporte Clube Ypiranga - time formado por operários -, que ia a todas partidas do clube do coração, com o pai e os irmãos, e vibrava a cada gol marcado (um tio seu dizia que ela nascera "no corpo errado”, tamanha era a sua paixão pelo esporte).

Mas continuava com ela a boneca Celica, que ganhara aos 4 anos, e que nas tardes de domingo emprestava às noviças do convento em São Cristõvão, cidade histórica a 22 quilômetros de Aracaju.

"Ela comia pouco, como um passarinho, em um pires", contava a Irmã Maria das Neves. "E só após se certificar que as outras irmãs estavam se alimentando corretamente."

13 de agosto de 1933.  Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes recebia o hábito e passava a usar o nome de Irmã Dulce, uma homenagem à mãe.

Irmã Dulce consola um doente
Irmã Dulce consola um doente, em Salvador

Anjo dos Alagados

15 de agosto de 1934. Irmã Dulce volta a Salvador, em companhia das Irmãs Tabita e Capertana, para trabalhar na abertura do Hospital Espanhol, no bairro da Barra, desempenhando funções de enfermeira, sacristã, porteira e responsável pelo raio X. Ela também recebeu a tarefa de ser professora de Geografia e História no Colégio Santa Bernadete, no Largo da Madragoa, na Cidade Baixa.

Em 1935,  surgia em Salvador a comunidade de Alagados, conjunto de palafitas na parte interna da Península de Itapagipe, sobre a Enseada dos Cabritos. A comunidade era formada por operários que trabalhavam nas antigas fábricas espalhadas pela península.

As casas, barracos de madeira construídos sobre estacas fincadas em mangues e ligadas por pequenas passarelas de tábuas "pairavam" sobre um mar de fezes e garrafas de plástico; os moradores conviviam com o cheiro forte de esgoto e as doenças surgidas da falta de saneamento básico.

A área chegou a ter 3,5 mil palafitas e cerca de 100 mil habitantes, só começando a ser erradicada na década de 80.

No mesmo ano Irmã Dulce criou um posto médico juntamente com o Dr. Bernadino Nogueira para atender operários da comunidade. A imprensa da época começava a chamá-la de “Anjo dos Alagados”.

"Ela limpava feridas, dava cobertor aos que tinham frio, dava medicamentos, cortava os cabelos destas pessoas, alimentava os que tinham fome e se aproximava daqueles em que ninguém ousava tocar", lembra Osvaldo Gouveia, assessor de Memória e Cultura das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid).  O ex-professor de Museologia  da Universidade Federal da Bahia (UFBa) chegou às obras em 30 de maio de 1993, para ficar 3 meses como auxiliar na fundação do memorial dedicado a contar a vida de Irmã Dulce. O que era para durar um trimestre perdura por 26 anos.

Gouveia é conhecido como ‘a bíblia humana da trajetória de Irmã Dulce’, tamanha a sua dedicação e conhecimento sobre a vida da  freira.

Irmã Dulce com crianças no bairro dos Alagados
  Um anjo nos Alagados
  Foto: OSID

Uma cusparada

Irmã Dulce evitava envolvimento com política. “Ela sempre afirmou que o partido dela eram os pobres, era a pobreza. Nunca vi a imagem de Irmã Dulce em um santinho de um político e olhe que diversos deles vieram atrás dela para garantir votos; queriam ter a figura dela veiculada a eles e ela sempre foi muito categórica quanto a isso, sempre dizia não", diz Osvaldo Gouveia.

A freira baiana era insistente ao pedir dinheiro para a organização. Uma vez, recebeu uma cusparada de um feirante na Feira de São Joaquim, na mão que estendera. Enxugou-a no hábito e estendeu a outra, gesto acompanhado da frase humilde, o perdão em cada palavra: "Isso foi para mim. E o que você tem para ajudar os meus pobres?".

“Ela não aceitava um não como resposta, porque sabia que a negativa não era para ela, mas para os pobres, para os miseráveis", explica o assessor de Memória e Cultura da Osid.

O tamanho da obra deixada por Irmã Dulce pode ser medido em números:
-- 3,5 milhões de procedimentos ambulatoriais realizados por ano na Bahia, sendo 2,2 somente em salvador
-- 2 mil pessoas atendidas diariamente na sede das Obras, em Salvador
-- 954 leitos para o atendimento de patologias clínicas e cirúrgicas
-- 18 mil internamentos e 12 mil cirurgias realizadas anualmente em Salvador
-- Mais de 11,5 mil  atendimentos por mês para tratamento do câncer
-- 150 bebês com microcefalia são acompanhados hoje na OSID
-- 787 crianças e adolescentes, em situação de vulnerabilidade social, atendidos no Centro Educacional Santo Antônio
-- 1,7 milhão de refeições servidas por ano para nossos pacientes e 537 mil para nossos colaboradores
-- Mais de 4,3 mil profissionais atuam na organização, sendo mais de 2 mil no complexo das Obras

A entidade filantrópica abriga um dos maiores complexos de saúde 100% SUS do país, com atendimentos ambulatoriais a idosos, pessoas com deficiência e com deformidades craniofaciais, moradores de rua, usuários de substâncias psicoativas e crianças e adolescentes em situação de risco social.

Também conhecida como Complexo Roma, a sede das Obras em Salvador abriga, em seus 40 mil metros quadrados de área construída, 20 dos 21 núcleos da entidade, incluindo 954 leitos hospitalares para o atendimento de patologias clínicas e cirúrgicas.

Desses núcleos, 19 apresentam atuação no campo da Saúde, a exemplo do Hospital Santo Antônio, Centro Geriátrico, Hospital da Criança, Unidade de Alta Complexidade em Oncologia, Centro de Acolhimento à Pessoa com Deficiência e Centro Especializado em Reabilitação e do Centro de Acolhimento e Tratamento de Alcoolistas.

Somente no Complexo Roma são contabilizados por ano cerca de 2 milhões de atendimentos ambulatoriais – metade do volume alcançado por toda a organização no estado.

Ainda na sede das Obras Sociais, local que atende diariamente cerca de 2 mil pessoas, são realizadas por ano 12 mil cirurgias, além de 18 mil internamentos. Atualmente, mais de 4 mil profissionais trabalham na organização, sendo mais de 2 mil funcionários somente no complexo da capital baiana, local onde atuam ainda 320 médicos e 125 voluntários.

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Obras Sociais Irmã Dulce
  Obras Sociais Irmã Dulce
  Foto: Morgana Montalvão/LEIAMAISba

O importante é fazer a caridade, não falar de caridade
-- Irmã Dulce --

1 de julho de 2019, segunda-feira, 10h. Na Sala Clementina do Palácio Apostólico Vaticano, em Roma, o papa Francisco presidirá a celebração da Terceira Hora e o Consistório Ordinário Público para a Canonização da Bem-Aventurada Dulce dos Pobres.

No dia 13 de outubro Irmã Dulce - Santa Dulce dos Pobres - tornou-se uma santa canonizada, aquela sobre quem o Papa, baseado em depoimentos, declara oficialmente que está no céu e pode ser venerada publicamente.

No vídeo
Em Salvador, no Santuário Irmã Dulce, o momento em que a canonização é concluída

Santo não canonizado é aquele que se considera estar no céu mas sobre o qual não houve qualquer pronunciamento oficial do Vaticano.

Canonizar é colocar o nome no cânone (lista) dos santos, uma exclusividade do Papa por decisão de Gregório IX em 1234.

As normas encontram-se na constituição apostólica Divinus perfectionis Magister (25 de Janeiro de 1983) de João Paulo II, e fazem parte das resoluções traçadas pela Congregação para as Causas dos Santos.

As 15 etapas de uma canonização

1. Fiel católico morre com fama de santo ou mártir
2. Um bispo diocesano investiga sua autenticidade
3. Um bispo dá início à causa de beatificação
4. A Conferência Episcopal apoia o início da causa
5. Tem início o processo no Vaticano
6. O candidato a beato ganha o título de Servo de Deus
7. Comissões de especialistas examinam a causa
8. O Vaticano reconhece virtudes heroicas do Servo
9. O Servo ganha o título de Venerável
10. Uma intercessão por um milagre é comprovada
11. Parecer é encaminhado ao Papa
12. O Papa beatifica o Venerável, que ganha o título de Beato
13. Uma intercessão por um segundo milagre é comprovada
14. O Papa canoniza o Beato
15. O Beato ganha o título de Santo

Túmulo de Irmã Dulce
  Sepulcro onde estão os restos mortais de Irmã Dulce
  Foto: Morgana Montalvão/LEIAMAISba

Os "miraculados"

O primeiro milagre - Claudia Cristina dos Santos tem hoje 41 anos e mora na cidade de Malhador, em Sergipe, a 52 quilômetros da capital Aracaju. Ela é “miraculada” (nome dado à pessoa que recebe um milagre).

No dia 10 de janeiro de 2001, sofrendo de forte hemorragia após dar à luz seu segundo filho, Gabriel, Claudia Cristina estava desenganada pelos médicos.

3 cirurgias, em 18 horas, foram incapazes de estancar o sangramento.

Chamado para ministrar a extrema-unção, o padre José Almir de Menezes perguntou a Claudia Cristina se ela acreditava que poderia ser salva por uma intercessão de Irmã Dulce. Ela disse que sim.

Ao chegar em casa o padre foi avisado de que a hemorragia havia parado. 3 dias depois Claudia recebia alta do hospital.

10 peritos brasileiros e 6 italianos examinaram o caso. Nenhum deles conseguiu uma explicação científica para a melhora.

O segundo milagre - Maurício Moreira, de 50 anos (ele é de Salvador e mora em Recife) estava cego há 14 anos, por causa de um glaucoma que se manifestou em outubro de 1999, quando ele tinha 23 anos.

No réveillon daquele ano já não enxergava.

Após 14 anos de cegueira, contraiu uma conjuntivite viral, acompanhada de dores muito fortes. A mãe dele tinha uma pequena imagem de Irmã Dulce e uma noite ele rezou para a freira baiana.

"Eu pedi apenas que ela aliviasse as dores, mas quando acordei no dia seguinte percebi que estava começando a enxergar de novo", disse Maurício Moreira, em Salvador, durante o anúncio da data de canonização.

Ele foi aos médicos para saber que havia acontecido e todos disseram não haver uma explicação científica.

Desde 2014 uma junta médica e especialistas estavam analisando o caso, em segredo, mas nenhum deles foi capaz de explicar como ele consegue ver nitidamente, apesar das lesões que continuam em seus olhos.

Oração à Bem-Aventurada Dulce dos Pobres

Senhor nosso Deus
Recordando a Vossa Serva Dulce Lopes Pontes,
Ardente de amor por Vós e pelos irmãos,
Nós Vos agradecemos pelo seu serviço a favor
Dos pobres e dos excluídos.
Renovai-nos na fé e na caridade
E concedei-nos a seu exemplo
Vivermos a comunhão
Com simplicidade e humildade,
Guiados pela doçura do Espírito de Cristo,
Bendito nos séculos dos séculos.
Amém.

Partitura

Uma ópera para o Anjo Bom da Bahia

O maestro e pianista baiano Roberto Laborda, que compôs a ópera - executada no dia 12 de outubro na Sala Palestrina, no Palazzo Pamphilj, atual sede da Embaixada Brasileira, em Roma, como parte da celebração da canonização da freira -, mora em Barcelona. 

A obra tem dois atos e dura uma hora e 40 minutos. "No primeiro ato foca na criação das Obras Sociais e, no segundo ato, mais na doença de Irmã Dulce, quando ela começa a ter problemas respiratórios. E depois com a morte dela. A obra termina com a Ave Dulce, que é oração a Deus, um pedido para que receba ela no céu", explica o maestro. 

No vídeo, trecho da obra ("Ave Dulce"), na voz da soprano Angela Laborda

O que ela canta:

Dorme irmã, pra sempre viverás
O Senhor as sombras afastou
Querubins dos céus virão a ti
Pra brincar em sonhos lindos
De mãos dadas, corações a rezar
Do teu leito ao Bomfim irão chegar
Cerra os olhos, esquece a escuridão
Tua fé é salvação, tua força exaltação
Tu és rochedo em tempestade
Um raio na escuridão
A flor que nasce em todo peito
Amor que nina o coração
Tu és o sol da terra negra
A água que irriga o sertão
Luar no coração da terra
A paz e a fé do teu povão
Amém

A história contada na ópera tem 4 personagens principais: Irmã Dulce, um barão proprietário da casa da Ilha dos Ratos onde Irmã Dulce recolheu seus primeiros pacientes, uma moradora de rua chamada "Gabriela" e o médico Julio Davi, que ajudava a freira com os doentes. 

"Acontece uma história de amor entre a moradora de rua e o fictício dono da casa da Ilha dos Ratos. Quis mostrar como ela foi um elemento de coesão social, em uma época de tanta desigualdade", diz o maestro.

Ouça, agora, o Entreato "O Anjo de Luz", da ópera para Irmã Dulce
Compositor: Roberto Laborda
Barcelona Metropolitan Orchestra

Ouça "O Último Adeus" (Interlúdio) da Ópera

Aprenda a tocar "Ave Dulce" no piano

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Trecho de jornal antigo
  Uma das primeiras reportagens sobre Irmã Dulce

Eu entrevistei uma santa
Depoimentos de jornalistas

De chico araújo

Minha geração no Jornalismo teve a oportunidade de conviver, conhecer e até entrevistar Irmã Dulce. Eu, repórter iniciante, já era pautado para ir às Obras Sociais, no bairro de Roma, para acompanhar eventos e às vezes, entrevistá-la, pessoalmente.

Antes de falar da minha experiência em bate-papo com uma santa, vou lembrar de quando meu pai a conheceu. Sempre disposta a garantir o sustento das suas crianças, seus pobres, idosos e pacientes, Irmã Dulce, pessoalmente, ia à feira pedir mantimentos. Meu velho, feirante, lembrou certa vez de como a freira, acompanhada de crianças, velhos e religiosos, ia à Feira de São Joaquim pedir o apoio diretamente, sem medo, preconceito, ou vergonha... E todos doavam o mínimo que fosse, em feijão, farinha ou dinheiro.

Já ouvi de muitos reclamarem que a freira se aproximava de quem quer que fosse que pudesse ajudar. Fez isso com políticos de todas as estirpes, banqueiros, empresários. Independente da militância política, da fama, do poder econômico, o importante era o seu objetivo humanitário, a escolha de uma vida.

Devo ter entrevistado a Irmã em três oportunidades (não consigo fixar bem), mas uma delas posso considerar ter sido “meu dia com a santa”. Procurei-a nas Obras Sociais. Acho que tinha ligado antes para saber se ela atenderia, mas sabia que ela sempre se mostrava disposta a falar com a imprensa (ela, como ninguém, sabia a importância de divulgar sua obra, não como vaidade, mas pela necessidade de manter a chama sempre acesa).

- Irmã, podemos conversar um pouco?
- Meu filho, estou muito ocupada, mas se você me acompanhar, vamos conversando.
- Claro, Irmã!

E a segui em atendimento a crianças desnutridas, jovens e adultos com necessidades especiais, doentes, pacientes em estado grave, idosos que vinham abraçá-la a todo momento, agradecer, pedir, orar... Juro que rodar horas pelo antigo Hospital Santo Antônio acompanhando a freirinha me cansou fisicamente. Ela sequer demonstrava o mínimo sinal de cansaço. Franzina, já arqueada (e seus últimos dias foram dormindo sentada), certamente se alimentava do amor gerado por sua bondade.

A todos atendia sem pestanejar, sem se impressionar com ferimentos, aparência, gênero, raça, ou militância política.Sinto não ter tirado uma foto ao lado dela. Na época, não se pensava em selfie.

Já me perguntaram se a achava santa, ou qual o significado de ser santo. Respondo: não sei. Sei que ela era santa e era ela o único significado da palavra “santa” que conheço.

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de cristina barude

No vídeo, a jornalista fala sobre a emoção de entrevistar Irmã Dulce.

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DE HELÔ SAMPAIO

Quando eu, tabaroa de Ibicaraí, passei no vestibular e resolvi que vinha para a capital para fazer a faculdade de Comunicação, tive que largar o meu trabalho como secretária do Centro Educacional de Ibicaraí – que eu amava e onde também era amada pelos aluninhos – arrumar as malas e partir para a vida. Era uma mudança profunda, radical, pois eu tinha pouco conhecimento da capital e raros conhecidos.

Mas logo me adaptei, fiz muitos amigos, e fui bem na faculdade tanto que, um belo dia, meu professor Fernando Rocha me levou para estagiar no jornal A Tarde, onde entrei no dia 5 de julho de 1972, o dia da volta da Cabocla, e lá fiquei por 35 anos. Feliz e contente. Como ‘foca’, fazia pequenas matérias. Já profissional, tive que encarar umas ‘paradas duras’ pois levei um tempo cobrindo ‘polícia’.

Quando fui pra reportagem geral, fui pautada para uma matéria em Simões Filho, numa instituição, o Orfanato Santo Antonio, onde uma freirinha amadinha e audaciosa recolhia os meninos da rua, dava educação, comida, e dava rumo para a vida dessas crianças. Lá cheguei e logo fiz amizade com João Dias que gerenciava a instituição e que era muito querido pelos meninos. Por esta matéria, conheci Irmã Dulce, nossa doce freirinha e sua história de vida.

Irmã Dulce, madrinha de casamentoToda vez que ela ia ao jornal falar com Dr. Jorge Calmon, ao aparecer no corredor eu corria para recebê-la, abraçá-la e beijá-la. E ela morria de vergonha. “Helô, he-he, obrigada, Helô”. Ficava com os olhos baixos, sem saber o que fazer com esta jornalista assanhada que tanto a bajulava. Eu a levava ao gabinete do Dr. Jorge, depois de muitos beijos e mais vergonha.

Mas passei também a frequentar a casa de João Dias, em Plataforma, onde a irmãzinha ia, de vez em quando. João era o braço forte da Irmã. Ela foi a madrinha do casamento dele e ele gerenciava com ternura a vida dos garotos. Pela manhã, após o café, os garotos iam para a horta, onde aprendiam a plantar e cultivar os alimentos. Merendavam às 10h, e iam fazer banca. Depois tomar banho, almoçar que o turno da tarde era para as aulas, inclusive de datilografia.

Tinha um detalhe: os que tinham melhor aproveitamento na semana iam passar o fim de semana com a família de João, brincar com os seus filhos, enfim, era como um prêmio. E os meninos disputavam o privilégio. Conheci muitos deles lá na casa do João e reencontrei alguns deles no sepultamento de João. Reconheci o Wesley, que sempre ia lá em Plataforma. Os garotos são agora médicos, engenheiros, professores, profissionais qualificados que lembram e agradecem o apoio e falam do carinho e cuidado da Irmã Dulce e de João.

Essa instituição ocupava um lugar especial no coração da Irmã. Quando ela ia a Simões Filho, conversava com os garotos, colocava no colo, procurava saber como iam, se estavam indo bem nos estudos, enfim, queria noticia de todos. Uma santa, humana e divina, uma luz de bondade na Bahia.

Agradeço a Deus todos os dias ter tido o privilégio de abraçá-la, beijá-la, de ter podido conviver com a Santa Dulce dos Pobres.

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De Raimundo Machado

O ano era 1989, durante a visita do então candidato à Presidência da República Afif Domingos.

Fazia a cobertura do evento para A Tarde, como integrante da Editoria de Política do jornal.

Retornamos do aeroporto e Afif demonstrou desejo de rever Irmã Dulce. Rumamos para o Hospital Santo Antônio. No trajeto Afif e comitiva pararam na Associação Comercial e eu segui, no carro do jornal e com o fotógrafo Arlindo Félix, para o Hospital. Fomos recebidos por Irmã Dulce, a quem já conhecia e costumava cumprimentar quando nos encontrávamos pelas ruas de Salvador, ela sempre acolhendo os desvalidos e em busca de auxílio para alimentá-los e comprar medicações. Ela já tinha sido avisada da visita do candidato e se mostrava incomodada com algo. Respeitei e não a inqueri do que se tratava.

Foi quando D. Dulcinha resolveu dizer o que se passava e, emocionado ouvi: Irmã Dulce está com um problema, meu filho, e você podia nos ajudar. De logo prontifiquei-me e me emocionei às lágrimas quando D Dulcinha narrou o problema: Afif Domingos tinha doado há meses uma vaca mecânica (máquina de extrair leite da soja) para o Hospital. "O problema é que não encontramos técnico para montá-la e Irmã Dulce está com vergonha de pedir isso ao Dr. Afif. Você podia fazer isso, meu filho?"

Emocionado com a humildade do Anjo Bom da Bahia, prometi fazê-lo. Mas a maior emoção estava por vir com a chegada do candidato e sua comitiva, à qual se integrava sua esposa. Com um véu cobrindo a cabeça e em prantos ela se dirigiu a Irmã Dulce para beijar-lhe as mãos, sendo acolhida carinhosamente e com um abraço pela freira.

Raimundo Machado e Irmã Dulce
O jornalista Raimundo Machado ao lado de Irmã Dulce

Foi só emoção, cujo ápice foi quando cumpri o que prometera, traduzindo o desejo da Irmã e o seu humilde embaraço. Foram só lágrimas dos presentes e a promessa de Afif em encaminhar um técnico para montar a máquina, "que.muito vai ajudar os meus doentes" , conforme ela adiantou, com a voz quase inaudível de quem dispunha de 30% da capacidade pulmonar.

Narro, ainda emocionado, essa ocorrência, uma das mais belas de toda minha carreira jornalística, para fazer um pedido a todos os que lerem: pelo menos no dia 12 de outubro, dia em que o Papa vai canonizar a Santa Dulce dos Pobres, vamos olhar e acolher, através de algum tipo de ajuda, um dos nossos irmãos menos favorecidos, na certeza de que assim o fazendo estamos tornando a nossa Irmã Dulce mais feliz, auxiliando-a no trabalho que continua a fazer, agora bem mais perto de DEUS e ainda sob a luz do Mestre JESUS.

Vou além: espero que esse tipo de ajuda aos nossos irmãos menos favorecidos se torne um hábito em nossas vidas, pois assim o fazendo estamos contribuindo também para a mudança, para melhor, da psicosfera do nosso belo Planeta TERRA.

***

de duda tawil

Era um dia de agosto de 1984, um mês antes de eu decidir a vir morar na França. Na redação de A TARDE, soube que naqueles dias estava sendo organizada uma missa na Conceição da Praia pelos 50 anos de ordenação da freira Irmã Dulce. Sempre fui fã do nosso Anjo Bom da Bahia, tendo feito várias matérias sobre ela e sua OSID, no bairro de Roma, e então pedi ao nosso redator-chefe e inesquecível mestre, Dr. Jorge Calmon, para cobrir o evento, e assim recebi a pauta, a ordem de reportagem.

Início de noite, a basílica da Cidade Baixa lotada, a mais animada era Dona Dulcinha, a melhor amiga e sem dúvida a maior fã da irmã...a Irmã Dulce. Ela ia e vinha, sem parar, entre o altar onde estavam as personalidades convidadas e a porta da igreja. Não existia celular para orientar as coisas. Nos meus 23 anos de idade, e sem querer perder nada, eu ficava atrás dela, que já me conhecia, e fui até a porta. De repente, e na maior simplicidade, Irmã Dulce desceu de um carro, ou de um táxi, não lembro, estava um pouquinho atrasada.

Ao entrar no templo, todo mundo de pé a ovacionar aquela magrinha, "pequena e tão gigante" freirinha, como na música deste ano para sua canonização, em breve no Vaticano. Passava ali diante de todos, na ala central, uma futura santa, sim, na convicção de todas e todos que foram rezar por ela naquele instante. A música e os cânticos preenchiam de pura fé o ambiente. Perto do altar, ao vê-la passar tímida e cabisbaixa, na sua grandeza, como se a homenageada não fosse ela,  frente a frente colocados, arqui-inimigos da política e da economia da Bahia, que prefiro não citar, poderosos, chorando como crianças, certamente a medir suas mesquinharias diante de um ser de luz, de enorme força, mais justa e mais competente do que eles no trato à população pobre, carente, esquecida, sofrida, "os que não têm voz". Eu não sabia se anotava no papel timbrado do jornal tudo o que via, ou se parava para enxugar minhas lágrimas, junto com todos no mesmo estado. A missa linda, inesquecível, emocionante é pouco, e no final ela voltou ao seu ninho, no Largo de Roma.

Alguns  anos haviam passado, e eu estava de passagem por Salvador, na década de 90, sempre como colaborador do jornal. Li na bem informada coluna da jornalista July, Julieta Isensée, que o fabuloso Dr. Jorge ia fazer uma palestra sobre Irmã Dulce, que já tinha nos deixado, na Academia de Letras da Bahia, em Nazaré, casa da qual ele já tinha sido presidente e era membro. (Abro um grande parêntese para dizer que há poucos anos, eu estava presente na inauguração do busto de Dr. Jorge nos jardins da ALB, com apresentação do seu substituto em A TARDE, o saudoso e querido professor Edivaldo M. Boaventura, então presidente da academia, e com discurso ao homenageado proferido pelo jornalista e também  acadêmico Samuel Celestino, que continha ao máximo sua emoção, e que considera nos seus escritos e nas suas falas Jorge Calmon Moniz de Bittencourt  como o maior jornalista baiano do Séc. XX).

Desta palestra, muito mais do que o conhecido lado generoso e supra-humano de Irmã Dulce, o que mais me marcou foi a ênfase que dava Dr. Jorge ao talento de grande administradora que tinha a religiosa: de como gerenciava, além do amor, com muita maestria sua magnânima obra fundada em 1959. O próprio Dr. Jorge assim sublinhava, impressionado, esta outra faceta do Anjo Bom da Bahia, lado este que fez questão de ressaltar na sua palestra. Ele, em outras palavras, era um grande admirador dela, e salvo engano, fazia parte do conselho da OSID, ou era ligado às obras, de alguma forma.

Pois minha materinha sobre aquela noite de agosto de 1984 deve certamente constar dos arquivos do Cedoc -Centro de Documentação de A TARDE, e aproveito para mandar um abraço para Rubem e sobretudo para Valdir, pois era meu contemporâneo no início dos anos 80, naquela querida redação. Mando lembranças também para Renato, se mantiverem contato com o ex-arquivista. Parabéns a vocês dois por este trabalho sobre a memória da Bahia, e principalmente, claro, pela memória escrita nas páginas de A TARDE, durante décadas, sobre nossa santa baiana, Santa Dulce dos Pobres.

Viva nas alturas a nossa eterna Irmã Dulce!

Sim, eu também conheci bem de perto uma santa.

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de ana valÉria

No vídeo, a jornalista fala sobre seus encontros com Irmã Dulce

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de suely temporal

Fiz muitos plantões na porta do Hospital Santo Antônio todas as vezes em que o estado de saúde de Irmã Dulce se agravava. Mas ela sempre melhorava e eu voltava para a redação agradecida por não ter que fazer aquela reportagem.

Também acompanhei alguns momentos dela em inaugurações e diversas expansões de alas e serviços do hospital Santo Antônio.

Irmã Dulce sempre me emocionou. A presença dela me dava vontade de chorar. Não sabia o porquê. Achava que era inadequado para uma repórter experiente chorar assim à toa. E me reprimia.

Hoje eu sei. Estava na presença de uma santa! Diante da Sua canonização declarada hoje pelo Santo Padre Papa Francisco, tudo faz sentido.

Como pessoa católica praticante que sou, sei que a Igreja não “fabrica” santos, ela apenas os declara.

O exemplo de Irmã Dulce, hoje declarada oficialmente Santa, nos mostra a santidade atual. Nos diz que é possível sermos Santos nos dias de hoje. Vamos tentar?

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DE NÁDYA RISOCELLY

Não consigo lembrar quantas vezes entrevistei Irmã Dulce, quantas vezes fui a seu hospital, quantas vezes a vi sentada na sua “cadeira e cama”, com dificuldade para respirar, em meio a uma crise.

Só sei que aquela freirinha franzina, de passos lentos, olhar doce, no fundo triste, mas forte e direto, às vezes desconfiado, mandava seu recado, exigindo ajuda para seus pobres, com sua voz frágil que a gente mal conseguia ouvir, mas que tinha um tom“imperativo doce” , e que era recebida como se fosse uma ordem pelos que a ajudaram a construir e manter suas obras.

Ela nasceu com o dom do “poder” , tinha um poder divino, que tocava e fazia acontecer. Poder de amar, sonhar, realizar, ajudar, acolher, abri mão de sua vida pra viver a vida de milhares de doentes e desvalidos.Um poder que simplesmente
existia naquele ser especial.

A passagem do tempo nos trai e nos faz esquecer alguns detalhes, palavras, mas a gente não esquece o ato em si. Não lembro o motivo, mas acredito que tenha sido em uma visita do Presidente Sarney e queriam que ela o recebesse. Não lembro as palavras mas lembro o que ela queria dizer, e me marcou pela postura, ousadia, e o motivo que faria Irmã Dulce participar do “circo”, a justificativa dela para recebê-lo. Como sempre ela precisava do dinheiro para construir e manter suas obras, e ela queria claramente saber se ele ia ajudar. Ela era direta nesta hora, tipo: Vai me dar o dinheiro pra minha obra? Então recebo...

Se não me engano foi na época da construção da passarela ou foi na inauguração da passarela... não lembro bem, mas era assim que ela agia.

Ela sempre estava em busca de doações para ajudar seus pobres e não tinha vergonha de pedir. Graças a sua coragem e determinação, ela conseguiu.

Acredito que Irmã Dulce já nasceu santa, com certeza sem nenhuma pretensão de ser, mas seus doentes e desvalidos sempre souberam, talvez por isso todos corriam para seus braços nos momentos difíceis, que nem sempre era um problema de saúde.

Eu tive a oportunidade de ver de perto a obra de Irmã Dulce, via que tinha uma grandiosidade, mas confesso que não entendia muito como alguém se dedicava tanto àquelas pessoas, sem temer doenças, o estado que chegavam lá, tocando em suas feridas, passando as mãos em suas cabeças. Irmã Dulce não cuidava apenas das feridas, cuidava das necessidades da alma.

Há um momento que não esqueço por ter sido muito pessoal. Em um dos plantões no Hospital Português, quando todos esperavam que ela fosse partir, sentada em uma cadeira, conversei com Deus. E lembro que perguntei como podia um ser bondoso, que ajudava a tanta gente partir tão cedo, e tanta gente que não fazia nada continuava vivo? Não entendia aquilo. Como ainda não entendo até hoje muitas partidas, que considero cedo demais de pessoas especiais.

Como eu, milhares de pessoas deviam estar pedindo por sua recuperação naquela noite, gente com muito crédito lá em cima.

Com certeza, Deus ouviu nossas preces: Irmã Dulce voltou pra casa, depois de mais uma crise grave. Não foi daquela vez.

Recebi uma ligação de uma amiga outro dia, me perguntando se eu tinha me tocado que conheci uma santa? Respondi que sabia há muito tempo.

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DE CASEMIRO NETO

No vídeo, o jornalista fala sobre a emoção de ter falado com Irmã Dulce


..:: Irmã Dulce, a santa brasileira ::..
Uma reportagem especial do LEIAMAISba

por Morgana Montalvão e Alberto Oliveira