O número de empregos eliminados tende a superar, inicialmente, o de vagas criadas
Ilustração: Google FX AI
O avanço acelerado da Inteligência Artificial (IA) tem provocado debates profundos sobre o futuro do mercado de trabalho global.
De um lado, vislumbra-se a promessa de aumento de produtividade, inovação e novas profissões; de outro, cresce o temor de desemprego em massa, agravamento das desigualdades e obsolescência de ocupações tradicionais.
Relatórios do Fórum Econômico Mundial (WEF), como o "Future of Jobs Report 2023" ["Relatório sobre o futuro do trabalho", em tradução livre], estimam que 23% dos empregos globais podem mudar até 2027 devido à automação e à IA. Ao mesmo tempo, o relatório, de 296 páginas, aponta para a criação de 69 milhões de novas vagas e a extinção de cerca de 83 milhões de postos de trabalho, especialmente aqueles que envolvem tarefas repetitivas ou administrativas.
Empregos extintos (83 milhões): 55%
Fonte: World Economic Forum (2023)
A projeção indica que o número de empregos eliminados tende a superar, ao menos inicialmente, o número de empregos criados, evidenciando o desafio de adaptação do mercado.
No Brasil, o estudo "O Futuro do Trabalho no Brasil" (OCDE, 2022) sugere que até 60% das ocupações formais podem sofrer algum nível de automação, afetando principalmente setores como transporte, indústria e serviços administrativos. Entretanto, o país também enfrenta o desafio da baixa qualificação da mão de obra, o que pode limitar a capacidade de absorção de novas funções tecnológicas.
É inegável o aumento de produtividade com o uso correto das inteligências artificiais generativas. É o que aponta, por exemplo, relatório McKinsey (2023), calculando que podem ser adicionados entre US$ 2,6 trilhões e US$ 4,4 trilhões anuais à economia global, com ganhos significativos em setores como saúde, finanças e tecnologia.
Além disso, a IA impulsiona a criação de novas funções -- especialistas em IA, engenheiros de dados, desenvolvedores de algoritmos -- e cargos híbridos que combinam tecnologia e competências humanas (como a criatividade e a empatia). Também surgem demandas por profissionais em áreas de ética, regulação e segurança de dados, reforçando o papel da inteligência emocional e pensamento crítico como diferenciais humanos frente às máquinas.
Mas é igualmente importante o desemprego tecnológico provocado pela IA no mercado de trabalho, afetando, sobretudo, profissionais de baixa qualificação e atividades rotineiras.
Estudo da PwC (2023) prevê que 30% dos empregos atuais em economias desenvolvidas podem ser automatizados até 2030, com maior risco em setores como atendimento ao cliente, logística e manufatura.
Além disso, a IA pode agravar desigualdades regionais e sociais, beneficiando trabalhadores altamente qualificados e empresas com acesso a tecnologia, enquanto amplia a exclusão de grupos menos preparados.
É um panorama que reforça a necessidade de políticas públicas proativas, como defendem organismos internacionais, caso da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
No mesmo sentido, economistas como Daron Acemoglu (MIT) alertam para o "viés pró-automação" das empresas, que poderia levar a uma substituição excessiva de humanos por máquinas, sem a correspondente criação de novas funções. Por outro lado, pensadores otimistas, como Erik Brynjolfsson (Stanford), acreditam que a IA, se bem gerida, pode libertar o potencial humano para atividades criativas e de alto valor agregado, em vez de apenas eliminar postos de trabalho.
O uso crescente da Inteligência Artificial representa simultaneamente uma ameaça e uma oportunidade para o mercado de trabalho. O saldo final dependerá da forma como governos, empresas e a sociedade civil atuarem para moldar essa transição.
É preciso um investimento massivo em educação e requalificação profissional, especialmente em competências digitais, criatividade, pensamento crítico e resolução de problemas.
É imperiosa a adoção de políticas públicas para proteção social, que amparem os trabalhadores impactados pela automação, evitando o aumento da desigualdade, ao mesmo tempo promovendo a inovação social, com estímulo a novos modelos de trabalho e de negócios.
Em última instância, a questão fundamental não é se a IA substituirá empregos, mas como a sociedade se preparará para lidar com essas transformações. Negligenciar esse debate é abrir mão de conduzir o próprio futuro econômico e social.
O desafio está posto.
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Ressabiados
O empresariado paulista está cada vez mais olhando para o futuro com medo do passado.
E tem ao menos 3 bons motivos para esse pessimismo: o dólar oscilando próximo aos R$ 6, uma inflação resistente e juros que, por isso mesmo, tendem a permanecer elevados.
Os reflexos estão sendo captados pelo Índice de Confiança do Empresário do Comércio (ICEC), medido pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), e que está no menor nível desde maio de 2021.
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Subiu no telhado
A inflação, medida pelo IPCA-Índice de Preços ao Consumidor Amplo, continua pairando acima do teto estabelecimento pelo Conselho Monetário Internacional: 4,5% (1.5 ponto porcentual acima da meta de 3% anuais).
Em fevereiro, a taxa anualizada bateu em 5,06%.
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Devo, pago se puder
320.671 empresas da Bahia estavam com o CNPJ no vermelho, em janeiro, número que representa 30,2% do total de negócios existentes na região.
São R$ 5 bilhões pendurados, média de 6 contas atrasadas.
-- Saiba mais
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Comida no lixo
O alerta foi feito pelo fundador da Microsoft, Bil Gates, em seu último artigo: "What it will really take to feed the world" ["O que realmente será necessário para alimentar o mundo", em tradução livre]: "Globalmente, produzimos cerca de 3 mil calorias por pessoa por dia --- mais do que o suficiente para alimentar a todos -- mas um terço impressionante de todos os alimentos é desperdiçado (em alguns países ricos, esse número sobe para 45 por cento)".
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Comida no prato
A segunda estimativa feita pelo IBGE-Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística para a safra baiana de cereais, leguminosas e oleaginosas (também conhecidos como grãos) prevê que a produção deve chegar a 12.216.864 toneladas, em 2025.
Isso representa um aumento de 7,3% em relação ao resultado de 2024, novo recorde para o estado.