Alberto Oliveira

Desçam do palanque!

Esquerda e direita precisam desligar os microfones eleitorais


Ilustração: Sora IA

A economia brasileira segue acorrentada a velhos vícios: gastos rígidos, carga tributária complexa e sufocante, produtividade anêmica e polarização que inviabiliza consensos mínimos. 

O Produto Interno Bruto gerado é insuficiente para reduzir a pobreza, sustentar a infraestrutura e elevar a competitividade nacional. E a dívida pública vai se aproximando de níveis alarmantes.

Enquanto isso, esquerda e direita -- aboletadas em um palanque eterno -- elaboram e espalham slogans, o crescimento perde fôlego, a confiança vai virando frangalhos e choques externos se aproximam.

Como se não bastasse, os Estados Unidos impõem tarifa de 50% sobre bens brasileiros a partir de 1º de agosto (estudo da Confederação Nacional da Indústria estima a perda potencial de 110 mil empregos e retração de 0,16 ponto percentual no PIB).

E lá estão -- esquerda e direita -- engalfinhando-se pelo microfone do palanque eleitoral, de costas para os sérios entraves que condenam a economia brasileira a um moto perpétuo de voo de galinha.

A esquerda terá de admitir que não há espaço fiscal para novas renúncias nem para privilegiar estatais ineficientes e que é economicamente insustentável manter uma política de gastos no nível da atualmente praticada; a direita, por sua vez, precisa libertar-se de lideranças personalistas, que comprometem a coesão de um projeto político mais amplo e democrático.

Sem essas concessões mútuas, prevalecerá o pacto tacanho que distribui sinecuras em vez de gerar crescimento.

O que o País espera é que os dois lados abandonem as retóricas de confronto, responsáveis pelo aprofundamento da polarização. A sociedade exige políticas públicas efetivas que solucionem problemas estruturais, como desigualdade e desemprego.

Não há genialidade oculta, somente vontade política. A população precisa de empregos, renda real em alta e inflação contida -- não de palanques perenes.