
Em entrevista à Folha de S.Paulo, o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), avalia seu desempenho após três anos de mandato, destaca a força do seu grupo político no estado e minimiza a desvantagem frente a ACM Neto (União Brasil) nas pesquisas eleitorais.
O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), afirmou em entrevista ao jornalista João Pedro Pitombo, da Folha de S.Paulo, que permanece como pré-candidato à reeleição em 2026. Embora reconheça a desvantagem nas pesquisas -- segundo levantamento Quaest de agosto, ACM Neto tem 41% das intenções de voto, contra 34% dele --, o governador defende que sua força política se expressa nas urnas e no apoio de prefeitos e lideranças locais.
Rodrigues ressaltou que, ao contrário de Jaques Wagner e Rui Costa, seus antecessores, enfrenta um cenário mais desafiador nas pesquisas, mas destacou que tem se dedicado às entregas do governo para reverter esse quadro. "Enquanto eles [a oposição] ganham na pesquisa, eu ganho nas urnas", afirmou.
O governador também reforçou a importância do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa eleitoral de 2026, afirmando que ambos dependem mutuamente. Na avaliação de Rodrigues, Lula hoje se encontra em situação mais confortável do que em 2022 e poderá ampliar sua influência em estados como São Paulo e no Norte do país.
Sobre as alianças políticas, o governador reconheceu a complexidade da formação de uma chapa que acomode todos os interesses da base, especialmente com os planos de Wagner e Rui para o Senado e a permanência do PSD de Angelo Coronel na coligação. Rodrigues disse estar em diálogo com os partidos e que há tempo, até março, para costurar um acordo que fortaleça a base no Congresso Nacional.
Em relação ao cenário nacional, criticou o atual Congresso por, segundo ele, proteger parlamentares com condutas irregulares e afirmou que o Legislativo deveria priorizar pautas como o combate à fome, segurança e moradia. Questionado sobre a possível candidatura de Flávio Bolsonaro (PL) à Presidência, apontou que a definição reflete a centralização de decisões no entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro e classificou o ambiente político promovido pelo bolsonarismo como imaturo.
Rodrigues também abordou declarações polêmicas feitas ao longo de seu mandato. Disse ter se desculpado por ter afirmado que "bolsonaristas deveriam ir para a vala", mas negou ter incentivado hostilidade em outra ocasião, quando mencionou “entupir a boca” de críticos. Segundo ele, a fala foi distorcida por cortes mal-intencionados.
A segurança pública, ponto crítico de sua gestão, foi outro tema discutido. Apesar da redução da letalidade policial em 2024, a Bahia ainda lidera o número absoluto de mortes em ações policiais, com 1.370 registros entre janeiro e outubro de 2025. Rodrigues afirmou que irá ampliar o uso de câmeras corporais e defendeu o papel do Estado com “braço forte” contra o crime, sem, no entanto, autorizar excessos. "O policial é um servidor público concursado e tem que prestar contas de suas atitudes", disse.
O governador comentou ainda sobre o avanço das facções criminosas nas comunidades e defendeu um modelo de segurança pública articulado entre União, estados e municípios, com mais recursos e responsabilidade compartilhada. Destacou que a Bahia não produz armas nem drogas, mas que esses itens entram no estado vindos de fora.
Sobre a polêmica da ponte Salvador-Itaparica, cujo custo foi renegociado para R$ 12 bilhões, Rodrigues defendeu a obra como estratégica para a mobilidade estadual e ressaltou que o projeto agora conta com respaldo federal, ao ser incluído no orçamento por Lula. Admitiu que a construção terá impactos em comunidades tradicionais e no meio ambiente, mas garantiu que medidas de compensação e fiscalização estão sendo adotadas.
O governador também comentou a autorização para contrair até R$ 26 bilhões em empréstimos, justificando que a Bahia tem condições fiscais para tal e que parte desses recursos compensa a ausência de financiamentos durante o governo Bolsonaro.
No combate à fome, pauta que considera prioritária, Rodrigues afirmou que cerca de 2,3 milhões de pessoas foram retiradas da insegurança alimentar. Apesar disso, ainda há 700 mil baianos nessa condição. Ele destacou ações como a distribuição de cestas básicas, restaurantes populares, cozinhas comunitárias e a oferta de quatro refeições diárias em escolas públicas como iniciativas de inclusão social e combate à fome.
