Alberto Oliveira

Uma tempestade sobre a cabeça de Trump

O cenário impõe uma reflexão sobre os custos de uma política econômica baseada em isolamento e confrontação

Desde o início do atual governo de Donald Trump, a economia americana tem enfrentado uma deterioração acentuada, refletida tanto na forte desvalorização das empresas listadas em bolsa quanto no aumento das incertezas que pairam sobre o mercado financeiro.

Com uma agenda pautada por medidas protecionistas e restrições comerciais, o governo não apenas abalou a confiança dos investidores, mas também reacendeu temores inflacionários e riscos de recessão.

A queda expressiva no valor de mercado das maiores corporações americanas e a escalada do índice VIX — o conhecido "termômetro do medo" — expõem o cenário turbulento enfrentado pela maior economia do mundo.

As perdas acumuladas pelas empresas americanas desde a posse de Trump ultrapassam a marca dos US$ 4 trilhões, conforme levantamentos de mercado, evidenciando o ambiente de aversão ao risco.

Gigantes como Tesla, Nvidia e Alphabet figuram entre as mais afetadas, sinalizando que o temor não está restrito a um setor específico, mas sim disseminado por toda a estrutura empresarial. A Tesla, por exemplo, amarga perdas superiores a meio trilhão de dólares, um reflexo direto da instabilidade que domina o cenário econômico e político.

A derrocada dos principais índices acionários americanos — S&P 500, Nasdaq e Dow Jones — reforça o mau humor do mercado.

Empresa Setor Perda de Valor (US$ bi)
Tesla Tecnologia / Automobilístico 565
Nvidia Tecnologia 404
Alphabet (Google) Tecnologia 379
Outras (Microsoft, Apple, Amazon, Meta) Vários 752
Total das "Sete Magníficas" - 2.100
Total Geral (todas as listadas) - 4.000

Contrariando o desempenho de bolsas internacionais, como o Euro Stoxx 50 e o próprio Ibovespa brasileiro, que acumulam valorização no mesmo período, o mercado americano caminha na contramão, com quedas significativas e persistentes.

O cenário mostra que o caminho escolhido por Trump pode comprometer o crescimento sustentável dos EUA a médio prazo e impõe uma reflexão sobre os custos de uma política econômica baseada em isolamento e confrontação.

Mais do que um ajuste passageiro, o ambiente de incerteza criado tende a afetar investimentos futuros e a competitividade do país em relação a outras potências.

Se as tarifas forem mantidas ou ampliadas, o risco de um ciclo recessivo prolongado se intensifica, com impactos que poderão extrapolar as fronteiras americanas e afetar o equilíbrio global.

Diante desse quadro, o desafio do próximo período será encontrar formas de restabelecer a confiança, mitigar os efeitos adversos das políticas em curso e reposicionar a economia americana num cenário internacional cada vez mais integrado e competitivo.

As recentes imposições tarifárias sobre importações, especialmente de insumos fundamentais como aço e alumínio, desencadearam uma escalada nos preços internos.

E as barreiras comerciais, em vez de fortalecerem a indústria doméstica como prometido, elevaram os custos de produção e minaram a competitividade de diversos setores.

Data Produto Preço (US$/tonelada) Variação (%)
25/02/2025 Aço laminado a quente 779 -
10/03/2025 Aço laminado a quente 939 +20,53%

Produtos importados, agora mais caros, têm efeito direto na cadeia produtiva, encarecendo desde automóveis até equipamentos industriais, o que pressiona os preços ao consumidor final.

Reflexo disso é o avanço das expectativas inflacionárias, já captadas em pesquisas de opinião e sondagens de mercado.

Uma pesquisa recente conduzida por uma universidade americana revelou que as expectativas de inflação para os próximos cinco anos atingiram o maior patamar em quase três décadas, sinalizando o temor generalizado de um ciclo prolongado de aumento de preços.

A alta no preço do aço, por exemplo, com avanço superior a 20% em poucas semanas, ilustra como as tarifas protecionistas acabam alimentando a inflação, ao invés de protegê-la.

A combinação de inflação em alta e desaceleração econômica coloca o FED-Federal Reserve (banco central americano) em um dilema crucial.

A princípio, o mercado esperava que o banco central pudesse reduzir os juros em 2025 para estimular a economia. No entanto, com o avanço das pressões inflacionárias, as expectativas se ajustam para uma política monetária mais restritiva, ou, no mínimo, menos expansionista do que se imaginava.

Mês/Ano Expectativa (%) Observação
Dez/2024 2,8% Nível médio dos últimos anos
Fev/2025 3,5% Maior patamar desde 1995

Juros altos nos Estados Unidos estimulam uma fuga de capitais investidos em países como o Brasil, o que é uma péssima notícia para a economia brasileira, pela pressão exercida sobre o câmbio, por consequência alimentando a alta generalizada de preços.

O Banco Central brasileiro também terá trabalho para reduzir a taxa básica de juros.