Alberto Oliveira


Cidade de Aleppo, fevereiro de 2023 | Foto: Unocha

A Avenida Paulista, em São Paulo, e os grandes centros no mundo esperam por uma passeata em defesa das mulheres e crianças que continuam sendo massacradas, na Síria.

Em favor delas não há discursos em Brasília, a Imprensa não se dispõe a gastar tempo para mostrar os horrores da guerra "arrasadora e prolongada", nas palavras de Paulo Sérgio Pinheiro, presidente de comissão de inquérito promovida pela ONU.

Relatório das Nações Unidas mostra que em várias linhas de frente "as partes envolvidas no conflito atacaram civis e infraestruturas, enquanto uma crise humanitária sem precedentes está mergulhando os sírios em um desespero cada vez maior".

Mas não há sinais de uma passeata na Avenida Paulista, ou em Paris, por exemplo.

No Brasil (como no resto do mundo), as emissoras de TV - com seus jornalistas que se dispõem a comentar sobre qualquer asssunto, de parto a atracação de navio, citando especialistas sem jamais declinar seus nomes - permanecem de costas para a Síria. 

Os jornais impressos, os noticiosos das emissoras de rádio e os portais de notícia na internet ignoram o assunto.

As mulheres e crianças da Síria não provocam uma lágrima sequer.

Por que? Deve ser coincidência o fato de que o massacre, naquele país, é comandado por dois ditadores: o russo Vladimir Vladimirovich Putin e o sírio Bashar Hafez al-Assad‎.

Segundo a comissária da ONU Hanny Megally," as forças do governo sírio usaram novamente munições de fragmentação em áreas densamente povoadas, dando continuidade a padrões devastadores e ilegais", já documentados no passado.

"O grupo Estado Islâmico do Iraque e do Levante, também conhecido como Da'esh, também intensificou suas operações na região central da Síria, não apenas contra alvos militares, mas também contra civis em áreas urbanas, em ataques que provavelmente constituem crimes de guerra", denuncia a comissão das Nações Unidas.

Passeatas? Protestos do mundo livre? Discursos no Congresso Nacional, em Brasília? Nenhuma. Nenhum. Nenhum.

O fato de que dois ditadores alimentam a guerra não deve ser o motivo do silêncio e da falta de lágrimas do mundo livre. Deve ser mesmo coincidência.

Crianças deslocadas em frente à tenda de sua família em um acampamento informal no sul da Síria
Foto: Hasan Belal | Unicef

Cerca de 30 mil crianças permanecem detidas em campos de internamento, prisões e centros de reabilitação no nordeste da Síria, sofrendo violações e abusos dos direitos humanos, um "tratamento cruel e desumano", mostra o relatório produzido pela ONU.

Passeatas? Protestos do mundo livre? Discursos no Congresso Nacional, em Brasília? Nenhuma. Nenhum. Nenhum.

16,7 milhões de pessoas na Síria precisam de assistência humanitária urgente.

Passeatas? Protestos do mundo livre? Discursos no Congresso Nacional, em Brasília? Nenhuma. Nenhum. Nenhum.

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