Em muitos lugares do mundo o número 13 é evitado com estranheza ou até temor — fenômeno conhecido como triskaidecaphobia.
Essa superstição tem implicações reais na arquitetura, cultura e comportamento coletivo.
Mesmo sem base científica, o receio cultural gera mudanças concretas no planejamento urbano, imobiliário e turístico — um exemplo vívido de como crenças tradicionais moldam o mundo moderno.
Essa aversão ao número tem efeitos tangíveis: estudos indicam que apartamentos no 13º andar demoram mais para vender e hotéis muitas vezes perdem reservas por causa da numeração. Já em aviões e cinemas, as filas e assentos marcados com 13 também costumam ser omitidos.
Estados Unidos, Canadá e Europa Ocidental - Em diversas cidades dos EUA e do Canadá é comum que edifícios residenciais e hotéis omitam o 13º andar. Em vez dele, adotam-se rótulos como "14", "12A" ou "M" (abreviação de "mezanino").
Segundo a Otis Elevator Company, entre 80% e 90% das instalações não incluem o andar 13 em seus elevadores. Em Quebec, por exemplo, é amplamente relatado que nenhum edifício comercial ou hotel tem um andar 13.
Grandes arranha-céus ainda eliminam o número 13 por receio de perder apelo entre locatários supersticiosos — apesar de não haver risco estrutural real. No entanto, prédios emblemáticos como o Empire State Building ou o Shanghai Tower mantêm seus andares 13 entre os demais, mostrando que a superstição pode ser contornada.
Países latino-europeus - Na Itália, embora o número 13 seja às vezes considerado sortudo, o número 17 é evitado — a sigla romana XVII pode ser lida como “VIXI”, que em latim significa “já vivi”, uma metáfora para a morte.
Em Portugal e Espanha não há superestimação contra o 13, mas em algumas regiões da Espanha e da Grécia é a terça-feira 13 que é considerada azarenta.
Ásia Oriental - Embora temas diferentes, países asiáticos praticam uma superstição semelhante: é comum evitar o número 4 (som próximo de “morte”).
Em edifícios da China, Coreia, Japão e Cingapura, faltam andares 4, 14, 24 etc. Essa forma de superstição numérica — chamada de tetraphobia — mostra que diferentes culturas repelem números considerados negativos.
A origem da sexta-feira 13
A sexta-feira 13 é considerada um dia de azar em muitas culturas ocidentais, como resultado da combinação historicamente negativa da sexta-feira — associada à crucificação de Jesus — e do número 13, visto como irregular e desestabilizador.
Essa fusão de crenças e lendas formou um dos tabus mais fortes da modernidade, com a data evocando medo, curiosidade e até celebrações temáticas.
As origens dessa superstição remontam a duas correntes principais. No cristianismo, a Última Ceia reuniu Jesus e seus doze apóstolos, totalizando 13 pessoas, com Judas, o traidor, sendo o décimo terceiro — seguido pela crucificação numa sexta-feira.
A ligação entre esses elementos — número 13 e sexta-feira — contribuiu para a ideia de que essa combinação era destinada à má sorte.
Já a mitologia nórdica reforça essa percepção com a narrativa de Loki, o deus da discórdia, que, ao entrar num banquete de doze deuses em Valhalla como décimo terceiro convidado, causou o caos que culminou na morte de Balder, reforçando o temor ao número.
Embora sexta-feira e número 13 fossem vistos separadamente como indesejáveis desde a Idade Média — sexta-feira era tradicionalmente o dia de execuções e penitência, e 13 quebrava a perfeição do número 12, associado à harmonia — só no início do século XIX surgiram registros de que a junção desses dois mala-agouros produzisse uma superstição específica.
Na França do século XIX, esta data começou a ganhar notoriedade como um dia de azar, espalhando-se depois para os Estados Unidos no final do século.
A cultura ocidental logo adotou a sexta-feira 13 como um dia peculiar, criando termos para designar o medo: paraskevidekatriaphobia (medo da sexta-feira 13) e triscaidecafobia (fobia do número 13).
Estima-se que entre 17 e 21 milhões de pessoas apenas nos Estados Unidos experimentem essa fobia, evitando voar, dirigir ou frequentar prédios semáforos numerados com 13, gerando perdas econômicas significativas — estima-se entre 800 e 900 milhões a cada repetição da data, segundo dados da EBSCO e History.com.
No entanto, estudos científicos contestam a suposta influência negativa: pesquisadores britânicos analisaram acidentes de trânsito em Londong M25 entre 1990 e 1992, durante sextas-feiras 13, e apesar de haver menos carros nas estradas, registraram aumento de até 52% nos acidentes — embora o volume reduzido inviabilize conclusões estatísticas sólidas.
A Holanda, por sua vez, revelou que nessas datas ocorrem, em média, menos reportes de acidentes, furtos ou incêndios, sugerindo que o comportamento mais cauteloso das pessoas pode até tornar a sexta-feira 13 um dia ligeiramente mais seguro.
A superstição varia conforme a cultura: em países hispânicos, inclusive no Brasil, o dia de azar é a terça-feira 13, relacionada ao deus Marte (Marte/terça) e às quedas em Constantinopla em 1204 e 1453, reforçando o simbolismo negativo do dia.
Na Grécia, ocorre o mesmo temor em torno da terça-feira 13. Itália, por sua vez, considera azarento o dia 17 de sexta-feira, pois XVII pode ser lido como “VIXI” (em latim "já vivi", implicando morte) — e 13 costuma ser visto como número de sorte.
Paradoxalmente, a sexta-feira 13 também inspirou manifestações positivas. Em diversos países, estúdios de tatuagem passaram a oferecer “flash tattoos” com o número 13, encaradas como um antídoto contra o azar. A franquia de filmes de terror “Friday the 13th” consagrou Jason Voorhees como um ícone cultural do medo cinematográfico .
Além disso, mesmo em sextas-feiras 13, eventos históricos importantes aconteceram: execução de direitos civis, descobertas científicas, nascimentos de personalidades relevantes e premiações olímpicas — fatos que, segundo o Business Insider, propagam uma visão contrária à superstição .
Hoje, a sexta-feira 13 é ao mesmo tempo um símbolo de superstição secular e objeto de fascinação cultural. De festas temáticas em Montalegre, Portugal — com bruxas, queimascerimoniais e fé pagã — a medidas práticas em construções modernas, como a omissão do número 13 em elevadores, a data assume múltiplos significados. É dia de vendas promocionais em estúdios de tatuagem, reflexões sobre fobias coletivas e alertas para a curiosidade humana diante do desconhecido .
Embora muitos argumentem que a sexta-feira 13 não seja de fato mais azarada do que qualquer outro dia, seu poder persiste: é uma data marcada no imaginário popular, em que comportamentos são influenciados por crenças tanto individuais quanto culturais — entre o medo e a celebração, o dia se mantém vivo nas narrativas, nas escolhas cotidianas e no misto de cautela e fascínio que provoca no mundo contemporâneo.