Política

Por que Michelle Bolsonaro está aparecendo menos no noticiário

O recuo foi acordado em uma reunião no dia 2 de dezembro, apurou a Gazeta do Povo

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A pré-candidatura de Flávio Bolsonaro reorganizou o PL e levou Michelle Bolsonaro a suspender sua atuação pública e institucional. O recuo, motivado por questões de saúde e estratégicas, não eliminou seu capital político. Mesmo fora da linha de frente, Michelle mantém relevância eleitoral, segundo analistas e pesquisas.

A pré-candidatura de Flávio Bolsonaro (PL-RJ) à Presidência da República provocou uma reconfiguração na estrutura do Partido Liberal, resultando no recuo institucional e público de Michelle Bolsonaro.

A ex-primeira-dama suspendeu temporariamente sua atuação no partido, em um movimento avaliado como estratégico.

A oficialização de Flávio Bolsonaro como pré-candidato do PL ao Palácio do Planalto reorganizou o cenário conservador e levou à redefinição da atuação de Michelle Bolsonaro na sigla.

Até então em crescente destaque à frente do PL Mulher, a ex-primeira-dama passou a adotar uma postura mais discreta, interpretada internamente como parte de uma estratégia pactuada.

Conforme apurou a Gazeta do Povo junto a fontes da cúpula partidária, Michelle decidiu se afastar por orientação médica, devido a problemas de saúde, e também com o objetivo de reduzir tensões após crises recentes no partido, como a polêmica envolvendo o diretório do Ceará e uma tentativa de aliança com o ex-governador Ciro Gomes.

O recuo foi acordado em uma reunião no dia 2 de dezembro, ocasião em que também foi decidido o fim das tratativas com Ciro no estado.

A direção do PL avalia que o afastamento de Michelle contribui para amenizar disputas regionais e consolidar Flávio Bolsonaro como principal liderança da legenda para 2026.

A prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro intensificou a necessidade de centralização de decisões e reforçou o movimento de reorganização interna no partido.

No caso do Ceará, as divergências entre Michelle e os filhos de Jair Bolsonaro se tornaram públicas após a tentativa de apoio a Ciro Gomes articulada pelo deputado federal André Fernandes (PL-CE). Michelle, na época presidente do PL Mulher, criticou a iniciativa, o que gerou reações de Eduardo e Carlos Bolsonaro.

A crise foi contornada com o cancelamento das negociações e o afastamento temporário da ex-primeira-dama.

Antes do recuo, Michelle mantinha uma intensa agenda nacional pelo PL Mulher, com viagens por diferentes regiões do país. Em 2023, ela participou de eventos no Distrito Federal, São Paulo, Pará, Roraima, Tocantins, Goiás e Rio Grande do Sul, promovendo a estruturação de diretórios femininos.

A agenda incluiu também um encontro nacional com mandatárias da legenda, realizado em Brasília.

Contudo, compromissos foram cancelados nos últimos meses, como uma reunião do PL Mulher marcada para 13 de dezembro no Rio de Janeiro, remarcada para 2026, e uma visita a Sidrolândia (MS).

A interrupção da agenda coincidiu com o agravamento de questões de saúde e a reconfiguração do PL após a prisão de Jair Bolsonaro.

A ida de Michelle ao Ceará, prevista para novembro, foi abortada após a prisão do ex-presidente, o que precipitou seu retorno a Brasília.

Mesmo em segundo plano, Michelle Bolsonaro continua sendo considerada um ativo eleitoral relevante. Segundo o cientista político Elton Gomes, da Universidade Federal do Piauí (UFPI), o recuo não eliminou seu capital político, especialmente entre o eleitorado evangélico e feminino.

Gomes aponta que Michelle apresenta índices de rejeição mais baixos do que os filhos de Bolsonaro e mantém capacidade de comunicação acima da média.

Na mesma linha, Adriano Cerqueira avalia que, apesar de afastada da linha de frente, Michelle ainda ocupa posição estratégica dentro do campo conservador. Levantamento Apex/Futura, divulgado em 12 de dezembro, mostra que ela aparece com 36,2% das intenções de voto em um dos cenários de primeiro turno, em empate técnico com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que registra 38,4%.

Cerqueira destaca que Michelle tem discurso eficaz, forte identificação com o eleitorado evangélico e atratividade em segmentos nos quais Jair Bolsonaro enfrentava maior resistência, especialmente entre mulheres. Mesmo fora do centro das decisões, ela segue monitorada pela cúpula do PL como uma possível alternativa ou reforço em estratégias eleitorais.

A condução da pré-campanha de Flávio Bolsonaro, segundo analistas, impôs um novo arranjo hierárquico dentro do partido, restringindo disputas paralelas, mas sem descartar o valor político de Michelle. “Ela não está liderando agora, mas continua sendo uma figura competitiva que o partido não pode ignorar”, afirma Cerqueira.