
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) exigiu definição política dos ministros e partidos aliados para a disputa de 2026, buscando garantir ao menos a neutralidade de siglas que integram o governo, como MDB e PSD, e evitar alianças formais com a direita. As informações são do Jornal de Brasília.
Durante a última reunião ministerial do ano, realizada nessa quarta-feira (17 de dezembro), Lula declarou que cada integrante do governo terá de escolher o projeto que defenderá nas eleições, destacando que essa será “a hora da verdade” para ministros e legendas. Segundo o presidente, será inevitável que os partidos se posicionem diante do que seu governo representa em comparação aos anteriores.
Após o discurso, os ministros Rui Costa (Casa Civil) e Fernando Haddad (Fazenda) apresentaram um balanço das ações do Executivo federal em contraste com a gestão de Jair Bolsonaro (PL), reiterando o discurso de diferenciação que deverá nortear a campanha petista.
Conforme apurou o Jornal de Brasília, o presidente pretende consolidar apoios dentro da base aliada, aproveitando-se da indefinição quanto às candidaturas de oposição. A principal preocupação no momento são os movimentos do MDB e do PSD, cujas posturas ainda são vistas como instáveis. O eventual lançamento da candidatura de Tarcísio de Freitas (Republicanos) à Presidência pode influenciar essa configuração.
A ministra Gleisi Hoffmann (Secretaria de Relações Institucionais) foi incumbida de mapear os padrinhos políticos de cargos do segundo escalão. A meta é substituir apoiadores de Bolsonaro por nomes leais ao governo, utilizando essas nomeações para consolidar palanques estaduais.
A manutenção da pré-candidatura de Flávio Bolsonaro (PL-RJ) à Presidência também é vista como oportunidade estratégica para reforçar críticas à gestão de seu pai, derrotado por Lula em 2022. O governo trabalha, paralelamente, para impedir a formação de alianças nacionais com a oposição, especialmente com Tarcísio, apontado como principal adversário do presidente.
No caso do MDB, a ala paulista se mostra inclinada a apoiar Tarcísio, mas a articulação regional pode forçar uma posição de neutralidade. Lula conta com apoio sólido de diretórios em estados do Norte e Nordeste, como Pará, Alagoas, Maranhão e Ceará. Em Mato Grosso do Sul, o PT considera retirar a candidatura ao Senado para apoiar Simone Tebet (MDB), desde que ela não se comprometa publicamente com a reeleição do governador local, aliado de Bolsonaro.
O PSD, por sua vez, tem sido alvo de esforços coordenados pelo presidente nacional do PT, Edinho Silva. O apoio da legenda dependerá da decisão política de Tarcísio e das movimentações do presidente do partido, Gilberto Kassab, que compõe o governo paulista. Embora Kassab já tenha indicado apoio ao governador, também mencionou os nomes de Ratinho Júnior (PR) e Eduardo Leite (RS) como possíveis candidatos, caso Tarcísio não dispute a Presidência. Um eventual apoio a Flávio Bolsonaro no primeiro turno está descartado.
O cenário dentro do PSD é complexo. Em Minas Gerais, apesar de o ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia) estar no governo, o partido lançou o vice-governador Matheus Simões (Novo) como candidato ao governo estadual. Avaliações internas indicam que o PSD pode adotar uma posição neutra nacionalmente, com liberdade para que cada diretório estadual tome sua própria decisão. Na Bahia, por exemplo, o partido deve apoiar Lula.
Emedebistas interpretam a fala de Lula como um recado direto ao PSD, apontando que a tendência do MDB já é de neutralidade, com ministros fazendo campanha pelo petista mesmo que a legenda oficialmente não o apoie.
Integrantes do PT avaliam que o cenário atual é mais favorável do que o de 2022, quando o MDB lançou Simone Tebet à Presidência e o PSD se manteve neutro em ambos os turnos. À época, lideranças regionais das duas siglas apoiaram Lula, o que tende a se repetir. Para o deputado Zeca Dirceu (PT-PR), o Executivo terá mais condições de reorganizar cargos com o avanço do mandato. “Nos primeiros anos, o governo agiu com mais cautela para preservar alianças. Agora, há mais margem para ajustes”, afirmou.
Já Republicanos, PP e União Brasil, mesmo com participação no governo, sinalizam apoio a candidaturas de oposição. O PP afastou o ministro do Esporte, André Fufuca (MA), da direção partidária, mas manteve a aliança. Fufuca tenta viabilizar sua candidatura ao Senado com o apoio do presidente no Maranhão.
O União Brasil, por sua vez, expulsou o ministro do Turismo, Celso Sabino, e indicou novo nome à pasta. Apesar disso, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), continua responsável pela indicação de ministros da Integração Nacional e das Comunicações, além de cargos estratégicos em estatais como a Codevasf. A legenda tem deixado ao governo a decisão sobre substituições nos postos ocupados por seus indicados.
