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Jogo político divide Israel em meio à guerra contra o terrorismo

Contexto político explica parcialmente os impasses nas conversas pelo cessar-fogo

Foto: X | Reprodução
Bezalel Smotrich e Itamar Ben Gvir: os dois ministros extremistas da atual coalizão

Há uma grande disputa política em curso neste momento em Israel. Todo o discurso de união em torno da guerra parece ter sido deixado de lado. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu está decidindo tudo sozinho sem levar em consideração os dois membros de oposição que se juntaram à coalizão como resposta à situação de emergência: Benny Gantz e Gadi Eisenkot entraram no governo com a promessa de que decidiriam os rumos da guerra, o que inclui também as negociações para obter um acordo. E isso não está acontecendo.

Este contexto político explica parcialmente os impasses na nova rodada de conversas entre Israel, Catar, Egito e Estados Unidos ocorrida no Cairo nesta semana. A delegação israelense retornou sem uma solução, mas com a perspectiva de que algo poderia se mover, de que havia material sobre o qual poderia dar continuidade às negociações. O diretor do Mossad, David Barnea, relatou suas impressões a Netanyahu. Nesta quinta-feira, as conversas na capital egípcia deveriam prosseguir.

Mas Netanyahu tomou a decisão: a delegação israelense não retornaria sob o argumento de que o Hamas precisava abandonar suas “exigências delirantes” e só então Israel daria uma resposta. O problema é que o primeiro-ministro não consultou os demais membros do Gabinete de Guerra reduzido, deixando de lado os membros da oposição Gantz e Eisenkot – que ficaram furiosos a partir disso. Não é a primeira vez que o primeiro-ministro age desta forma. E agora Gantz e Eisenkot cogitam deixar a coalizão.

O primeiro-ministro age para ganhar tempo e continuar no cargo apesar de todas as críticas internas e externas. No centro de sua decisão estão dois de seus aliados mais extremistas: o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, e o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich. Ambos são contrários a um acordo envolvendo a libertação de prisioneiros palestinos. Na prática, portanto, eles se opõem a qualquer acordo, na medida em que é improvável que a libertação de prisioneiros palestinos não seja uma contrapartida exigida pelo Hamas seja lá qual for o formato alcançado.

Smotrich passou a atacar os familiares dos reféns e todos os israelenses que participam de protestos; disse que as manifestações “prejudicam os esforços de libertação dos sequestrados”. Ben Gvir foi além e iniciou uma campanha nacional, enviando mensagens de texto aos telefones celulares dos cidadãos israelenses em busca de assinaturas para expressar oposição ao que ele chama de “acordo promíscuo”. Ben Gvir e Smotrich fazem apenas o jogo político em busca de reafirmar suas posições extremistas.

O Fórum dos Familiares de Reféns e Desaparecidos classificou a decisão de Netanyahu de não enviar a delegação israelense ao Cairo como uma “sentença de morte” a seus entes queridos. Uma das familiares respondeu diretamente a Smotrich: “Ele queria que nós ficássemos em casa sem fazer nada com as cabeças enfiadas em sacos?”, disse.

O país segue dividido. E Netanyahu segue jogando o mesmo jogo: ganha tempo para não tomar decisão nenhuma.