Artes Visuais

Felice Varini expõe pela primeira vez no Brasil

Quatro obras inéditas do artista suíço radicado em Paris

Foto: Divulgação
Rebonds par les pôles | Marseille, 2016

Obras híbridas que misturam cenografia, pintura e fotografia abrem inúmeras possibilidades para o público observar uma cidade, um bairro, um edifício ou um espaço cultural de outras formas.

Esse é o mote do trabalho de Felice Varini, artista suíço radicado em Paris, que expõe sua primeira individual no Brasil ocupando os espaços do Instituto Artium.

Com curadoria do francês Franck Marlot, a intervenção artística ocupa o espaço a partir do dia 11 de novembro, com entrada gratuita.

Para a mostra, Varini fez uma visita prévia ao Instituto Artium, palacete centenário que foi originalmente a residência do primeiro cônsul da Suécia e hoje abriga um importante polo cultural da cidade de São Paulo, para desenvolver um minucioso estudo técnico, baseado nas observações arquitetônicas, características físicas do espaço e informações históricas do espaço.

A partir desse estudo, criou digitalmente quatro instalações inéditas: Zig Zag De Quatorze Triangles, Doubles Cercles Concentriques, Sept Arcs De Cercles e Douze Petits Disques Dans Le Grand - que ocuparão fisicamente a fachada exterior e três salas expositivas do Instituto. Segundo o próprio artista, sua arte se situa entre a realidade e o espaço ficcional, propondo ao público um convite para escapar da cidade pelas frestas do tempo.

"A exposição no Instituto Artium dá ao visitante a possibilidade de captar o local com uma visão totalmente nova. A obra bidimensional pintada aparece para o observador em um único ponto focal e se espalha nas superfícies do edifício conforme ele se move pelo espaço.

É uma oportunidade para todos questionarem a realidade e a ficção do espaço arquitetônico e serem atores da própria experiência. Além de descobrir uma obra única que combina pintura e anamorfose em quatro instalações originais inspiradas na geometria e especialmente produzidas pelo artista e sua equipe", ressalta Franck Marlot, curador da mostra.

Em suas criações, Varini projeta um plano no espaço que gira em torno de formas geométricas simples, como o círculo, o quadrado, a elipse, o triângulo - às vezes sólido ou vazado -, pintado em cores primárias. Neste ponto focal, a forma parece flutuar como que levitando sobre a arquitetura que a acolhe.

À medida que o espectador se move, a forma bidimensional se desfaz, estende-se para estourar em dezenas de "pedaços de tinta" que se atomizam no espaço tridimensional e cobrem as paredes, o teto, o corrimão da escada, entre outros espaços. O olhar sobre o ambiente é transformado e o observador então redescobre a arquitetura do lugar devido a essa nova informação pictórica.

Para Varini, em suas obras, o ponto de vista é importante, pois a pintura atinge todo seu potencial quando o observador se posiciona em um espaço privilegiado. Ao sair dele, a obra gera infinitos pontos de observação. "Não é, portanto, por meio desse ponto de vista original que vejo o trabalho realizado. Ele ocorre no conjunto de pontos de vista que o observador pode ter sobre ele", comenta o artista.

A arquitetura e o espaço urbano são as inspirações de Varini, que reconhece São Paulo como uma cidade singular por sua arquitetura heterogênea onde as muitas estratificações históricas, ainda visíveis, pontuam a cidade. Segundo Marlot, a relação específica com o plano e o espaço inspirou também os artistas brasileiros concretistas e neoconcretistas desde o início dos anos 1950. "Atualmente, Felice Varini vai além do formato da tela e oferece uma obra aberta que confronta a escala do edifício", complementa o curador.

Cada trabalho do artista suíço se mostra único, pois é resultado de todas as experiências que envolvem o local expositivo. "Meu campo de ação é o espaço arquitetônico e tudo o que o constitui.

Trabalho in loco cada vez em um espaço diferente e meu trabalho se desenvolve em relação aos espaços que encontro. Geralmente perambulo pelo local observando sua arquitetura, materiais, história e função.

A partir desses dados espaciais e em referência à última peça que produzi, designo um ponto de vista específico a partir do qual minha intervenção toma forma. Começo a construir minha pintura a partir de uma situação. A realidade nunca se altera, se apaga ou se modifica, ela me interessa e me seduz em toda a sua complexidade. Eu trabalho aqui e agora", reforça Varini.

Felice Varini

Suíço de nascimento e radicado em Paris, Felice Varini destacou-se ao longo de sua trajetória pelo domínio da delicada e fina técnica da anamorfose, a arte de criar a ilusão de uma forma geométrica sobreposta a um objeto tridimensional.

Entre as muitas realizações no espaço público, destacam-se as de Mazan L'Abbaye, na França, em 2017; a vila suíça de Vercorin, em 2009; a Universidade de Nagoya, no Japão, em 2008; e a comuna francesa Saint-Nazaire. Na Bienal do Estuário, apresentou a obra 3 elipses para 3 eclusas, encomendada para a barragem da Baía de Cardiff, nas edições de 2007 e 2009.

Em 2009, participou do Niigata Water and Land Art Festival, no Japão, e da Bienal de Cingapura em 2008. A Casa Vermelha / Fundação Antoine de Galbert dedicou-lhe uma exposição em 2007, assim como o Osaka Art Kaleidoscope e o Antoine Museum. Também produziu obras na Orangerie do Palácio de Versalhes em 2006.

No mesmo ano, como parte da Magenta éphémères, apresentou a obra Sete direitos para cinco triângulos - este trabalho foi apresentado pela primeira vez na Place de l'Odéon em 2003 como parte da operação Nuit Blanche e adquirida pela cidade de Paris.