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Cobertura da Lavagem do Bonfim: Doris Pinheiro, Monalisa Leal, Rosana Andrade, Felipe Belmonte, Antonio Muniz, Roberto Aguiar, Djair Sant'Anna, Gina Marocci, Alberto Oliveira
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Uma multidão (20 mil, segundo projeções feitas pela Prefeitura) espalha a fé pelos 6,7 quilômeros que separam a Igreja da Conceição da Praia, na Cidade Baixa, da Colina Sagrada, onde se ergue a Igreja do Bonfim, nesta quinta-feira (17/1), em Salvador.
Muitos ficam pelo caminho, atraídos pelos bares, botecos e esquinas onde se oferece bebidas (principalmente cerveja) e comida.
Os becos ficam agitados, cheio de pessoas que buscam um sossego, uma cerveja gelada e a tradicional feijoada.
No Beco do Algibres, encontramos os bares Palácio dos Bares e o Chariot, com as mesas nas calçadas e ocupadas por fiéis da folia.
“É uma parada obrigatória, um descanso. É o momento de repor as energias e seguir a caminhada. Nosso combustível, além da fé no Senhor do Bonfim, é uma cerveja gelada e uma comida baiana”, fala sorrindo o aposentado Ezequiel Mata, freguês do bar Chariot.
Parada obrigatória - Foto: Leiamais.ba
Compromisso com Senhor do Bonfim
Rita do Carmo é católica e conta que participa da Lavagem do Bonfim desde a época que os fiéis enfeitavam os jegues e saíam com carroças. “eu sou da época da carroça, depois passou a ser de caminhão e hoje é essa festa maravilhosa, de fé, muita fé”, disse.
“Paramos pra tomar uma cervejinha mas já vamos seguir, eu tenho que seguir porque tenho um grande compromisso com Senhor do Bonfim. Fui diagnosticada com um câncer, na época o tumor média 17 centímetros. Me comprometi com o meu Senhor do Bonfim e não precisei operar, ele é maravilhoso, sou muito grata”.
No vídeo - Goli Guerreiro fala sobre a importância dos becos na Festa do Bonfim
A atração que vem dos becos - Foto: Leiamais.ba
O feijão do Bonfim
Na Colina Sagrada, o que espera os fiéis são as tradicionais feijoadas, que começam a ser servidas na noite da quarta-feira. Nas casas que receberão os amigos ou nas barracas e bares no entorno da festa.
Há também o conhecido cachorro quente. A cuidadora de idosos Joselita dos Santos, de 65 anos, troca os hospitais onde trabalha pela barraca, onde vende a iguaria há 38 anos. Natural de Nazaré das Farinhas, ela já chegou a vender 500 unidades em um único dia da festa.
A vendedora conta que saia da festa da Lapinha e já montava a barraca no Bonfim, pois os festejos profanos começavam no domingo anterior a lavagem e se estendiam até o domingo seguinte. "Daqui vou para a Ribeira. Vou porque gosto da praia. Depois 2 de fevereiro e Carnaval".
A quituteira Negra Ginga, de 56 anos, há 15 participa da Lavagem vendendo feijoada. 6 quilos de feijão são utilizados para preparar o prato.
Ginga lamenta que a festa venha perdendo força. "Hoje precisamos desmontar as barracas na sexta-feira. Exigência da prefeitura, que quer deixar o Binfim limpo logo cedo ", enfatiza ela.
Negra Ginga, 15 anos vendendo feijoada - Foto: Leiamais.ba
Mas há gente nova chegando para reforçar a turma da feijoada, como é o caso da chefe de cozinha Iara Alves da Silva, que pela primeira vez participa do evento.
Ela morou em Angola, cozinhando para um restaurante libanês (o dono do restaurante, que funcionava em um castelo, queria atrair brasileiros e providenciou uma brasileira para assumir a cozinha).
Agora está à frente de um negócio familiar, junto com as duas filhas e o genro, na Baixa do Bonfim. "Aproveitei o ponto e porque não fazer uma feijoada?", disse, confiante.
Passar a noite vigiando as panelas, com um cafezinho para despertar, faz parte do trabalho nada de quem deseja fazer parte da festa comercializando alimentos.
Da mesma forma, os vendedores de bebidas, começam a chegar um dia antes da festa, com seus kits, marcando os lugares na extensão do percurso.
Paredão no Bonfim
Também é possível se divertir na Lavagem do Bonfim longe do circuito oficial, com som próprio, mas aproveitando a energia da festa.
Alguns “paredões” (caixas de som montadas em paralelo) podiam ser vistos ao longo do trajeto. Na Praça Marechal Deodoro, também conhecida como Praça da Mãozinha, dezenas de pessoas curtiam um desses paredões, por exemplo.
Era o caso de Eudes Santos. Segundo ele, a festa do Bonfim "é, de fato, o grande atrativo", mas este ano ele preferiu curtir o “circuito alternativo”.
“Eu venho para a festa do Bonfim desde criança, sempre acompanhei o cortejo, mas este ano preferi reunir os amigos e tomar uma cervejinha por aqui, curtindo um pagode legal."
Douglas Silva era mais um que se divertia com o som e se mostra animado com "Crush Blogueirinha" (música interpretada pelo cantor Léo Santana). "Assim como o axé music, o pagode baiano é um ritmo tradicional presente na cultura do povo baiano. Importante o ritmo tocar na Lavagem do Bonfim porque nos dá opções variadas de diversão", disse.