Patricia Hill Collins e Ryane Leão são conhecidas por públicos diferentes, mas têm em comum a cor da pele e a marca do ativismo. Negras e escritoras, estarão pela primeira vez na 8ª edição da Festa Literária Internacional de Cachoeira, a Flica, que começa nessa quinta e vai até domingo.
Pela primeira vez no Brasil em um evento dedicado à literatura, a professora de sociologia norte-americana integrará ao lado da filósofa paulista Djamila Ribeiro a mesa “Onde vivem as personagens que nos representam”, com mediação da professora Florentina Souza. No sábado, a partir das 17h.
Além de Patricia, outro nome que se destaca na programação é o da colombiana Margarita García Robayo, novata no Brasil e inédita em português.
Ela que também aborda questões femininas e feministas em sua obra, dividirá na sexta-feira, às 19h, a mesa "Sobre os corpos que brilham e tudo queimam" com a poeta Ryane Leão, natural de Cuiabá, radicada em São Paulo e sucesso no Instagram. A mediação será da jornalista Vânia Dias.
Do Instagram para a Flica 2018, surge outro fenômeno, Zack Magiesi, com cerca de 900 mil seguidores. Ele e o escritor baiano Edgard Abbehusen farão parte da mesa de debates "Os filtros que usamos na literatura do nosso tempo", na sexta-feira, a partir das 14h, com mediação da jornalista Jéssica Smetak.
Resgate de autores - Sobre a inclusão de influenciadores digitais na programação da maior festa literária da Bahia hoje, o curador Tom Correia é claro: "A Flica não é um evento purista nem preconceituoso. A gente não pode fechar os olhos para esse fenômeno, e sim dar voz a esses autores para que eles se defendam também".
Em seu segundo ano como curador da Flica, o jornalista, escritor e fotógrafo baiano explica que a edição 2018 dá continuidade à festa de 2017: autores que não compareceram estarão com o público finalmente e distribuídos nas 10 mesas do evento; outros, como Conceição Evaristo, a grande homenageada, fazem sua aparição novamente na cidade histórica do Recôncavo.
"A curadoria deste ano é um combo de curadorias de dois anos. Houve autores no passado que não puderam vir e tentamos resgatar, como é o caso do Valter Hugo Mãe". E continua Tom Correia: "Mas o nosso grande cuidado foi ver que tipos de ausência a gente cometeu. Em 2017 a mulher negra teve uma presença muito forte. E não fizemos isso para ficar bem com o politicamente correto. As mulheres negras tiveram presença por qualidade artística e literária, pelo posicionamento em relação ao mundo de hoje, e também terão espaço agora".
E se depender de postura, seja de mulheres, seja de homens, o próprio título da mesa que abre a Flica, às 15h da quinta-feira, é um convite à reflexão sobre o papel político que a arte deve ou deveria exercer: "Escritores em um mundo intolerante e deserto de compaixão". O encontro reunirá o português Valter Hugo Mãe e o baiano Aleilton Fonseca com mediação de Zulu Araújo, diretor da Fundação Pedro Calmon.
Em seguida, às 19h, quem toma a palavra é o paulista Julián Fuks, ganhador do Prêmio Jabuti em 2016 com "A Resistência", um romance sobre uma família que sai da Argentina e corre para o Brasil, fugindo da ditadura militar. Fuks, que defende uma literatura engajada, vai debater com a contista cachoeirana Aidil Araújo Lima o tema "Pequenas revoluções em nossas trincheiras cotidianas", com mediação do poeta e professor Wesley Correia.
Na sexta-feira, a programação inicia a partir das 10h. A escritora e crítica literária Noemi Jaffe e o poeta, músico e artista plástico mineiro Ricardo Aleixo (conhecido por suas performances políticas) compõem a mesa "A leveza das orquídeas mais pesadas que a ventania", com mediação da poeta e professora Mônica Menezes.
Pela tarde, os debates continuam às 15h com o romancista e crítico mineiro Silviano Santiago e o escritor baiano Marcus Vinícius Rodrigues, que integram a mesa "A feroz inquietude da escrita", com mediação da professora Luciene Azevedo.
No sábado, a jornalista e escritora gaúcha Eliane Brum e a escritora baiana Catarina Guedes participam da mesa "Um olhar feminino sobre a arte de sujar sapatos", com mediação da jornalista e professora Malu Fontes, a partir das 10h.
E no domingo, às 10h, encerrando a Flica 2018, o evento "Diálogos Insubmissos de Mulheres Negras", com temas sobre as mulheres negras, suas dores, desejos, medos, e lutas por sobrevivência, que, nessa edição especial em Cachoeira, trará uma mesa com a professora Florentina Souza e a filósofa Manuela Barbosa, com mediação da coordenadora dos Diálogos, Dayse Sacramento, e participação especial do Coletivo Zeferinas.
Eliane Brum e Patricia Hill Colins - Foto: Lilo Clareto/Divulgação
Homenagem - Tem sido assim desde 2011: Cachoeira, a 120 km de Salvador, se transforma com a festa literária; recebe baianos, turistas, autores nacionais e internacionais, figuras do mercado livreiro em torno de debates, lançamentos, exposições, contações de histórias e saraus. Fora da programação oficial e bastante variada, o evento continua em bares e restaurantes. Em 2017, estima-se que 35 mil pessoas circularam pela cidade nos quatro dias de festa.
Desde 2014, a Flica alterna entre homens e mulheres homenageados, não só da Bahia, mas de outros estados. No ano passado, o poeta Ruy Espinheira Filho foi o nome da vez. Antônio Torres, Mãe Stella e Ana Maria Machado também já estiveram nesse lugar. A escolha de Conceição Evaristo, segundo o curador Tom Correia, surgiu naturalmente.
Negra, mineira de BH, professora e educadora, uma das autoras brasileiras mais reconhecidas na atualidade, Conceição Evaristo, 71 anos, foi recentemente indicada para ocupar uma vaga na Academia Brasileira de Letras (ABL). Escreveu livros marcantes como "Ponciá Vicêncio", "Becos da Memória", "Insubmissas Lágrimas de Mulheres", "Histórias de Leves Enganos e Parecenças" e a obra com o qual conquistou o Prêmio Jabuti: "Olhos D’ Água" (2014). Pela segunda vez estará na Flica, participando da mesa "Admiráveis Olhos D´água Que Nos Contemplam", com mediação de Lívia Natália, no sábado, às 20h.
A Flica tem patrocínio do Governo do Estado e BNDES.
Fliquinha - Desde 2013, a Fliquinha é o lugar onde as crianças se encontram para ouvir histórias, assistir a peças e shows enquanto a Flica segue com o roteiro adulto. Com curadoria de Lilia Gramacho e Mira Silva, a programação conta este ano com 22 atrações.
Na quinta, a partir das 9h30, haverá contação de história com o ator Ângelo Flávio. Em seguida, às 10h30, o bate-papo será com a premiada autora baiana Gláucia Lemos. A partir das 11h30, os pequenos poderão curtir o espetáculo infantil "Cadeira de Brim".
No período da tarde, a programação continua, a partir das 14h30, com a contação de histórias e poesias com Luisa Mahim e Casa de Barro; às 15h30, o bate-papo com autor nacional será com o escritor e ilustrador Roger Mello, mediado por Mira Silva, e, em seguida, às 16h30, acontecerá a Sessão FICI (Festival Internacional de Cinema Infantil) no Cine Fliquinha, com a exibição de curtas. À noite, a Fliquinha promoverá um encontro para professores e pais com o autor Roger Mello, às 19h30.
Já no Dia das Crianças, na sexta, a partir das 9h30, a escritora Lulu Lima participa do bate-papo e fala sobre o livro "A Coruja Me Contou?". Em seguida, a partir das 10h30, a conversa com autor nacional será com o ilustrador e autor Odilon Moraes; e, no final da manhã, a partir das 11h30, os pequenos poderão conferir o espetáculo infantil "Saulus Em Busca da Ilha Perdida".
No período da tarde, a festa continua para a criançada, com a contação de histórias do grupo baiano Canastra Real, a partir das 14h30, e, em seguida, o bate-papo com a autora Ana Cláudia Bastos. Já às 16h30, acontece a apresentação do Teatro Griô. E, à noite, um bate-papo especial para professores e pais com o autor Odilon Moraes, às 19h30.
No sábado, a programação da Fliquinha continua, e a garotada irá conferir, a partir das 9h30, um bate-papo com os autores Cássia Valle, Adilson Passos, Renata Gobira e Luciana Silva. Às 10h30, o bate-papo com autor nacional será com a premiada ilustradora Ciça Fittipaldi. Encerrando a programação da manhã, às 10h30, o espetáculo do grupo de teatro Finos Trapos.
No período da tarde, a partir das 14h30, a autora baiana Emília Nunes bate um papo sobre o livro "Da Raiz do Cabelo Até A Ponta Do Pé". Em seguida, a partir das 15h30, pela primeira vez na Fliquinha, acontecerá um bate-papo com um autor internacional, e o convidado é o autor e ilustrador argentino Gusti, com a mediação de Mira Silva e Ciça Fittipaldi.
Encerrando a tarde, será realizado o espetáculo infantil "Os Fogatas", a partir das 16h30. À noite, a partir das 19h30, um bate-papo especial para professores e pais com os autores Gusti e Ciça Fittipaldi. Encerrando a programação da Fliquinha 2018, acontecerá o espetáculo musical com o grupo Quabales, no domingo, a partir das 9h30.
O quê: Flica - Festa Literária Internacional de Cachoeira
Quando: Entre 11 e 14 de outubro
Onde: Cachoeira. Mesas de debate (Claustro); Fliquinha (Cine-Theatro Cachoeirano)
Mais informações: No site oficial do evento