
Reações graves ao stress, transtornos de ansiedade e episódios depressivos estão entre as principais causas de afastamento de trabalhadores que precisaram de benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) por conta de adoecimento mental nos últimos anos.
Só no ano passado, foram mais de 471 mil afastamentos associados a questões de saúde mental em todo o país. A Agência Tatu analisou os dados e identificou que os números superam, inclusive, o ano de início da pandemia da Covid-19, 2020, em que aconteceram 289.697 afastamentos, representando um crescimento de 62%.
Os números analisados são do INSS e foram disponibilizados pelo Observatório da Segurança e Saúde do Trabalho, iniciativa coordenada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pelo Ministério Público do Trabalho (MPT).
O Sudeste concentrou o maior volume de benefícios concedidos, com 242.733 casos, seguido pelo Sul, com 99.869, enquanto o Nordeste ficou em terceiro lugar, com 70.417 afastamentos, o que representa 14% do total nacional.

Rio Grande do Norte apresenta maior taxa do Nordeste
De todo o país, Santa Catarina foi o estado com maior número proporcional de afastamentos por saúde mental, concedidos pelo INSS em 2024 no Brasil, com 454 a cada 100 mil habitantes. Em seguida aparecem Distrito Federal (425), Rio Grande do Sul (358) e Minas Gerais (334).
No Nordeste, o Rio Grande do Norte registra a maior taxa da região: 247 afastamentos por saúde mental a cada 100 mil habitantes. Em números absolutos, foram quase 8 mil licenças de trabalho concedidas ao longo do ano por motivos relacionados ao adoecimento mental.
Na região, o segundo estado com mais ocorrências é a Paraíba, com 192 afastamentos a cada 100 mil habitantes; seguido por Sergipe (166) e Ceará (145). Confira o mapa do país com a taxa de cada estado.

A psicóloga Rayane Lima explica que o ambiente profissional tem um peso direto sobre a saúde mental das pessoas. Segundo ela, a pressão por resultados e a busca por estabilidade fazem com que muitos trabalhadores ignorem seus próprios limites.
“Diante da necessidade de sobrevivência no mercado de trabalho, muitas vezes o trabalhador coloca suas questões emocionais em segundo plano, administrando os conflitos de forma automática até que o corpo e a mente não suportem mais, manifestando o adoecimento psíquico”, afirma.
Rayane ressalta ainda que o aumento expressivo dos casos de adoecimento mental no último ano pode estar ligado ao contexto pós-pandemia.
“O adoecimento psíquico já era uma realidade antes da pandemia, mas as incertezas, o isolamento social, a sobrecarga e as mudanças abruptas nas rotinas intensificaram esse processo, trazendo novos desafios aos trabalhadores”.
A nutricionista e empreendedora Sthefanny Farias, que já trabalhou em diversos restaurantes de Maceió, sentiu na prática o impacto desse ambiente sobre o bem-estar emocional. Ela relata que a cobrança constante por metas e as comparações entre equipes eram fontes de desgaste.
“Esses momentos de pressão eram principalmente para bater metas. Também havia comparações entre unidades e gerentes, e esse tipo de competição acaba gerando um desgaste mental e físico”, conta.
A falta de organização e as exigências diárias aumentavam a tensão. Nesse período, Sthefanny enfrentou crises de ansiedade e dificuldades para dormir. As experiências a levaram a repensar sua trajetória e optar pelo empreendedorismo, onde encontrou mais autonomia, mesmo com os desafios.
“No próprio negócio, você acaba sendo tudo, e isso também é desgastante. Mas, por ser algo meu, se torna recompensador”, completou.

