
Professores, pilotos de avião, jornalistas e outros funcionários de empresas privadas estão sendo demitidos ou perdendo contratos de trabalho, ao redor do mundo, depois de comemorarem, em redes sociais, a morte do ativista americano Charlie Kirk, influenciador político conservador bastante ativo nos EUA, fundador do Turning Point USA. Ele era conhecido por discursos polêmicos e presença constante nos cenários conservadores.
Em 10 de setembro de 2025, durante evento universitário, ele foi baleado no pescoço por um atacante que estava num prédio próximo. Foi levado a hospital, mas não resistiu. A morte dele chocou o meio político dos dois lados do espectro, desencadeando reações de repúdio, luto e também de celebração online.
O secretário de Transportes, Sean Duffy, disse em 13 de setembro que vários pilotos empregados pela American Airlines foram afastados, e os funcionários da Delta Air Lines suspensos enquanto aguardam investigação. Um agente do Serviço Secreto americano está na lista.
No México, Salvador Ramírez, assessor de comunicação do partido de governo Morena, renunciou após comentários em programa de TV em que sugeriu que “Charlie Kirk recebeu um pouco do próprio remédio” por promover armas. O episódio provocou revolta online, pressão diplomática e um pedido público de desculpas da emissora.
No Reino Unido, George Abaraonye, presidente-eleito da Oxford Union, enfrenta processo disciplinar depois de postagens no WhatsApp e no Instagram que pareciam celebrar o tiroteio de Charlie Kirk, como “Charlie Kirk got shot, let’s fucking go” [Charlie Kirk foi baleado, vamos em frente]. A Oxford Union condenou os comentários, afirmou que eles são de iniciativa pessoal, mas está tratando formalmente a situação.
No Brasil, o historiador Eduardo Bueno é um dos que estão sofrendo as consequências de postagens em que consideravam um benefício a morte do ativista. Em vídeo publicado no Instagram ele afirmou: “É sempre terrível um ativista ser morto por suas ideias, exceto quando é o Charlie Kirk”. No mesmo vídeo disse que as duas filhas menores do ativista americano saem ganhando com a morte do pai.
Um evento marcado para o historiador na PUC?RS foi cancelado. Seu podcast “Nós da História” teve contrato interrompido.
Bueno fez uma retratação pública, dizendo que cometeu “deslizes e excessos” e que houve um “movimento orquestrado” contra ele por políticos de direita.
Um neurocirurgião de Recife corre o risco de ter o diploma cassado pelo Conselho Regional de Medicina. Ele fez uma postagem com o seguinte texto: “Um salve a este companheiro de mira impecável. Coluna cervical”.
As reações estão ocorrendo em diversos setores -- educação, mídia, esportes -- e levantam debates sobre liberdade de expressão, responsabilidade corporativa e os limites de conduta pessoal online.
As ações tomadas variam de acordo com a gravidade do discurso, a visibilidade do autor da postagem e sua posição profissional.
Implicações
Precedente no mercado de trabalho: Muitos observadores veem esse episódio como mais uma evidência de que expressar opiniões politicamente controversas online pode ter consequências sérias, inclusive para quem acredita estar exercendo liberdade de expressão.
Tensão pública e polarização: A polarização política nos EUA se aprofunda quando ocorre uma tragédia como esta. As linhas entre discurso de ódio, crítica política e comemorações da morte se tornam tema central de debates sobre valores civis e tolerância.
Dilemas institucionais: Empresas, universidades e organizações enfrentam o desafio de equilibrar seus princípios de conduta, reputação pública e direitos individuais. Políticas internas de redes sociais estão sendo testadas em tempo real.
"Demitam"
O movimento “Demitam os extremistas”, liderado pelo deputado federal Nikolas Ferreira (PL?MG), convoca empresas a demitirem funcionários que tenham comemorado, apoiado ou incentivado publicamente a morte de Charlie Kirk. O deputado publicou em suas redes sociais: “O movimento começou: demita os verdadeiros extremistas de sua empresa. Denuncie”.
Seus defensores afirmam que não se trata de cercear a liberdade de expressão, mas de responsabilizar condutas que, segundo eles, ultrapassam os limites aceitáveis ao endossar a morte de opositores políticos. Críticos, porém, enxergam riscos de perseguição ideológica, caça às bruxas e violação de direitos trabalhistas, alertando que a iniciativa pode incentivar demissões baseadas em opinião política, mesmo que legal, e aprofundar a polarização social.