
A instalação "Òná Ìrin: Caminho de Ferro", da artista Nádia Taquary, ocupa 355 metros quadrados do andar superior do Muncab e propõe uma imersão por meio de esculturas, trilhos, espelhos e símbolos da cultura afro-brasileira. Com curadoria de Marcelo Campos, Amanda Bonan e Ayrson Heráclito, a exposição promove um percurso simbólico e concreto pela vivência negra, destacando personagens femininas históricas e míticas, como as Geledés, as Yabás e as Ìyàmi Aje.
Logo na entrada, o público se depara com elementos afro-brasileiros e escolhe entre dois caminhos: à direita, encontra a sala Ego, com as guerreiras Geledés e a instalação “Abre-caminhos”, composta por balangandãs; à esquerda, acessa as Yabás e a sala do Oríkì, um cântico ancestral em homenagem a Ogum. Trilhos e espelhos criam a sensação de movimento contínuo, integrando o visitante à obra.
A iluminação suave, quase em penumbra, compõe a ambientação da mostra e contribui para a atmosfera sensível e introspectiva. As esculturas expostas incluem figuras aladas e sereias, como a representação de Iemanjá, além de joias que remetem à tradição afro-brasileira. Esses elementos reforçam a conexão entre identidade, resistência, poder e ancestralidade das mulheres negras.
A trilha sonora, criada por Tiganá Santana e interpretada por Virgínia Rodrigues, intensifica a experiência imersiva, ampliando a percepção das narrativas visuais. A expografia é assinada pela arquiteta Gisele de Paula, com montagem da RCD Produção de Arte.
A exposição é uma realização da Sociedade Amigos da Cultura Afro-brasileira (AMAFRO), em parceria com a Secretaria de Cultura e Turismo de Salvador. A mostra foi concebida originalmente pelo Museu de Arte do Rio (MAR) e correalizada pela Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI). A prorrogação em Salvador ocorre por meio de patrocínio da Petrobras, via Lei Federal de Incentivo à Cultura, do Ministério da Cultura.
A escolha da exposição para o Muncab foi feita por Jamile Coelho, diretora artística do museu. Ela destaca o impacto da mostra: “É uma exposição que não apenas impacta o olhar, mas transforma a escuta, a percepção e o entendimento sobre o papel das mulheres negras na construção da sociedade”, afirma. “As pessoas saem daqui emocionadas, muitas vezes em silêncio, como quem passou por um rito de reconhecimento — de si e de outras”.
No mesmo andar inferior, permanece em cartaz a mostra “Encruzilhadas da Arte Afro-brasileira”, que reúne obras de 69 artistas negros brasileiros, entre eles Arthur Timótheo da Costa, Rubem Valentim, Maria Auxiliadora, Mestre Didi e Lita Cerqueira. Ambas as exposições compõem a programação do Muncab, voltada à valorização da arte e cultura negra no Brasil.
Anote
Local: Muncab (Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira) - Rua das Vassouras, 25, Centro Histórico de Salvador, Bahia
Visitas: até domingo, 10 de agosto, das 10h às 17h (acesso até às 16h30)
Entrada: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)
Gratuidade: Quartas-feiras e domingos