A sinagoga Bet Jacob, em Santos, no litoral paulista, foi alvo de um ataque antissemita. As paredes do templo religioso receberam pichações que podem ser consideradas um caso de ódio aos judeus, de acordo com a definição de antissemitismo da Aliança Internacional em Memória do Holocausto (IHRA).
“Injustamente, as inscrições atribuírem aos judeus brasileiros, enquanto coletividade, certo grau de responsabilidade pelas ações do Estado de Israel — o que, além de não ser verdadeiro, remete ao antigo estereótipo antissemita de que os judeus são mais leais a Israel e a causas judaicas internacionais do que aos países dos quais são cidadãos. Acusações desse tipo eram comuns na Alemanha nazista durante o Holocausto”, explica André Lajst, presidente-executivo da StandWithUs Brasil, organização que promove a educação sobre Israel e o Oriente Médio como o caminho para a paz.
O cientista político demonstra preocupação com o episódio ocorrido em Santos, e ressalta: “uma sinagoga é um local de culto, e não deveria ser vandalizada por motivos políticos — até porque os fiéis que a frequentam são brasileiros com diversidade de opinião sobre vários assuntos, inclusive sobre a guerra em andamento entre Israel e o grupo terrorista Hamas”.
"A Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp) vê com muita preocupação essa importação do conflito, ainda mais em Santos, que é uma cidade que nunca teve esse histórico. Pelo contrário, as comunidades vivem muito bem em Santos e no Estado de São Paulo como um todo. Não podemos importar o conflito", declarou o presidente executivo da Fisesp, Ricardo Berkiensztat.
Antissemitismo no Brasil
No Brasil, as denúncias de antissemitismo no Brasil cresceram mais de 961%, em uma comparação entre outubro de 2023, mês em que ocorreram os atentados terroristas do Hamas em Israel, e o mesmo período de 2022, de acordo com a Confederação Israelita do Brasil (CONIB).
O Estado de Israel chegou a emitir um alerta de viagem para os cidadãos israelenses que desejam vir ao país saibam que o ambiente pode ser hostil à presença deles.
Segundo Lajst, “são necessárias ações urgentes para combater o antissemismo no país, que se manifesta de tantas formas diferentes na atualidade, e isso exige informação e recursos. Cada cidadão precisa fazer sua parte, buscando informação e exigindo respeito a todo um povo e cultura que sofrem com ódio e violência há muito tempo”, explica o especialista em Oriente Médio. “O papel de instituições como a StandWithUs, que promove a educação sobre Israel em escolas e faculdades públicas e particulares de todo o Brasil, é essencial para o aumento dessa conscientização.”
A comunidade judaica em São Paulo está mobilizada pelo caso da sinagoga Bet Jacob, e providências cabíveis já foram tomadas junto às forças públicas.
Entenda
O antissemitismo é uma determinada perceção dos judeus, que se pode exprimir como ódio em relação aos judeus. Manifestações retóricas e físicas de antissemitismo são orientados contra indivíduos judeus e não judeus e/ou contra os seus bens, contra as instituições comunitárias e as instalações religiosas judaicas.
As manifestações podem ter como alvo o Estado de Israel, encarado como uma coletividade judaica. No entanto, as críticas a Israel, semelhantes às dirigidas contra qualquer outro país, não podem ser consideradas antissemíticas. O antissemitismo acusa frequentemente os judeus de conspirarem para prejudicar a Humanidade e é utilizado, muitas vezes, para culpar os judeus pelas «coisas que correm mal». É expresso oralmente, por escrito, sob forma visual e através de ações, utilizando estereótipos sinistros e traços de personalidade negativos.
Tendo em conta o contexto global, exemplos contemporâneos de antissemitismo na vida pública, nos meios de comunicação social, nas escolas, no local de trabalho e na esfera religiosa podem incluir mas não se limitam a:
-- Apelar, ajudar ou justificar o assassínio ou os maus tratos a judeus em nome de uma ideologia radical ou de uma visão extremista da religião.
-- Fazer alegações enganosas, desumanizadoras, demonizadoras ou estereotipadas sobre os judeus como tal ou sobre o poder dos judeus como um coletivo – tais como, em particular mas não exclusivamente, o mito de uma conspiração judaica mundial ou de os judeus controlarem os meios de comunicação social, a economia, o governo ou outras instituições societais.
-- Acusar os judeus como povo de serem responsáveis por irregularidades reais ou imaginárias, cometidas por um judeu ou um grupo judaico, ou até por atos cometidos por não judeus.
-- Negar o facto, o âmbito, os mecanismos (por exemplo, as câmaras de gás) ou o carácter intencional do genocídio do povo judeu às mãos da Alemanha nacional-socialista e seus apoiantes e cúmplices durante a II Guerra Mundial (o Holocausto).
-- Acusar cidadãos judeus de serem mais leais a Israel, ou às alegadas prioridades dos judeus a nível mundial, do que aos interesses das suas próprias nações.
-- Negar ao povo judeu o seu direito à autodeterminação, por exemplo afirmando que a existência do Estado de Israel é um empreendimento racista.
-- Aplicar uma dualidade de critérios, requerendo um comportamento que não se espera nem exige de qualquer outra nação democrática.
-- Utilizar símbolos ou imagens associados ao antissemitismo clássico (por exemplo, alegações de os judeus terem matado Jesus ou do libelo de sangue) para caracterizar Israel ou os israelitas.
-- Efetuar comparações entre a política israelita contemporânea e a dos nazis.
-- Considerar os judeus coletivamente responsáveis pelas ações do Estado de Israel.
Os atos antissemíticos são crimes quando assim definidos por lei (por exemplo, a negação do Holocausto ou a distribuição de material antissemítico em alguns países).
Os atos criminosos são antissemíticos quando os alvos dos ataques, quer sejam pessoas ou bens – tais como edifícios, escolas, locais de culto e cemitérios -, são selecionados porque são judaicos ou associados aos judeus, ou vistos como tal;
A discriminação antissemítica consiste na recusa aos judeus de oportunidades ou serviços disponibilizados a terceiros e é ilegal em muitos países.