Tecnologia

ONU envia sementes ao espaço em busca de plantas mais resistentes

Experimento tem objetivo de desenvolver culturas que se adaptem à mudança climática

Foto: Nasa
Os astronautas Jessica Watkins e Bob Hines cultivam planta no espaço

A Agência Internacional de Energia Atômica, Aiea, e a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, FAO, enviaram sementes ao espaço intensificando seus esforços conjuntos para desenvolver novas culturas capazes de se adaptar à mudança climática.

As sementes dos laboratórios de agricultura e biotecnologia das agências estão viajando para a Estação Espacial Internacional enquanto os líderes se reúnem na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, COP27, em Sharm El Sheikh, no Egito.

Na agenda, também são esperados debates sobre o impacto da crise climática nos sistemas de produção agroalimentar em todo o mundo.

Para o diretor-geral da Aiea, Rafael Mariano Grossi, a iniciativa é mais uma forma de demonstrar a capacidade da ciência nuclear para o enfrentamento das mudanças climáticas.

Ele adicionou que espera que o experimento traga avanços, como resultados que possam ser compartilhados com cientistas e novas culturas que ajudem agricultores a se adaptarem ao clima e aumentarem o suprimento de alimentos.

O diretor-geral da FAO, Qu Dongyu, afirmou que os milhões de pequenos agricultores do mundo precisam de sementes resilientes e de alta qualidade adaptadas a condições de cultivo cada vez mais desafiadoras.

Segundo o líder da FAO, a ciência pode ajudar a pavimentar o caminho para um futuro melhor de melhor produção, melhor nutrição, um ambiente melhor e uma vida melhor.

Sementes de Arabidopsis, uma planta comumente usada em experimentos genéticos devido às suas características, e sorgo, um grão com diversos nutrientes usado para alimentação humana, ração animal e etanol, serão expostos dentro e fora da Estação Espacial Internacional por aproximadamente três meses à microgravidade, uma mistura complexa de radiação cósmica e temperaturas extremamente baixas.

Após o seu retorno, os cientistas do Centro Conjunto FAO/Aiea de Técnicas Nucleares em Alimentação e Agricultura vão monitorar os grãos e as plantas em busca de características úteis para entender possíveis mutações e identificar novas variedades.

As novas variedades podem ajudar agricultores e tomadores de decisão, que precisam fazer mudanças e investimentos substanciais na adaptação a um clima em mudança, a sustentar a produção e a qualidade dos alimentos.

A pesquisa em andamento é baseado em quase 60 anos de ação conjunta das agências na indução de mutações em plantas e desenvolvimento novas variedades de culturas agrícolas.

Até agora, cerca de 3,4 mil variedades de mais de 210 espécies de plantas desenvolvidas usando variação genética induzida e reprodução de mutações foram oficialmente liberadas para uso comercial em 70 países.

No entanto, este experimento será a primeira vez que a Aiea e a FAO realizarão análises genômicas e biológicas de sementes expostas à mutagênese espacial. Na Estação Espacial Internacional, as sementes serão expostas a condições únicas que não podem ser reproduzidas em laboratório na Terra.

Um objetivo do ensaio também é comparar essas sementes com as expostas à radiação em condições de laboratório para estudar o DNA e os efeitos do crescimento.

Este projeto fará parte do portfólio de projetos de mudanças climáticas da Aiea e FAO que visa ajudar os países a se adaptarem às novas realidades climáticas, incluindo escassez de alimentos e água e perdas de biodiversidade, por meio da ciência e tecnologia nuclear.

Na COP27, as entidades recebem um evento no dia 15 de novembro para destacar como o planejamento e a gestão conjunta de energia, alimentos e recursos hídricos podem contribuir para o desenvolvimento resiliente ao clima.