Vimos, na primeira parte desta série (veja o link ao lado), como os homens utilizavam os mais diferentes objetos – desde açúcar a dentes de animais e tartarugas – para facilitar a troca de mercadorias. A moeda só começou a ser fabricada a partir do primeiro milênio antes de Cristo.

O formato, naquele tempo, não era circular, como hoje. As primeiras versões lembravam muito os utensílios e objetos utilizados no dia-a-dia. Existiam moedas parecidas com pão, machado, facões, espetos e aneis. Depois evoluíram para barras, gotas e lingotes.

Moeda-ponte, da China Antiga, cunhada em bronze, em 400 a.C., pela Dinastia Zhou. Mede 90mm. Pesa 10,2g. 

Na primeira metade do século VII a.C. criaram-se moedas a partir de pequenos globos de metal, sobre os quais os comerciantes marcavam seu sinete, como garantia do peso e da qualidade, método que mais tarde evoluiu para conter uma inscrição indicando a origem e o seu valor.

Os primeiros a forjá-las foram os reis da Lídia, na Anatólia. Um rei lídio, chamado Creso, criou, em 550 a.C., as primeiras moedas de ouro e prata. O rei persa Dario, que conquistou a Lídia e herdou seu sistema monetário, foi a primeira personalidade a ter o retrato cunhado em moedas, no ano 330 a.C.

Moeda com a efígie do rei Dario

Quando os romanos decidiram cunhá-las, construíram sua casa de cunhagem no templo da deusa Juno Moneta. Do seu nome derivaram as palavras "moeda", em português; "monnaie", em francês; "moneta", em italiano; "money", em inglês; "moneda", em espanhol, "münze, em alemão.

A reprodução do tempo da deusa Juno Moneta

A paternidade das moedas não pode ser atribuída a uma só pessoa. Ela foi fruto da evolução, mas segundo alguns historiadores são uma invenção dos reis da Macedônia, do rei Fidone de Argo, dos administradores da ilha e Egina, ou do povo chinês, que na verdade criou o papel-moeda. 

Isso ocorreu no ano 650 d.C., durante o reinado da poderosa dinastia Tan (618 d.C. a 907 d.C.), quando circulava enorme quantidade de pequenas moedas de cobre, chamadas iuam-pao, com peso de 3,8 gramas e baixo valor unitário.

Para comprar alguma coisa mais valiosa os chineses se viam obrigados a carregar um número muito grande de moedas. O transporte e contagem não eram tarefas das mais agradáveis. Foi então que, no ano 650, para facilitar a circulação mercantil, o imperador emitiu o papel-moeda, chamado pao-tsao, empregado somente nas transações vultosas, porque não havia moeda fracionária.

Um pao-tsao valia 10 mil iuam-pao.

A quantidade de papel-moeda existente no mercado era igual à de moeda-metálica. Os chineses podiam trocar o papel pela moeda e vice-versa, a qualquer momento que desejassem. 

Como era cômodo carregar os bilhetes e, porque havia a garantia de troca, aos poucos aqueles passaram a ser preferidos. Aí aconteceu o desastre.

No ano 751, o Império Chinês foi invadido pelos árabes e, depois, pelos tibetanos. O imperador aumentou os impostos, para cobrir as despesas de guerra, mas elas eram tão elevadas que a medida foi insuficiente. Ele, então, teve a pior ideia de sua vida: ordenou que fosse emitida uma grande quantidade de papel-moeda, sem que houvesse o correspondente em moeda metálica ou mercadorias. É o que chamamos emissão sem lastro.

O que aconteceu? Quando as pessoas tinham o papel-moeda tentavam trocá-lo por moeda metálica e nem sempre havia quantidade disponível.

Os mercadores se viram, de repente, com um maço de papel nas mãos que não valia nada. Entraram em pânico e começaram a se desfazer dos pao-tsao. Trocavam por qualquer quantidade de moeda.

Quem ainda se dispunha a aceitar papel-moeda em troca de mercadorias exigia uma quantidade maior do que o normal, porque sabia que na hora da conversão teria problemas.

Perceberam qual o monstro que o imperador chinês acabara de criar? Não? Uma dica: o que ocorre quando precisamos cada vez mais dinheiro para comprar um produto? Exatamente: inflação.

A inflação chinesa alimentou-se, sem maiores problemas, até o ano 806, quando foi decretado o primeiro choque econômico para combater o problema. Numa tentativa desesperada para salvar o pao-tsao, o imperador decretou pena de morte a todos os que tivessem em seu poder mais de 50 mil iuam-pao.

Vemos que desde aquela época os governantes tentam enfrentar a inflação levando todo mundo à miséria.

Qual era a ideia do imperador chinês? Se todos se desfizerem ao máximo do papel-moeda, logo ele será uma raridade. Sem dinheiro no mercado, os preços forçosamente cairão, deve ter raciocinado o imperador. O mesmo raciocínio que, séculos depois, iria ser defendido pelos monetaristas.

Em tempo: o choque chinês foi pro brejo (o de Collor, também). Àquela altura, o pao-tsao estava inteiramente desmoralizado e os mercadores arruinados.

Em 1470, a dinastia Sun emitiu novamente papel-moeda, agora chamada pen-tsen. Para assegurar sua aceitação o imperador decretou que quem se recusasse a recebê-lo seria condenado à morte. Surgia o papel-moeda de curso forçado. As pessoas eram obrigadas, forçadas a receber.

A ideia perdura até hoje, embora a pena para quem se negue a aceitar a moeda não seja mais a condenação à morte. No Brasil, por exemplo, o real é de curso forçado. Ou seja: se alguém faz um pagamento em dinheiro a outra parte não pode se recusar a receber, exigindo outra forma de pagamento. Nem mesmo pode exigir, por exemplo, cédulas de outro valor. Se o devedor resolver pagar o débito com moedas do menor valor em circulação o credor é forçado a aceitá-las. 

Para encurtar a conversa: o pen-tsen acabou indo, também, pro vinagre, por causa de novas guerras, que elevaram as despesas e levaram o imperador a emitir sem lastro, alimentando a inflação.

O papel-moeda continou tendo problemas, ao longo dos tempos, até que o pequeno escocês John Law, de 12 anos, resolveu ir ao bosque antes de uma tempestade.

Mas essta história nós vamos ficar conhecendo na terceira parte dessa série, semana que vem.