Representantes da Anvisa e agentes da Polícia Federal entraram em campo, na tarde deste domingo (5 de setembro), para retirar jogadores da Seleção Argentina que estavam no Brasil após mentirem para a imigração. Os jogadores argentinos serão multados e deportados do Brasil.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou, em nota oficial publicada no início da tarde deste, que quatro jogadores da seleção argentina descumpriram regras sanitárias para entrar no Brasil.
De acordo com o comunicado, Emiliano Martinez, Emiliano Buendia, Giovani Lo Celso e Cristian Romero, que estão em São Paulo para disputa das Eliminatórias da Copa do Mundo, deveriam ser colocados em quarentena e mandados de volta ao país de origem, pois mentiram na hora de desembarcar em território brasileiro.
A operação da Polícia Federal e da Anvisa seria realizada no vestiário, mas a delegação argentina se trancou e afirmou que iria embora caso alguém entrasse no local. O jogo começou e, aos cinco minutos, a partida foi paralisada na Neo Química Arena, em São Paulo. Naquele momento, agentes da Anvisa e da Polícia Federal conversaram com o delegado da partida para paralisar o duelo.
Depois disso houve um início uma confusão na beira do gramado. Até Messi e Neymar tentaram intervir, mas o clássico foi paralisado. Todos os jogadores da Argentina desceram ao vestiário, assim como os reservas do Brasil. Os titulares brasileiros permaneceram no gramado.
A Polícia Federal acompanhou a Anvisa até o hotel onde estava a seleção argentina, em São Paulo A delegação já havia deixado o local. Os policiais federais e a agência foram, então, para o estádio do Corinthians. No local, os jogadores foram notificados por infração sanitária, como está previsto em lei. A questão está sendo acompanhada pelo Ministério da Saúde e pelo Ministério da Justiça.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) havia emitido uma nota oficial antes da partida para alertar que quatro jogadores da seleção argentina havia descumprido regras sanitárias para entrar no Brasil.
De acordo com o comunicado, Emiliano Martinez, Emiliano Buendia, Giovani Lo Celso e Cristian Romero deveriam ter sido colocados em quarentena e mandados de volta ao país de origem, pois mentiram na hora de desembarcar em território brasileiro. Três deles foram escalados entre os titulares pelo técnico Lionel Scaloni e Buendia ficou entre os suplentes.
Jogadores mentiram
O time da Argentina enfrentou a Venezuela na última quarta-feira, na casa dos adversários, e desembarcou em Guarulhos na sexta-feira, para enfrentar o Brasil neste domingo, na Neo Química Arena.
No aeroporto, os jogadores foram questionados se tiveram passagem por Reino Unido, África do Sul, Irlanda do Norte e Índia nos últimos 14 dias. Desde junho, passageiros que visitaram esses países no período de duas semanas são impedidos de entrar no Brasil, como precaução contra a disseminação da variante delta do coronavírus.
A resposta dos atletas foi negativa, mas os quatro atuaram em partidas do Campeonato Inglês entre os dias 28 e 29 de agosto. Martinez e Buendía jogam pelo Aston Villa, enquanto Lo Celso e Romero integram o elenco do Tottenham. Por isso, a entrada deles no país foi considerada ilegal, e a Anvisa notificou a Polícia Federal orientando medidas que impeçam a circulação dos argentinos.
"Diante da confirmação de que as informações prestadas pelos viajantes eram falsas, a Anvisa esclarece que já comunicou o fato à Polícia Federal, a fim de que as providências no âmbito da autoridade policial sejam adotadas imediatamente. Há notório descumprimento da Portaria Interministerial nº 655/2021 e às normas de controle imigratório brasileiro. A Anvisa considera a situação risco sanitário grave, e por isso orientou às autoridades em saúde locais a determinarem a imediata quarentena dos jogadores, que estão impedidos de participar de qualquer atividade e devem ser impedidos de permanecer em território brasileiro."
Emiliano Martinez, Emiliano Buendia, Giovani Lo Celso e Cristian Romero treinaram normalmente no Parque São Jorge durante o sábado. A informação sobre as declarações falsas chegou à Anvisa no mesmo dia, mas o resultado das apurações só foi informado na nota oficial publicada nesta tarde, horas antes da partida contra o Brasil, iniciada às 16 horas.
"Chegamos nesse ponto porque tudo aquilo que a Anvisa orientou, desde o primeiro momento, não foi cumprido. Eles tiveram orientação para permanecer isolados para aguardar a deportação. Mas não foi cumprido. Eles se deslocam até o estádio, entram em campo, há uma sequência de descumprimentos", disse Antonio Barra Torres, diretor-presidente da Anvisa.
Segundo ele, a Argentina estava avisada das irregularidades. "Nós avisamos no momento da chegada dos jogadores que eles não poderiam estar no Brasil, para voltar ao país de origem e que fizessem uma quarentena, antes. O que houve foi um ‘pagar para ver’. Um ‘não vou cumprir, não vai dar em nada.”
O presidente da Anvisa ainda afirmou que, agora, os atletas deverão ser deportados e multados, apontando agravantes na infração de terem entrado no país sem a quarentena requerida.
“Esses quatro atletas serão deportados e, antes de deixarem o país, serão autuados e multados. Houve alguns agravantes, porque eles já seriam por terem assinado a declaração de saúde dos viajantes, ou seja, omitiram a passagem pelo Reino Unido”, apontou.
“Houve, também, a outra infração que foi não cumprir a quarentena, quando foi determinado. E, obviamente, a outra foi pela situação de estar no estádio, que vão precisar das informações de quem estava no estádio”, disse.
Conmebol sai de baixo
No Twitter, a Conmebol, que segundo a delegação argentina autorizou a escalação dos jogadores, jogou o problema para a Fifa, que "determinará os passos seguintes". A Conmebol destacou que as Eliminatórias para a Copa do Mundo são uma responsabilidade da Fifa e que são responsabilidade da instituição todas as decisões que dizem respeito à competição.
Agora, o árbitro e o comissário do jogo enviarão um relatório ao Comitê Disciplinar da Fifa, que determinará as etapas a serem seguidas.
Autoridades disciplinares da Fifa vão examinar o que ocorreu para a anulação do jogo entre Brasil e Argentina, neste domingo, na Neo Química Arena, pelas Eliminatórias para a Copa do Mundo do Catar, para "tomar uma decisão" sobre o caso. Eles lamentaram o episódio nesta segunda-feira e prometem uma resposta.
"A Fifa lamenta as cenas que antecederam a suspensão da partida entre Brasil e Argentina, que impediu milhões de torcedores de assistir a uma partida entre duas das mais importantes nações do futebol mundial", disse o órgão, em nota oficial.
A entidade ainda revelou que já está estudando todo o ocorrido para tomar uma medida que não prejudique os envolvidos. "Já foram enviados os primeiros relatórios oficiais à Fifa. Estas informações serão analisadas pelos órgãos disciplinares competentes e será tomada uma decisão", acrescentou.
Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que apoia as recomendações da Anvisa em relação aos jogadores argentinos. "O Ministério da Saúde informa que apoia e reconhece as recomendações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), autoridade em saúde responsável pelas ações de vigilância sanitária do país."
A CBF criticou a Anvisa por ter interrompido a partida entre Brasil e Argentina.
Veja nota oficial da CBF
A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) lamenta profundamente os fatos ocorridos e que acabaram por provocar a suspensão da partida entre Brasil e Argentina, válida pelas Eliminatórias da Copa do Mundo FIFA Catar 2022.
A CBF defende a implementação dos mais rigorosos protocolos sanitários e os cumpre na sua integralidade. Porém ressalta que ficou absolutamente surpresa com o momento em que a ação da Agência Nacional da Vigilância Sanitária ocorreu, com a partida já tendo sido iniciada, visto que a Anvisa poderia ter exercido sua atividade de forma muito mais adequada nos vários momentos e dias anteriores ao jogo.
A CBF destaca ainda que em nenhum momento, por meio do presidente interino, Ednaldo Rodrigues, ou de seus dirigentes, interferiu em qualquer ponto relativo ao protocolo sanitário estabelecido pelas autoridades brasileiras para a entrada de pessoas no país. O papel da CBF foi sempre na tentativa de promover o entendimento entre as entidades envolvidas para que os protocolos sanitários pudessem ser cumpridos a contento e o jogo fosse realizado.
A CBF reitera sua decepção com os acontecimentos e aguarda a decisão da Conmebol e da FIFA em relação à partida.
A repercussão
A interrupção da partida entre Brasil e Argentina, causada pelo descumprimento de regras sanitárias por parte do selecionado argentino ganhou destaque nos principais jornais internacionais.
O Olé, diário esportivo mais famoso da Argentina, classificou o episódio como um "papelão mundial", sem criticar o descumprimento das normas sanitárias por parte dos jogadores argentinos.
"Incrível mas real... nunca antes foi visto um oficial de fora da partida entrar em campo e parar tudo. É o que aconteceu em São Paulo", publicou o periódico, como se alguma vez antes uma seleção houvesse levado a campo jogadores que mentiram para a alfândega com o objetivo de entrar no país.
O Clarín, também da Argentina, chamou a suspensão da partida de "escândalo", assim como o espanhol Marca, que publicou uma foto de Emiliano Buendía, Emiliano Martínez, Lo Celso e Cristian Romero viajando juntos para o confronto com o Brasil. O As, também da Espanha, destacou as informações falsas dadas pelos atletas: "Quatro jogadores argentinos falsificaram seus formulários".
O The Guardian colocou em sua manchete que as autoridades brasileiras "tentaram deportar" os quatro jogadores argentinos irregulares. O jornal destacou o comentário de Claudio Tapia, presidente da Associação de Futebol Argentino (AFA), que negou que os atletas tenham mentido.
"Existe uma legislação sanitária que rege todos os torneios sul-americanos. As autoridades sanitárias de cada país aprovaram um protocolo que temos cumprido ao máximo.", disse. "O que vivemos hoje é lamentável para o futebol, é uma imagem muito ruim."
O italiano La Gazzetta dello Sport escreveu que o jogo foi interrompido "por falta de quarentena", chamando os quatro atletas argentinos de "jogadores da discórdia". Na mesma linha, o francês L'Equipe citou a "violação de protocolos de covid".