Brasil / Economia

Cotação dólar continua em queda

A moeda encerrou a sessão com leve recuo, abaixo de R$ 5,19

Foto: Pixabay/Creative Commons
Ajustes técnicos ajudaram na queda da moeda

Depois da queda de 3,52% na semana passada, o dólar até ensaiou um movimento de alta nas primeiras horas de negócios espelhando cautela com os problemas locais, mas acabou perdendo fôlego ainda pela manhã e, após oscilar entre margens estreitas ao longo da tarde, encerrou a sessão com leve recuo, abaixo de R$ 5,19.

Segundo operadores, ajustes técnicos no mercado de câmbio, com agentes se preparando para a formação da Ptax de agosto na terça-feira, fluxos de exportadores e o ambiente externo favorável a divisas emergentes jogaram o dólar para baixo por aqui, apesar das preocupações em torno do ambiente político-institucional e das contas públicas.

Lá fora, o DXY - que mede o desempenho da moeda americana em relação a seis divisas fortes - operou entre estabilidade e ligeira queda ao longo da tarde, na casa de 92,600 pontos. O dólar perdia mais de 0,30% em relação ao peso mexicano e ao rand sul-africano, considerados pares do real.

Ainda ecoa no mercado o tom ameno do discurso de sexta-feira do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell. Embora tenha sinalizado o início da redução do volume mensal de bônus neste ano, Powell afirmou não há ligação direta entre o 'tapering' e o processo de alta de juros.

Por aqui, após rodar entre mínima R$ 5,1826 e máxima a R$ 5,2266, o dólar à vista encerrou a sessão desta segunda-feira a R$ 5,1893, baixa de 0,12%. No acumulado de agosto, a moeda norte-americana acumula desvalorização de 0,40%. Na B3, o dólar futuro para setembro apresentava giro reduzido, na casa de US$ 11 bilhões, refletindo o apetite reduzido por negócios.

O real poderia até ter se fortalecido de forma mais acentuada não fosse o clima de cautela com o Orçamento de 2022 (o prazo final para o Executivo enviar a lei ao Congresso é a terça-feira, 31), em meio à busca de soluções para compatibilizar o pagamento de precatórios e o Auxílio Brasil (ex-Bolsa Família) como respeito ao teto de gastos.

Não por acaso, operadores atribuíram parte da alta da moeda norte-americana no início do dia às tensões fiscais e política, na esteira do anúncio de que Banco do Brasil e Caixa estavam deixando a Febraban, por discordarem de teor de comunicado assinado pela entidade que supostamente traria críticas ao governo Jair Bolsonaro. Também se comentava sobre a apreensão com uma escalada retórica do presidente na semana que antecede os protestos de 7 de setembro.

Ao longo da tarde, o resultado melhor do que o esperado das contas do Governo Central em julho (déficit de R$ 19,829 bilhões, abaixo da mediada de Projeções Broadcast, de R$ 25,750 bilhões) e nota de esclarecimento da Febraban teriam contribuído para desanuviar o ambiente. Na nota, a entidade afirma que o texto "A Praça é dos Três Poderes", articulado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e "elaborado por representantes de diversos setores, inclusive o financeiro", buscava harmonia e não atacar o governo ou fazer oposição à política econômica.

Mais cedo, o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), haviam dado declarações a favor de uma solução negociada com o Judiciário para os precatórios (no lugar da PEC enviada pelo Executivo) e reforçado o compromisso com o teto de gastos. Pacheco e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) devem se reunir na terça com o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, para discutir o tema.

Para o head de mesa específica para câmbio e operações PJ, da Wise Investimentos, Gustavo Gomiero, a notícia do encontro entre Pacheco, Lira e Fux contribuiu para a perda de fôlego do dólar. "Se conseguir uma solução para adiar os pagamentos para o ano que vem, vai dar um alívio fiscal", afirma Gomiero, que vê um cenário propício para apreciação do real e afirma que o "dólar já estaria abaixo de R$ 5" não fossem as tensões políticas locais.

Na avaliação economista chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, os problemas fiscais e políticos continuam a prejudicar o desempenho do real, a despeito da percepção de fluxo de recursos de investidores estrangeiros, provavelmente para a renda fixa.

"Ainda tem essa equação a ser resolvida em torno de Auxílio Brasil, Precatórios e reforma do Imposto de Renda com a LOA (Lei Orçamentária Anual), que deve ser apresentada amanhã. Isso acaba atrapalhando a formação da taxa de câmbio", afirma Camila Abdelmalack, acrescentando que, como na terça tem formação da Ptax de agosto, o mercado já carrega um componente mais técnico, com movimento de exportadores no pré-fechamento do mês.

Juros

Os juros futuros tiveram alívio no período da tarde desta segunda-feira, quando bateram mínimas em vários contratos, mas ainda assim a curva fechou com leve ganho de inclinação. As taxas curtas ampliaram a queda e as demais zeraram a alta para encerrarem perto da estabilidade. O principal gatilho para a melhora veio com a divulgação das contas do Governo Central, com déficit menor do que o consenso, suavizando a percepção de risco fiscal. Na sequência, houve a nota de esclarecimento da Febraban, lida como uma tentativa de amenizar o desconforto trazido pelo manifesto pela harmonia dos Três Poderes, que levou Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal a decidirem deixar a entidade.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou em 8,395%, de 8,45% no ajuste de sexta-feira e a do DI para janeiro de 2025 caiu de 9,355% para 9,33%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 9,72%, de 9,713%.

O economista-chefe da Greenbay Investimentos, Flávio Serrano, explica que os números do Governo Central ajudaram não somente a ponta longa, mais sensível ao risco fiscal, mas também os DIs curtos. "Se o fiscal melhora, melhora o balanço de riscos (da inflação)", disse. O Governo Central teve déficit de R$ 19,829 bilhões em julho, menor do que apontava a mediana das expectativas, de saldo negativo de R$ 25,750 bilhões.

Ao mesmo tempo em que ainda há muito prêmio a ser devolvido na curva, também há muita incerteza no cenário que pode limitar a continuidade do alívio nos próximos dias. Na terça, tem de ser enviado ao Congresso o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2022, mas o mercado aguarda uma definição sobre a questão dos precatórios. O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse concordar em encaminhar uma solução pelo Judiciário, que segundo ele, é mais rápida e efetiva.

Há compasso de espera também pelo reajuste da bandeira vermelha 2, aguardado a qualquer momento para que haja tempo de vigorar já em setembro. A semana reserva ainda o PIB do segundo trimestre, na quarta, para o qual a mediana das estimativas é de alta de 0,2% na margem, ante expansão de 1,2% no primeiro trimestre. Na sexta-feira, tem o payroll americano de agosto.

Bolsa

O Ibovespa chegará na terça-feira à última sessão de agosto acumulando perda de 1,69% no mês, após o ajuste negativo de 0,78%, aos 119.739,96 pontos, nesta segunda-feira, 30, em que voltou a se dissociar do desempenho majoritariamente positivo em Nova York, com S&P 500 e Nasdaq em novas máximas históricas. Se, na sexta-feira, a B3 se alinhou ao discurso 'dovish' do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, no simpósio de Jackson Hole, nesta segunda-feira prevaleceu a cautela sobre o cenário doméstico, em semana que reserva leitura sobre o PIB do segundo trimestre e a definição do valor da tarifa de energia elétrica para setembro.

Além disso, a reversão do apetite por risco deriva também de disputa interna na Febraban e a expectativa para o que de fato virá no 7 de setembro, após o presidente Bolsonaro ter dito no fim de semana que trabalha com três cenários para o futuro: "prisão, morte ou vitória".

Refletindo as incertezas e a proximidade do fim do mês, o giro financeiro se mostrou fraco como na sexta-feira, nesta segunda-feira a R$ 25,2 bilhões. Entre a mínima e a máxima do dia, oscilou pouco mais de 1,3 mil pontos, de 119.354,12 a 120 684,47, saindo de abertura aos 120.677,33 pontos.

Aqui, "depois de encerrar o último pregão na máxima, nada mais natural do que uma correção para o mercado. E o volume muito abaixo da média corrobora essa expectativa - em movimento de queda liderado por bancos e construção", diz Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora. "Do lado das notícias, nada muito relevante para justificar essa correção, mas chamou atenção a desaceleração do IGP-M em agosto, de 0,78% para 0,66%, assim como a evolução entre os três Poderes com relação aos precatórios", diz Ribeiro.

"O mercado continua acompanhando as questões políticas, tensão que voltou a crescer no final de semana, com expectativa concentrada nas manifestações do 7 de setembro. O relatório Focus trouxe pela manhã aumento de projeções para câmbio e inflação, e menor para o PIB, o que contribui também para a cautela dos investidores", diz Bruno Madruga, head de renda variável da Monte Bravo Investimentos.

Na ponta negativa do Ibovespa, destaque para queda de 4,04% em Cyrela, à frente de Cogna (-3,83%) e de Yduqs (-3,76%). Na face oposta, Lojas Americanas (+2,86%), Americanas ON (+2,69%) e Minerva (+1,08%). O dia foi negativo para as ações de commodities (Petrobras ON -1,24%, Vale ON -0,64%) e bancos (Bradesco PN -1,07%, BB ON -0,95% e Itaú PN -0,72%).