A experiência do isolamento é um desafio para a saúde mental de qualquer pessoa. Mas um novo estudo constatou que aqueles que continuaram os seus hobbies durante o lockdown tiveram um período mais equilibrado comparados a quem simplesmente se manteve ocupado com atividades sem nenhum significado.
De acordo com pesquisadores da Instituto Real de Tecnologia de Melbourne, na Austrália, pessoas que adaptaram os seus hábitos de lazer para a realidade de distanciamento superaram melhor o tempo isolados em casa.
Um exemplo foram as pessoas que trocaram a caminhada matinal com amigos por sessões de exercícios pelo Zoom. Segundo a autora principal da pesquisa, Lauren Saling, esses indivíduos tiveram uma sensação de recompensa maior do que quem começou uma atividade sem grande motivação pessoal, como pintura ou confeitaria, apenas para manter a mente ocupada durante o isolamento.
Lauren afirma que simplesmente passar o tempo realizando atividades sem significado deixou as pessoas inquietas e insatisfeitas. “A ocupação pode distrair, mas não necessariamente é gratificante. Em vez disso, pense sobre quais atividades você mais sente falta e tente encontrar uma maneira de realizá-las”, recomenda.
A pesquisa publicada pelo periódico Plos One avaliou o nível de bem-estar dos participantes antes e durante o distanciamento social. As pessoas analisadas também indicaram quanto tempo passaram envolvidos em diferentes atividades, e o quão importante era cada uma delas.
Embora os participantes tenham relatado sentir emoções positivas depois de iniciar hábitos "sem sentido", como assistir TV em excesso, essas atividades também proporcionaram mais emoções negativas. Ou seja, eles se sentiram tão felizes quanto infelizes. Já adaptar atividades que davam prazer – como jantar com amigos por meio de videochamadas – trouxe emoções mais moderadas.
“Emoções extremas não são necessariamente uma coisa boa. As emoções são um mecanismo para fazer você mudar o seu comportamento. Mas quando você está fazendo o que ama, faz sentido se sentir mais equilibrado. Simplesmente se manter ocupado não é satisfatório”, salienta a pesquisadora. Lauren explica que a mera ocupação irrita, levando o indivíduo a mudar o seu comportamento. Já uma atividade significativa e prazerosa acalma.
“O estudo desafiou as suposições de que estamos felizes ou tristes e que podemos evitar a tristeza nos mantendo ocupados”, acrescenta. Porém, em vez disso, as pessoas que se mantiveram ocupadas com tarefas vazias se sentiam mais frustradas. E mesmo quando estavam felizes, sentiam-se menos realizadas.
“O estudo mostrou que os afetos positivos e negativos trabalham juntos, não em oposição. Os entrevistados que simplesmente permaneceram ocupados durante o lockdown relataram um aumento nas emoções positivas e negativas.
Essa emoção elevada tende a afastá-los das atividades em geral, entre elas, as que seriam significativas para eles”.
O estudo ainda descobriu que mudanças mais intensas nas emoções positivas foram vividas por pessoas com menos de 40 anos.
Lauren acredita que isso seja porque é mais difícil para essa faixa etária substituir as atividades significativas em um contexto de lockdown.