Brasil / Segurança

Operação busca prender 43 doleiros no Brasil e Uruguai

Também foi determinada a prisão temporária de operadores financeiro

O Ministério Público Federal, a Polícia Federal e a Receita Federal realizam nesta quinta-feira (3/5), a operação “Câmbio. Desligo”, com o apoio de autoridades uruguaias, para desarticular um esquema de movimentação de recursos ilícitos no Brasil e no exterior por meio de operações dólar-cabo, entregas de dinheiro em espécie, pagamentos de boletos e compra e venda de cheques de comércio.

Foram expedidos 43 mandados de prisão preventiva contra doleiros que atuaram ao longo de décadas de forma interligada em diferentes núcleos dessa rede de lavagem de dinheiro e evasão de divisas.

Também foi determinada a prisão temporária de operadores financeiros, com o intuito de garantir a efetividade das diligências. Os mandados estão sendo cumpridos no Uruguai e nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Distrito Federal.

As investigações partiram da colaboração premiada dos doleiros Vinícius Claret, conhecido como Juca Bala, e Cláudio Barboza, conhecido como Tony ou Peter. Eles foram presos em 3 de março de 2017, no Uruguai, e intermediavam operações dólar-cabo para os irmãos Chebar, também doleiros e operadores financeiros do esquema do ex-governador Sérgio Cabral.

Em colaboração premiada, Renato Chebar reconheceu que o volume de operação de compra de dólares aumentou consideravelmente a partir do início da gestão de Sérgio Cabral em 2007, motivo pelo qual foi necessário buscar os recursos de Juca e Tony para viabilizar as operações.

“Os colaboradores Juca e Tony funcionavam como verdadeira instituição financeira, fazendo a compensação de transações entre vários doleiros do Brasil, servindo como 'doleiros dos doleiros', indicando clientes que necessitavam dólares (compradores) e que necessitavam reais”, explicam os procuradores da República que integram a força-tarefa da Lava Jato no Rio de Janeiro.

Junto com Dario Messer, dono de casas de câmbio, eles montaram uma complexa rede de câmbio paralelo sediada inicialmente no Brasil e, a partir de 2003, no Uruguai, de onde comandavam remotamente os negócios.

Os dois doleiros tinham um volume diário de operações nos anos de 2010 a 2016 de aproximadamente R$ 1 milhão. Para controlar as transações, os colaboradores desenvolveram um sistema informatizado próprio, de nome Bankdrop, no qual estão relacionadas mais de 3 mil offshores, com contas em 52 países, e transações que somam mais de 1,6 bilhão de dólares.

Outro sistema, chamado ST, registrava todas as operações de cada doleiro como uma espécie de conta-corrente e foi utilizado para controlar a movimentação dos recursos tanto no Brasil quanto no exterior.

Dario Messer – As colaborações premiadas de Juca e Tony foram fundamentais para esclarecer o papel de Dario Messer, que já havia sido alvo em 2009 da operação Sexta-Feira 13, no mercado paralelo de câmbio.

De acordo com as investigações, Messer recebia 60% dos lucros das operações de câmbio, pois era o responsável por aportar recursos e dar lastro às operações. Dono de casas de câmbio, era ele quem dava respaldo às operações com seu nome e ficava responsável pela captação de clientes.

Messer chegou a possuir um banco em Antígua e Barbuda em sociedade com Enrico Machado, denominado EVG, destinado à lavagem de recursos de modo transnacional. O EVG encerrou suas atividades em meados de 2013, e vários dos investigados pela força-tarefa da Lava Jato no Rio de Janeiro e até mesmo por outras operações estão listados entre seus clientes.

Dólar-cabo – A rede estruturada por Messer, Juca e Tony foi utilizada por ao menos outros 46 doleiros. As operações dólar-cabo são uma forma de movimentar recursos de forma paralela, sem passar pelo sistema bancário.

Usualmente, agentes públicos corruptos compram dólares no exterior de empresas que necessitam comprar reais em espécie no Brasil para corromper outros agentes públicos. Para que a operação funcione, é preciso uma extensa rede de contatos para casar as operações de compra e venda, o que era intermediado por doleiros do Juca e Tony.

A metodologia traz vantagens para os doleiros como os irmãos Chebar, que utilizaram esse esquema, pois eles conseguem realizar as operações de seus clientes sem qualquer contato com o dinheiro em espécie ou custódia de valores, o que reduz consideravelmente os seus riscos.

Também foram solicitados o sequestro e arresto de bens e valores no total de R$ 7,5 bilhões de reais para restituição dos valores movimentados ilicitamente (R$ 3,7 bilhões) e reparação de danos morais coletivos.

Outra operação

A Polícia Federal deflagrou nesta quinta-feira a Operação Carga Torta II, com o objetivo de desarticular organização criminosa especializada em roubo de carga transportada em rodovias estaduais e federais.

Mais de 80 policiais federais cumprem oito mandados de prisão preventiva e 15 mandados de busca e apreensão, expedidos pela 1ª Vara Criminal de Porto Nacional, especificamente nas cidades de Aparecida de Goiânia/GO, Anápolis/GO, Porto Nacional/TO, Brejinho de Nazaré/TO e Palmas/TO.

A investigação teve início em abril de 2017, quando foi identificado um grupo criminoso especializado em cometer roubos de cargas transportadas em rodovias estaduais e federais.

Dos crimes investigados, foi possível estabelecer que a organização criminosa foi responsável por roubos de cargas transportadas por caminhões na BR 153, próximo aos municípios de Nova Rosalândia/TO e Barrolândia/TO. Também não se descarta a a participação do grupo criminoso em outros roubos ocorridos na região sul do Estado do Tocantins.

As mercadorias roubadas, geralmente do gênero alimentício e produtos de limpeza, abasteciam supermercados dos municípios de Brejinho de Nazaré/TO e Porto Nacional/TO. Elas eram colocadas à venda nos estabelecimentos comerciais, cujos proprietários financiavam os executores dos crimes, assim como negociavam com estes a receptação das cargas roubadas. Em razão disso, tais pessoas também foram presas preventivamente.