
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou que seu governo pode iniciar “em breve” operações terrestres contra supostos traficantes de drogas venezuelanos, levantando o risco de intervenção militar direta no território da Venezuela.
O anúncio reacende temores de um conflito aberto entre Washington e Caracas, divide aliados regionais e reacende debates sobre soberania nacional, uso da força e consequências humanitárias na América Latina.
Desde agosto de 2025, os Estados Unidos intensificaram sua presença militar no Caribe, enviando navios de guerra e grupos navais para perto da costa venezuelana -- um movimento promovido como parte da guerra antidrogas.
Em setembro, a Marinha dos EUA começou a realizar ataques aéreos contra embarcações que, segundo Washington, estariam transportando drogas. Até o momento, foram registradas 21 ofensivas contra 22 navios, resultando na morte de ao menos 83 pessoas, segundo relatórios independentes.
Apesar do governo americano apresentar os ataques como medidas de combate ao narcotráfico, ele não divulgou provas públicas de que os alvos realmente transportavam drogas. Isso gerou críticas de organismos internacionais que questionam a legalidade das operações e alertam para risco de violações de direitos humanos.
Com a escalada, o governo de Trump elevou o tom: passou a classificar a suposta rede criminosa venezuelana como terrorista e a considerar ações não apenas no mar, mas também por terra.
O que disse Trump -- e o que isso significa
Na recente declaração, Trump afirmou que o combate ao tráfico venezuelano não será mais restrito ao mar. Segundo ele, “as rotas por mar estão quase zeradas” e por isso os EUA vão começar a agir pela terra para impedir o envio de drogas.
Em entrevista a repórteres, disse também não descartar qualquer tipo de ação militar — deixando em aberto uma intervenção direta no território venezuelano.
Fontes da segurança americana afirmam que conselhos sobre soberania nacional e implicações internacionais estão sendo avaliados, mas que “uma decisão poderá sair em breve”.
Reações em Caracas
Para o governo venezuelano, liderado pelo Nicolás Maduro, as ameaças de invasão equivalem a um ato de guerra e uma violação da soberania nacional. Maduro declarou que o país se prepara para defender seu território e convocou suas Forças Armadas e milícias aliadas.
Fontes militares venezuelanas também relatam que o país planeja uma possível resposta do tipo guerrilha, especialmente se a invasão viesse a atingir áreas sensíveis ou populações civis.
Analistas militares advertem que uma invasão terrestre seria extremamente complexa, devido à geografia do país, à possibilidade de resistência armada local e à forte mobilização popular em favor do governo venezuelano.
A retórica agressiva e os movimentos militares dos EUA geraram inquietação entre países da América Latina. Líderes regionais alertam para o risco de instabilidade, crise migratória em massa e retorno a uma era de intervenções externas no continente — algo com profundas cicatrizes históricas.
Especialistas em direito internacional denunciam que uma invasão sem aval da comunidade internacional violaria normas de soberania e tratados multilaterais. Além disso, há temor de que ações precipitadas levem a consequências humanitárias — especialmente se populações civis ficarem no meio do conflito.
Ao classificar a suposta rede venezuelana como terrorista, os EUA ampliaram a fundamentação legal de possíveis ações militares — o que, segundo críticos, configura “pretexto” para intervenção.
Por que a tensão atingiu este ponto
A administração Trump afirma que a intensificação dos golpes navais e a expansão para operações terrestres são uma resposta ao aumento das rotas de drogas alternativas — após os supostos desmantelamentos no mar.
Há a percepção, dentro do governo americano, de que a estrutura do poder venezuelano — militares, governistas, redes de corrupção — está entrelaçada com o narcotráfico, o que justificaría uma ação mais ampla contra o regime.
A designação de organizações criminosas venezuelanas como terroristas dá cobertura política e legal para operações de maior escala, inclusive em solo.
Uma invasão terrestre poderia desencadear:
-- Um êxodo em massa de refugiados rumo aos países vizinhos;
-- Instabilidade política e militar em toda a região;
-- Agravamento da crise humanitária na Venezuela;
-- Isolamento diplomático dos EUA diante de países latino?americanos contrários à intervenção.
Além disso, seria um revés para regimes internacionais de não?intervenção e poderia enfraquecer acordos multilaterais de segurança e cooperação regional.

