Opinião

Juros a 15% ao ano elevam riscos de recessão no varejo

Os juros altos acarretam queda nas vendas e aumento do custo de capital de giro,

A taxa Selic a 15% ao ano eleva significativamente os riscos de recessão no varejo, o maior empregador privado do país, e sua redução significativa deveria ser imediata. A taxa de 15% estabelecida pelo Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil) tem acarretado consequências negativas para a economia, como o encarecimento do crédito para pessoas físicas e empresas, o que pode levar a um aumento do desemprego, além disso, já está causando redução no ritmo da atividade econômica, em especial no varejo.

Os empréstimos e financiamentos também estão excessivamente caros, há desestímulo ao consumo e maior endividamento pela impossibilidade dos tomadores fazerem frente às elevadas taxas, que poderão causar a redução da oferta de crédito ao consumo, muito danosa ao varejo.

No varejo, os juros altos acarretam queda nas vendas e aumento do custo de capital de giro, pois o acesso ao crédito para as empresas fica mais caro, dificultando o fluxo de caixa e a rolagem de dívidas; redução de resultados e de investimentos, já que, com os custos elevados, as empresas adiam ou cancelam novos investimentos; e risco de fechamento e demissões e perda de confiança.

Difícil aceitar as justificativas econômicas para a não queda dos juros Selic e dos juros praticados no mercado. Olhar muito fortemente para o longo prazo para corrigir os rumos da economia poderá sufocá-la de tal forma no curto prazo que o futuro poderá ser fortemente recessivo.

Vejamos o que está acontecendo no varejo neste momento, que já mostra o esfriamento da economia. As vendas do varejo caíram 0,3% em setembro, registrando a quinta queda em seis meses, confirmando o desaquecimento da atividade econômica.

O IBGE destacou que, na passagem de um mês para o outro, houve uma predominância de taxas negativas ou próximas da estabilidade, especialmente no segundo trimestre de 2025, o que indica uma perda de dinamismo, que pode ser observada nos percentuais abaixo:

Variação % mês a mês (varejo restrito - ajuste sazonal)

-- Maio -0,2%
-- Junho -0,1%
-- Julho -0,3%
-- Agosto +0,1%
-- Setembro -0,3%

Os rumos da política monetária dão sinais claros de desaceleração da economia, da inflação, do aumento do comprometimento da renda e da população endividada. Um olhar muito distante para o terceiro trimestre de 2027, como parâmetro para redução da taxa Selic, poderá gerar em 2026 um ano muito difícil para o ambiente de negócios.

Resta a questão da dívida pública do governo geral (DBGG), que tem sido usada como justificativa para a não redução, que para setembro/25 está em 78,1% do PIB a maior já registrada para o mês de setembro, para a qual a maioria das análises econômicas publicadas indica a necessidade de ajuste fiscal, que provavelmente ocorrera a partir de 2027, porém, é uma situação posta, que não pode destruir o presente da economia.

O Brasil tem histórico de elevada dívida pública do governo geral (DBGG) nos anos de eleições majoritárias (2014, 2018, 2022, 2026), conforme abaixo.

-- 2013 ~51,5% para 2014 ~57,2%
-- 2017 ~74,0% para 2018 ~77,2%
-- 2021 ˜ 80,3% para 2022 ~72,9%
-- 2024 ˜ 76,1% para 2025 ˜ 79,5% (projeção semelhante para 2026 pelos analistas de mercado)

O ajuste da economia para 2027 será uma missão para o novo governo, porém, poderá ficar muito mais difícil se a economia chegar demasiadamente enfraquecida ao final de 2026, tendo como uma das principais causas o nível elevadíssimo da taxa Selic imposta à economia por longo prazo.

Os fundamentos econômicos buscam apresentar argumentações para se manter a Selic elevada, porém o mercado, e em especial o varejo, jamais demonstrou tamanha urgência na queda da Selic e em patamares significativos. O Brasil está “fora da curva” em qualquer comparação internacional que se faça.

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Jorge Gonçalves Filho é presidente do IDV - Instituto para Desenvolvimento do Varejo