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Por que judeus de Nova York têm motivos para ficar preocupados

A comunidade judaica expressa receio diante da escalada de hostilidade

Loja de judeus destruiída durante a Noite dos Cristais, na Áustria
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Manifestantes pró-Palestina protestaram diante da Park East Synagogue, em Nova York, com palavras de ordem agressivas. O evento visado era um programa de imigração para Israel, não uma “feira de colonos”. A resposta ambígua do prefeito eleito, Zohran Mamdani, gerou críticas por sugerir, sem base, violação do direito internacional pela sinagoga.

Ativistas pró-Palestina realizaram um protesto na noite de quarta-feira (19 de novembro) em frente à Park East Synagogue, em Manhattan, com palavras de ordem consideradas violentas. A resposta do prefeito eleito, Zohran Mamdani, foi criticada por supostamente endossar acusações infundadas contra a comunidade judaica.

Os manifestantes foram até à Park East Synagogue, localizada no Upper East Side de Manhattan. Durante o ato,gritaram frases como “Morte, morte ao IDF [Forças de defesa de Israel]”, “De Nova York a Gaza, globalizar a intifada” e “Resistência, vocês nos enchem de orgulho. Eliminem mais um colono”. Um dos presentes repetia: “Precisamos fazê-los sentir medo”.

O rabino Arthur Schneier, de 95 anos, líder da sinagoga e sobrevivente do Holocausto, viveu a Kristallnacht [Noite dos Cristais] em Viena, em 1938, quando sinagogas e estabelecimentos judaicos foram atacados na Alemanha e Áustria. Segundo o rabino Elchanan Poupko, de Nova York, Schneier agora presencia situações semelhantes diante de sua própria comunidade religiosa.

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O que foi a Noite dos Cristais


Ocorrida em 9 e 10 de novembro de 1938, a Noite dos Cristais marcou uma escalada decisiva na perseguição sistemática aos judeus na Alemanha nazista e na Áustria.

Naquelas horas, grupos organizados ligados ao regime de Adolf Hitler destruíram sinagogas, saquearam estabelecimentos comerciais de judeus, incendiaram propriedades e agrediram famílias em diferentes cidades.

As vitrines quebradas que se espalharam pelas ruas deram origem ao nome do episódio. Centenas de pessoas foram mortas ou gravemente feridas e milhares de judeus foram presos e enviados a campos de concentração logo em seguida.

O ataque teve como pretexto o assassinato de um diplomata alemão em Paris por um jovem judeu polonês, mas a violência foi planejada e coordenada pelo aparato estatal nazista, com participação ativa das tropas de assalto e colaboração de setores da população.

Historiadores consideram o episódio um marco que antecedeu o genocídio perpetrado durante o Holocausto, evidenciando a intenção deliberada de eliminar os judeus da vida social, econômica e cultural da Alemanha.

De acordo com os organizadores, o protesto tinha como alvo uma suposta "feira de recrutamento de colonos". No entanto, o evento realizado na sinagoga foi promovido pela Nefesh B’Nefesh, uma entidade que auxilia judeus na imigração para Israel, fornecendo informações sobre moradia, trabalho e estudos. A organização não vende terras nem realiza atividades comerciais, tampouco promove assentamentos.

O prefeito atual, Eric Adams, repudiou o episódio, declarando em sua conta no X que “quando você profana um local de culto, você profana todos eles”. Já o prefeito eleito, Zohran Mamdani, pronunciou-se por meio de sua porta-voz, Dora Pekec, afirmando que desaprova a linguagem usada no protesto, mas acrescentando que “esses espaços sagrados não devem ser usados para promover atividades em violação do direito internacional”. A declaração gerou reações negativas, sendo interpretada como uma insinuação infundada de que a sinagoga teria cometido alguma infração jurídica.

O grupo Pal-Awda NY/NJ, vinculado à manifestação, já esteve envolvido em protestos anteriores com mensagens polêmicas. Em fevereiro, organizou uma ação em Borough Park, Brooklyn, com o slogan “inundar Boro Park”, associado ao nome usado pelo Hamas para os ataques de 7 de outubro. Em publicações posteriores nas redes sociais, o grupo exaltou ações violentas daquele dia.

A reação de Mamdani reavivou críticas sobre sua posição política, destaca reportagem do portal de notícias The Free Press. Filiado ao Democratic Socialists of America (DSA), ele declarou, antes dos ataques de outubro, que a “luta pela libertação palestina” é central em sua agenda política. Após o episódio, vários integrantes deixaram o DSA devido à sua postura, mas Mamdani permaneceu no partido.

Especialistas alertam que declarações como a de Mamdani podem enfraquecer a defesa de espaços religiosos judeus, tornando-os vulneráveis a novas manifestações hostis. Há temor de que episódios semelhantes se repitam em outras instituições judaicas, incluindo escolas e centros comunitários.

O protesto em Manhattan e a resposta institucional reforçaram a preocupação de líderes religiosos e da sociedade civil com a proteção da liberdade de culto e o combate ao antissemitismo. A comunidade judaica expressa receio diante da escalada de hostilidade e cobra posicionamentos firmes de autoridades públicas.