
De acordo com reportagem da Gazeta do Povo, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mesmo inelegível até 2060 e atualmente cumprindo pena em regime fechado, continua a exercer papel central nas articulações políticas da direita e centro-direita para a eleição presidencial de 2026.
Conforme publicado pela Gazeta do Povo, Bolsonaro segue com forte influência no cenário eleitoral, apesar das sanções judiciais impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A condenação por tentativa de golpe o levou à prisão e estendeu sua inelegibilidade até 2060, ampliando o prazo anterior que ia até 2030, em razão do abuso de poder político identificado em uma reunião com embaixadores.
Ainda assim, o ex-presidente permanece como figura estratégica no campo conservador. A combinação de seu capital político com a fragmentação da direita faz dele peça-chave para qualquer candidatura competitiva. Estima-se que um apoio explícito de Bolsonaro possa garantir de 20% a 25% do eleitorado no primeiro turno, segundo analistas ouvidos pela Gazeta do Povo.
Para o cientista político Leandro Gabiati, da consultoria Dominium, Bolsonaro já ocupa posição semelhante à de figuras históricas da política nacional, funcionando como um polo de referência mesmo fora do processo eleitoral. Ele compara o caso ao do presidente Lula em momentos anteriores, destacando carisma e trajetória como elementos em comum.
Gabiati também observa que a proibição imposta pelo Judiciário tende a reforçar a identificação de sua base, o que obriga os principais nomes da direita a negociar seu apoio. Com múltiplos pré-candidatos testando força, a presença de Bolsonaro como fiador político pode ser decisiva em 2026.
Nesse contexto, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), surge como principal aposta da direita bolsonarista. Segundo apuração da Gazeta do Povo, sua estratégia tem sido focada em articulações discretas, evitando desgastes e construindo alianças com cautela. Nos bastidores, há consenso de que lideranças políticas aguardam um sinal claro de Tarcísio para organizar suas movimentações.
Um encontro entre Bolsonaro e o governador, previsto para ocorrer em 10 de dezembro, chegou a ser autorizado pelo ministro Alexandre de Moraes, mas foi cancelado posteriormente em razão da prisão preventiva do ex-presidente. A reunião era esperada como marco importante para a definição de rumos eleitorais. Ainda segundo a Gazeta do Povo, partidos como PSD e até o PT observam atentamente os desdobramentos dessa relação.
Apesar de evitar se declarar pré-candidato, a avaliação de analistas ouvidos pela reportagem é que Tarcísio adota uma tática de acumulação de capital político. Ele teria consciência da necessidade de uma base sólida e alianças firmes para se viabilizar nacionalmente em um ambiente instável e em reconfiguração à direita.
Outro fator destacado pela Gazeta do Povo é a divisão interna no grupo bolsonarista. O deputado Eduardo Bolsonaro, atualmente nos Estados Unidos, é crítico da possível candidatura de Tarcísio e a rotula como produto do “sistema”. Ele mantém aberta a possibilidade de se lançar ou apoiar o irmão, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
O cientista político Ismael Almeida, citado na reportagem, chama atenção para a postura de parlamentares eleitos com apoio do ex-presidente, que vêm adotando uma posição de distanciamento frente aos processos judiciais. Para ele, essa omissão estratégica pode ser penalizada por eleitores bolsonaristas, atentos à demonstração de lealdade.
Segundo Almeida, muitos desses parlamentares buscam se preservar politicamente, mas correm o risco de perder apoio de uma base que ainda vê Bolsonaro como principal liderança. “Quem apostar em desembarque silencioso pode pagar caro”, alerta o analista.
A Gazeta do Povo também destaca a fala do senador Ciro Nogueira (PP-PI), ex-ministro da Casa Civil, que condicionou o apoio do grupo ao candidato que se comprometer com o indulto a Bolsonaro e aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023. “O 1º critério — absolutamente excludente — do nosso apoio a presidente em 26 é se comprometer a conceder indulto e perdão ao presidente Bolsonaro, extensivo aos que participaram das depredações do 8 de janeiro. Direto e reto”, escreveu o senador nas redes sociais.
Enquanto isso, líderes da oposição articulam no Congresso a aprovação de um projeto de lei para anistiar Bolsonaro e outros envolvidos. A reportagem da Gazeta do Povo aponta que há divergências: parte dos parlamentares defende uma anistia ampla e irrestrita, enquanto outro grupo prefere uma proposta com foco na redução das penas, considerada mais viável no Legislativo.

