
A Mostra de Cinemas Africanos (MCA) chega ao seu 8º ano
A programação em Salvador (BA) acontece de 17 a 24 de setembro, na Saladearte Cinema da UFBA, Cinema do Museu e no Cineteatro 2 de Julho. Ao todo serão cerca de 12 longas e 7 curtas de 9 países exibidos nesta temporada.
Os ingressos variam entre gratuitos e R$ 15 (preço único).
A programação mantém sua diversidade de filmes com produções de diferentes países do continente e lançamentos inéditos no Brasil, além de sessões de debates com cineastas, mesas de discussão e atividades formativas.
Entre as presenças confirmadas estão o cineasta senegalês Mamadou Dia, uma das vozes mais interessantes do cinema autoral no continente; a diretora nigeriana Ema Edosio, que volta ao Brasil com seu novo filme que estreia mundialmente no Festival de Locarno 2025 (Suiça), e o ruandês Philbert Aimé Mbabazi Sharangabo, representante de uma cena efervescente de cinema em Ruanda.
A curadoria é assinada por Ana Camila Esteves, idealizadora da Mostra, e pela ganense Jacqueline Nsiah, integrante do comitê de seleção da Berlinale.
A abertura do festival em Salvador acontece dia 17 de setembro, no Cineteatro 2 de Julho (IRDEB - Federação), às 19h, com exibição do filme senegalês “Demba” (2024), e presença do seu diretor Mamadou Dia. O filme, que teve estreia mundial no Festival Internacional de Cinema de Berlim em 2024, é uma reflexão profunda e sensível sobre o luto, o amor e os vínculos familiares, especialmente entre pai e filho. A narrativa mostra ainda aspectos da cultura, religiosidade e realidade social do Senegal.
A Mostra de Cinemas Africanos 2025 é dedicada ao Professor Mahomed Bamba (1966-2015), recém-titulado Professor Emérito post-mortem da Universidade Federal da Bahia, neste que marca os dez anos do seu falecimento. A programação conta com uma sessão especial com a presença de alunos, amigos e colegas, além de um curso gratuito que celebra o legado da sua produção acadêmica sobre os cinemas da África.
O novo cinema nigeriano
Nesta edição a Mostra de Cinemas Africanos promove um foco especial no cinema nigeriano contemporâneo, o “Naija Focus”. "Naija" é um apelido carinhoso que as nigerianas e os nigerianos usam para se referir ao seu país – uma palavra que carrega orgulho, identidade e pertencimento. Serão exibidos cinco longas e seis curtas-metragens lançados entre 2023 e 2025, todos inéditos no Brasil. Esse recorte curatorial acontece em um momento simbólico, marcado pela assinatura, em junho deste ano, de um acordo de coprodução audiovisual entre Brasil e Nigéria.
A seleção revela uma nova geração de cineastas que exploram diferentes narrativas, combinando crítica social com liberdade estética. Em O Fardo da Nigéria (When Nigeria Happens, Nigéria, 2025), de Ema Edosio, um grupo de jovens dançarinos enfrenta desafios para manter vivos seus sonhos, diante das incertezas do seu país. O longa estreou em agosto de 2025 no Festival de Locarno. O Fim de Semana (The Weekend, 2024), de Daniel Oriahi, mostra um suspense que investiga as dinâmicas da classe média nigeriana, exibido em Tribeca.
A fantasia urbana A Lenda da Rainha Errante de Lagos (The Legend of the Vagabond Queen of Lagos, 2024), do Agbajowo Collective, une ficção e histórias reais para narrar a jornada de uma jovem mãe que luta para sobreviver em um favela à beira-mar. A Estrada da Liberdade (Freedom Way, 2024), de Afolabi Olalekan, denuncia a corrupção policial no país. Ambos os filmes estrearam mundialmente no Toronto International Film Festival em 2024.
Por fim, o documentário Os meninos estão bem (The kids are ok, 2024) de Abba Makama, que estreou no Film Africa London, retrata a cultura jovem urbana da Nigéria por meio do skate, da música, da moda e da arte.
O Naija Focus inclui ainda sete curtas selecionados em parceria com o S16 Film Festival — evento de Lagos dedicado a novas vozes e linguagens — A Esposa de Deus (2024), Partindo de Ikorodu em 1999 (2024), Enyo / Reflexo (2024), Tudo Dura e Nada Termina (2024), Fluid Lagos (2024), Ecos do coração (2024) e Deus te Acompanhe (2023).
Design de audiências
Como parte de sua programação, a Mostra realiza a segunda edição do Encontros do Audiovisual Brasil-África, em Salvador (BA), entre os dias 15 e 19 de setembro. O maior encontro de profissionais do audiovisual africano e brasileiro acontece com o propósito de construir estratégias coletivas para ampliar a circulação de filmes africanos no Brasil e de produções brasileiras no continente africano. O evento reunirá mais de 40 especialistas em design de audiência, produção, circulação, distribuição e realização de países como Senegal, Nigéria, Quênia, Gana, Angola, Cabo Verde, Ruanda, França, Reino Unido e Brasil.
As atividades serão realizadas em formato fechado, com vagas limitadas para ouvintes, destinadas a profissionais interessados em acompanhar as discussões e trocas, além de estudos de caso abertos ao público. Idealizado pela Yetu (Un)Limited, em colaboração com a Mostra de Cinemas Africanos, o Creative Africa Lab e com apoio do Institut Français, o projeto tem como missão impulsionar o crescimento dos cinemas africanos por meio da criação e expansão de novas audiências, com estratégias alinhadas às realidades culturais e mercadológicas de cada território.
Atividades formativas
A Mostra de Cinemas Africanos também inclui ações formativas na sua programação com o objetivo de disseminar conhecimento, produzir conteúdo e fomentar o intercâmbio acadêmico entre as produções audiovisuais africanas e brasileiras. Será ministrado um curso sobre a obra e trajetória intelectual do professor marfinense Mahomed Bamba (1966-2015), reconhecido como um dos principais estudiosos dos cinemas africanos no Brasil, com as pesquisadoras Jusciele Oliveira e Morgana Gama. Também acontecem o Laboratório Crítico, conduzido pelo jornalista e crítico de cinema Adolfo Gomes e uma masterclass de roteiro com o cineasta senegalês Mamadou Dia. Todas as atividades são gratuitas e acontecem no Auditório Makota Valdina, localizado no Arquivo Público de Salvador.