
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (foto), afirmou, nesta terça-feira (29), em Brasília, que pode haver uma conversa entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump para tratar das tarifas impostas pelos Estados Unidos aos produtos brasileiros exportados para aquele país. Segundo Haddad, não há obstrução dos canais de diálogo entre os negociadores das duas nações, entretanto, esse contato direto entre os chefes de Estado exige uma preparação protocolar mínima.
“É papel nosso, dos ministros, justamente azeitar os canais para que a conversa, quando ocorrer, seja a mais dignificante e edificante possível”, disse Haddad sobre o trabalho que vem sendo feito por ele; pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, que está nos Estados Unidos; e pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, que também vem dialogando com o setor produtivo.
“Tem que haver uma preparação antes para que seja uma coisa respeitosa, para que os dois povos se sintam valorizados à mesa de negociação, não haja um sentimento de viralatismo, de subordinação”, acrescentou, ao criticar as pressões da oposição para que haja pressa nas decisões.
“[Temos que] virar um pouquinho a página da subserviência e, com muita humildade, nos colocar à mesa, mas respeitando os valores do nosso país”, disse o ministro em conversa com jornalistas no Ministério da Fazenda.
Há sinais
Para Haddad já há “algum sinal de interesse” e “sensibilidade” de autoridades dos Estados Unidos para conversar. “Alguns empresários estão fazendo chegar ao nosso conhecimento que estão encontrando maior abertura lá, não sei se vai dar tempo até dia 1º”, avaliou o ministro, afirmando que não está fixado na data e que as negociações vão continuar mesmo com a entrada em vigor das tarifas.
“Estão ficando mais claros, agora, os pontos de vista do Brasil em relação a alguns temas que não eram de fácil compreensão por parte deles. A relação sempre foi amistosa entre os países, então não há razão nenhuma para que isso mude, deixar que temas alheios ao governo brasileiro sejam motivo para o recrudescimento, assim, de tensões”, afirmou o ministro da Fazenda.
O ministro contou, ainda, que o vice-presidente Geraldo Alckmin tem feito “um esforço monumental” em suas conversas com o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick. “Ontem mesmo houve uma conversa mais longa, terceira e mais longa conversa que tiveram”, observou.
O foco do governo brasileiro, segundo Haddad, é que eles se manifestem oficialmente para que possa ser mapeado o que, de fato, está em jogo e para que os negociadores encontrem uma solução, considerando o que é importante para os dois países.
Enquanto isso, já está na mesa do presidente Lula o plano de contingenciamento para ajudar empresas afetadas pelo tarifaço. O documento foi formulado pelos ministérios da Fazenda; do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços; das Relações Exteriores; e pela Casa Civil.
Vários cenários foram apresentados e, segundo o ministro Haddad, Lula tomará a decisão sobre “a escala, o montante, a oportunidade, a conveniência e a data” do pode ser colocado em vigor. Um dos cenários inclui um programa de manutenção do emprego com o mesmo propósito do que vigorou durante a pandemia de covid-19.
“Eu não sei qual é o cenário que o presidente vai optar”, afirmou o ministro da Fazenda, sem adiantar as medidas.
“O Brasil vai estar preparado para cuidar das suas empresas, dos seus trabalhadores e, ao mesmo tempo, se manter permanentemente numa mesa de negociação, buscando racionalidade, buscando respeito mútuo e estreitamento das relações”, completou o ministro.
Senadores estão nos EUA
Um grupo de oito senadores brasileiros está em Washington, capital dos Estados Unidos (EUA), para tentar abrir um canal de diálogo com congressistas estadunidenses e discutir soluções para o tarifaço de 50% anunciado pelo presidente americano por Donald Trump sobre as importações do Brasil.
Os senadores se reuniram com representantes da Embaixada do Brasil, com empresários e devem se reunir nesta terça-feira (29) com seis congressistas, entre Republicanos e Democratas, para discutir soluções para as tarifas, previstas para começar a ser aplicadas na próxima sexta-feira (1º).
Não foram anunciados os nomes dos congressistas que vão receber os senadores brasileiros.
O presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Nelsinho Trad (PSD-MS) (Foto), que lidera a missão em Washington, explicou que o objetivo é “distensionar” a relação com os Estados Unidos no âmbito parlamentar.
“A partir do momento que a gente conquistar isso [o distensionamento], eu penso que a missão já vai ter o seu primeiro ponto no sentido de proporcionar ambiente e caminho para que quem tenha prerrogativa de negociar, que não somos nós, e sim o governo federal, possa assim fazer”, disse Trad após a reunião com membros da U.S. Chamber of Commerce, que representa as empresas de todos os setores dos EUA.
A assessoria da missão do Senado informou ainda que os parlamentares se reuniram com representantes de executivos das multinacionais Cargill, ExxonMobil, Johnson & Johnson, Caterpillar, entre outras.
Na segunda-feira (28), o vice-presidente Geraldo Alckimin disse que o governo está conversando com o governo dos Estados Unidos.
“Estamos dialogando neste momento pelos canais institucionais e com reserva", disse.
O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), que também está em Washington, destacou que a missão busca soluções para proteger a economia brasileira e as relações diplomáticas de mais de 200 anos entre Brasil e EUA.
“O objetivo é chegar a um acordo e defender o Brasil perante as tarifas unilaterais impostas pelo presidente dos Estados Unidos”, escreveu em uma rede social.
Participam da missão do Senado Tereza Cristina (PP-MS), Astronauta Marcos Pontes (PL-SP), Rogério Carvalho (PT-SE), Carlos Viana (Podemos-MG), Fernando Farias (MDB-AL) e Esperidião Amin (PP-SC).
A missão tem agenda até esta quarta-feira (30), quando devem se reunir com representantes da Americas Society/Council of the Americas, entidade que reúne lideranças da sociedade civil e do setor empresarial com foco no fortalecimento das relações interamericanas.
Entenda
No dia 9 de julho, Trump anunciou tarifas adicionais de 50% sobre todos os produtos importados do Brasil, a partir de 1º de agosto. O chefe da Casa Branca cita uma suposta relação “injusta” nas relações comerciais entre os dois países, apesar de o Brasil ter déficit comercial com os EUA há 17 anos.
Trump também cita restrições impostas às plataformas digitais americanas e o processo por tentativa de golpe de Estado contra o ex-presidente Jair Bolsonaro como outros motivos para a tarifa de 50%.
As autoridades norte-americanas ainda abriram investigação contra o Pix por considerarem possível prática “desleal” de mercado, o que prejudicaria as bandeiras de máquinas de crédito estadunidense Visa e MasterCard, além do Whatsapp Pay, da gigante da tecnologia Meta.