
O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, defendeu o caminho das negociações com os Estados Unidos antes de recorrer à retaliação imediata. “Antes (de retaliar), é preciso esgotar toda e qualquer possibilidade de negociação”, alertou. O posicionamento é consenso no setor e foi definido em reunião virtual na segunda-feira (14 de julho) entre todos os presidentes de federações da indústria.
Alban participa de encontro entre empresários e autoridades no Ministério de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) para discutir a estratégia de resposta do país às medidas da Casa Branca, com a presença dos ministros Geraldo Alckmin (MDIC), Rui Costa (Casa Civil), Fernando Haddad (Fazenda), Simone Tebet (Planejamento) e Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos).
O dirigente também reforçou o pedido para que o governo articule juntos aos Estados Unidos uma ampliação de 90 dias para o começo da vigência da nova tarifa de 50% imposta aos produtos brasileiros.
“Estamos falando aqui só de perde-perde. Não tem ganha-ganha. Perde a indústria, perde a economia, perde o social. Gostaríamos de colocar na mesa um adiamento de 90 dias no prazo para início da vigência (da tarifa)”, pontuou Alban. “Queremos colocar a discussão de acordos setoriais e bilaterais. Discutir bitributação”, completou.
A estimativa preliminar da indústria é de uma perda de pelo menos 110 mil postos de trabalho, caso a medida entre em vigor nos termos anunciados, além de forte impacto sobre o PIB.
Alckmin, destacado pelo Palácio do Planalto para encabeçar as negociações com os americanos, destacou que o governo vai trabalhar para reverter as novas tarifas, consideradas por ele “completamente inadequadas”. Ele reiterou que EUA têm superávit na relação com o Brasil há 15 anos e a tarifa média dos produtos que os norte-americanos exportam para o nosso país é de 2,7%.
Um estudo divulgado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) estima que a sobretaxa americana pode eliminar cerca de 100 mil vagas de trabalho no Brasil, em razão da perda de competitividade das exportações nacionais.
A indústria é a mais afetada, com previsão de até 50 mil postos eliminados, seguida pelos setores de serviços e agropecuária.
Pressão sobre os preços
Com o aumento do custo das importações nos EUA, analistas projetam um repasse de alta nos preços domésticos de insumos e produtos:
-- Alimentos processados: alta de até 10%
-- Automóveis e autopeças: alta de até 15%
-- Bens manufaturados em geral: alta de até 12%
Esse reajuste poderá contribuir para uma inflação adicional de 0,7 ponto percentual no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) até o fim de 2025.