O dedo em riste do brasileiro Vinícius Jr., atacante do Real Madrid, na direção de racistas espanhóis que o chamavam de "macaco', compôs uma cena que já se encontra tatuada na história do futebol mundial.
Vini Jr. expunha, alí, ao mundo inteiro, uma sociedade complacente com o racismo, tolerante com o ódio baseado pura e simplesmente na cor da pele.
Houve uma gritaria de jornalistas e dirigentes de futebol. "A Espanha não é racista", afirmaram.
É.
Uma sociedade que fecha os olhos ao racismo é racista.
Ninguém jamais fez nada, na Espanha, para impedir a selvageria. La Liga, que controla o campeonato espanhol, nada fez. A Federação de Futebol da Espanha nada fez. A Justiça espanhola nada fez. A Imprensa daquele país nada fez.
E não foi a primeira, nem a segunda, nem a terceira (como lembrou Vini Jr.), nem a décima vez que se viu a vergonha agora escancarada ao mundo pelos torcedores do Valência.
No Brasil, corremos a condenar a Espanha, a nos escandalizar com a torcida espanhola, hipócritas que somos.
A Espanha é racista. O Brasil é igualmente racista.
Ah! Mas não fazemos o que se viu na torcida do Valência. Porque nossas leis são mais duras, nossa vigilância é mais cerrada e tudo vai nos moldando a consciência, de forma a percebermos a estupidez que é discriminar alguém com base na pele que a reveste.
Fomos criados em meio a um caldeirão de atitudes racistas.
Quantos de nós ainda dizemos que uma pessoa tem o cabelo ruim, quando é crespo, encaracolado? Ruim? Por que o cabelo crespo é ruim? Por que o cabelo liso é um cabelo bom?
Muitos de nós continuamos a dizer isso sem a consciência (ainda) de que estamos reproduzindo um comportamento racista.
Precisamos condenar a estupidez dos torcedores do Valência, mas temos a obrigação moral de nos olhar no espelho. Aí enxergaremos que o dedo em riste de Vini Jr. também aponta para nossa cara.