Alberto Oliveira

O Brasil, esse Teatro do Absurdo (ou como se ataca a democracia)

O que vivemos a partir de um passado recente, no País, foi descrito à perfeição no início dos anos 1960

Há manifestações populares que se impõem e se justificam, pelos fatos. Há outras que mostram ser compostas por um bando de idiotas querendo tomar conta de parte do mundo. Nenhuma das duas pode ser tolerada quando parte para a violência, para o vandalismo, para o quebra-quebra. 

Mas o Brasil tem uma longa história de inaceitável tolerância com vândalos que integram manifestações, com a destruição de bens públicos ou do patrimônio privado, com vidraças quebradas e ônibus incendiados.

O que vivemos a partir de um passado recente, no País, foi descrito à perfeição no início dos anos 1960 pelo  crítico húngaro Martin Esslin: uma estrutura com fatos não necessariamente conectados; alternância entre elementos cômicos e imagens horríveis ou trágicas; personagens presas a situações sem solução, executando ações sem sentido, desligadas da realidade, com diálogos cheios de clichês, jogo de palavras e nonsense.

O húngaro radicado na Inglaterra obviamente não se referia ao Brasil. Estava definindo o que chamou de Teatro do Absurdo, mas é o que sente estar vivendo a população brasileira ao acompanhar, estarrecida, os acontecimentos produzidos a partir de Brasília nos últimos anos.

A invasão das sedes dos 3 Poderes (espanta a facilidade com que se conseguiu entrar no Palácio do Planalto) é um ataque direto ao estado democrático de direito. Nenhuma dúvida quanto a isso.

É preciso, no entanto, ter em vista que os pilares da democracia são sacudidos de muitas maneiras. Por exemplo, quando membros do Legislativo usam o Judiciário como porrete contra seus adversários ou desafetos; quando recorrem ao Judiciário à menor contrariedade; quando permitem que seu poder de legislar – concedido pelo povo – seja transferido para outras instâncias.

Há um ataque aos pilares democráticos quando se instaura a insegurança jurídica ou quando um dos poderes constituídos se acovarda.

A Constituição Federal é escudo da democracia, não um tacape a ser brandido sobre a cabeça dos que divergem, sejam eles da direita, da esquerda ou simpatizantes de qualquer outra ideologia amparada pela Carta Magna.

Quase metade do eleitorado nacional tem o direito de estar insatisfeita com o resultado das urnas e de expressar sua insatisfação. Esse direito, no entanto, possui um limite traçado no dia 5 de outubro de 1988 e detalhado nos 122 artigos de nossa Lei Maior.

A independência e harmonia entre o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, definidas já no artigo segundo da Constituição, foram duramente esgarçadas nos últimos anos. E aqui jogue-se a culpa sobre membros dos 3 Poderes, indiscriminadamente. 

O Brasil e os brasileiros não querem isso. O que exigem é que os integrantes do Executivo, do Legislativo e do Judiciário exercitem o determinado pelo Artigo 2, e sobretudo que se cumpra o que reza o artigo quinto do texto constitucional: "Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza".

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Sobre idiotas
Nelson Rodrigues (de direita), o mais influente dramaturgo brasileiro, era um frasista genial. 

4 frases rodrigueanas:

1 - “Nada mais cretino e mais cretinizante do que a paixão política. É a única paixão sem grandeza, a única que é capaz de imbecilizar o homem”.

2 - “A maior desgraça da democracia é que ela traz à tona a força numérica dos idiotas, que são a maioria da humanidade”.

3 - “Não estarei insinuando nenhuma novidade se afirmar que nunca houve uma multidão inteligente.”

4 - “Os idiotas vão tomar conta do mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos.”

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Sobre a história
O alemão Karl Marx (de esquerda), assim iniciou o texto O 18 Brumário de Luís Bonaparte: “Hegel observa em uma de suas obras que todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”.

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O que deixam de citar
Thomas Jefferson, o terceiro presidente dos Estados Unidos, escreveu, em uma carta: "A base de nossos governos sendo a opinião do povo, o primeiro objetivo deve ser mantê-la exata; fosse deixado a mim decidir se deveriam ter um governo sem jornais ou jornais sem um governo, não hesitaria um momento em preferir este último".

Essa parte da carta é muitas vezes repetida quando se questiona o trabalho da Imprensa, esquecendo-se convenientemente de citar o que Jefferson escreveu no parágrafo seguinte:

"Mas insistiria em que todo homem recebesse esses jornais e os soubesse ler".

Ou seja, para ficar nas sentenças que sobrevivem aos tempos, lembremos da atribuída ao filósofo e matemático grego Pitágoras: "Eduquem-se as crianças e não será preciso punir os homens".