O jornalismo brasileiro emerge das urnas amplamente derrotado.
Ao deixar de cumprir o seu dever de duvidar sempre, de buscar o contraditório (e dar voz a ele), ao considerar pesquisas de intenção de voto como ciência (e esta, não raras vezes erra fragorosamente) a Imprensa se apequenou, colocou seus interesses menores acima do que interessa ao público.
Um dia após as eleições, tentava, zonza, uma explicação para os erros cometidos.
Recebeu um soco direto no queixo, dado exatamente pelo público, cuja inteligência tanto menosprezou.
A explicação dada era a de que os jornalistas falharam em captar o movimento do eleitorado em direção da direita no espectro político.
Ora, falharam porque deixaram de fazer jornalismo, na cobertura das eleições. Em vez disso, optaram por lançar à lata de lixo os princípios fundamentais que regem a profissão (e um deles é a busca incessante pela imparcialidade; outro, a procura pelo contraditório).
Os jornalistas brasileiros (há exceções, claro; elas sempre existem) deixaram de privilegiar o fato. Decidiram ser comentaristas. E se sentem capazes de opinar sobre qualquer assunto: de parto a atracação de navio.
A análise que agora se faz sobre as cinzas da credibilidade deveria ter sido praticada desde o início da cobertura política. Estariam as amostras do público corretas, diante do atraso no censo populacional? A sociedade brasileira de hoje é a mesma de 12 anos atrás? De que forma os dados coletados estariam afetando a metodologia? Há erros metodológicos ou estatísticos?
Mais: pode-se descartar manipulação e má-fé?
A dúvida, no jornalismo, precisa ser permanente. Mas, no Brasil, pesquisas são tratadas como ciência, desde que os resultados sejam os que se espera.
O vexame protagonizado pelos institutos de pesquisa se estende à Imprensa, que divulgava à exaustão cada resultado, sem questionamento na quase totalidade das vezes. Pior ainda: defendendo os boletins como se fossem o resultado de uma ciência exata.
Os eleitores mostraram o que acontece quando se faz mau jornalismo.