Gina Marocci

A construção da Avenida Oceânica e os efeitos sobre Salvador

Nós já conversamos sobre três importantes avenidas de Salvador, construídas entre o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX: a Baixa dos Sapateiros, primeira avenida de vale da cidade; a Jequitaia, principal eixo de ligação com a Península de Itapagipe (polo industrial e acesso à linha de trem); e a Avenida Sete de Setembro, ligação entre o extremo sul da cidade e a zona central (do Farol da Barra até a Ladeira de São Bento).

Essas avenidas foram elementos fundamentais para a ocupação de novas regiões da cidade, no entanto, as zonas à beira-mar, ocupadas por atividades pesqueiras e fazendas, precisavam de maior atenção, pois o acesso ocorria pelas cumeadas por vias nem sempre bem estruturadas.

No início do século XX, os esforços estavam voltados à ocupação da região Graça-Barra-Rio Vermelho. No mapa abaixo vemos a Baixa dos Sapateiros, em azul, a Avenida Sete de Setembro, em vermelho, e a Avenida Oceânica, em verde.


As três avenidas mencionadas sobre o mapa de Carlos Weill

A Avenida Oceânica, que também se chama Avenida Presidente Getúlio Vargas, inicia no Farol da Barra e termina na Paciência, no bairro do Rio Vermelho. Sua construção iniciou-se em 1914, período em que as obras da Avenida Sete, até então chamada de Avenida do Estado, estavam avançadas.

Mas, quais eram as características da ocupação da região entre o Farol da Barra e o Rio Vermelho naquela época? Pois bem, já no final do século XVIII havia casas de pescadores, sítios, roças e chácaras e, também, as quintas para veraneio das famílias abastadas que moravam no centro da cidade.

As roças e os sítios eram em terrenos de maior dimensão, ocupados por rendeiros ou foreiros da terra, geralmente pessoas com menor poder aquisitivo, que tinham lavouras e criavam animais de pequeno porte. Já as chácaras ficavam em terrenos menores e eram mais utilizadas para descanso e lazer.

No início do século XX, a região próxima ao farol, que ficou conhecida como Quintas da Barra, era ocupada por poucas construções e não tinha características de uma zona urbana.

Entre a orla do farol ao Rio vermelho, esta era a região com maior número de habitações, mesmo que elas ficassem desocupadas por um período do ano.

Nas imagens do início do século XX, abaixo, vemos as quintas da Barra, casas de até dois pavimentos, com telhados de duas águas, altas janelas e com características da arquitetura colonial. Podemos ver que dois acessos se caracterizam como vias: um, de frente para o mar; outro, voltado para a parte interna da região.

Em ambos os acessos havia apenas a indicação de um caminho de terra sem nenhuma urbanização.


Quintas da Barra na primeira década do século XX

A avenida foi construída em duas etapas. A primeira delas foi realizada com a desapropriação da Fazenda Camarão, onde se fez o corte dos morros (Ipiranga e do Cristo).

A segunda etapa compreendia a região do farol. Nas duas imagens, abaixo, vemos as obras no trecho do Morro do Cristo, em 1914, e a avenida pronta, possivelmente em 1924, ano em que foi concluída.


Dois momentos da Avenida Oceânica

A nova via contava com obras de contenção, balaustrada similar à da Avenida Sete de Setembro, redes de iluminação elétrica, de água potável e de coleta de águas pluviais, telefonia, calçamento, passeios com pedra portuguesa e linha de bonde elétrico.

Essa modernização vai influenciar na ocupação da região, que será marcada por uma nova estética arquitetônica e pela implantação de pequenos loteamentos.

Assim, as antigas edificações se modernizaram, em alguns casos apenas na reformulação das fachadas. Nas novas, houve a adoção de características do Ecletismo para além das fachadas como, por exemplo, o recuo da edificação em relação aos limites do terreno. Palacetes ecléticos enfeitavam a orla da Barra com os seus jardins frontais, alguns com telhados muito inclinados à moda dos chalés e bangalôs europeus.


Quintas da Barra na década de 1920

A urbanização e modernização dessa região também teve um lado triste: a expulsão de comunidades pobres, principalmente dos pescadores, pois a orla, do Farol da Barra até a Pituba, seria reservada para a construção de balneários, casas de veraneio e loteamentos, como o Barralândia, cujo traçado tinha como principal via a Rua Afonso Celso, paralela à Avenida Oceânica, e várias transversais importantes como as ruas Alfredo Magalhães e Professor Lemos Brito.

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Para saber mais

MELLO, M. M. C.; AZEVEDO, L. B.; AZEVEDO, L. B. A imagem da Barra, em Salvador, entre os séculos XVI e XXI. Revista Rua, Campinas – SP, v. 24, n. 2, p. 431-447, nov. 2018.

PESSÔA, Y. S. O mar como testemunha: a modernização do bairro da Barra (1850-1950). 2017. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo)Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2017.