José Joaquim Seabra, mais conhecido como J. J. Seabra, foi um grande político e jurista baiano, que participou do processo de promulgação das constituições republicanas de 1891 e 1934, foi deputado federal pela Bahia, ministro de estado, e governou a Bahia nos períodos de 1912 a 1916 e de 1920 a 1924.
Figura polêmica, foi o responsável por ações urbanísticas que marcaram definitivamente o desenho da cidade do Salvador com intervenções voltadas à melhoria do saneamento básico, quase inexistente na época, e da circulação e ligação entre bairros.
Na época, a recente abolição da escravatura aliada à recém-criada República, a pressão internacional e o capital estrangeiro levaram a uma preocupação maior com a melhoria dos serviços públicos e à busca de uma qualidade de vida melhor nas cidades brasileiras.
Em Salvador, os poderes públicos, sob a pressão dos empresários (capital nacional e internacional), buscaram a renovação da cidade e a implantação da sua infraestrutura: abastecimento de água, iluminação, novos meios de transporte e telecomunicações.
Monumento a J. J. Seabra na Praça da Inglaterra
As características coloniais das cidades como Rio de Janeiro, Salvador e Recife, por exemplo, incomodavam camadas mais abastadas da sociedade brasileira, que tinham os olhos voltados para o que acontecia em Paris.
No início do século XX, a Cidade Luz era uma das maiores inspirações, principalmente por conta da reforma urbana promovida pelo prefeito do Sena, Georges-Eugène Haussmann, que promoveu a higienização e a melhoria da circulação, com a demolição de prédios e ruas medievais, e abriu largas avenidas arborizadas (boulevards).
No Brasil, a reforma da capital do país, capitaneada pelo prefeito Pereira Passos, promoveu a higienização da cidade do Rio de Janeiro, modernização da zona portuária, abertura das avenidas Central, Beia-Mar e Maracanã com o olhar voltado à circulação de automóveis, simbolos da modernidade em todas as grandes capitais.
Mas, assim como em Paris, a reforma teve um lado cruel que foi a expulsão da população mais pobre, que vivia em cortiços no centro da cidade, para a periferia e para os morros. Em Salvador, o foco foi o mesmo, em menores proporções.
A reforma urbana do período de 1912 a 1916 se concentrou em três frentes de trabalho: avanço sobre o mar, com a remodelação e ampliação do porto, na cidade baixa; alargamento de avenidas, na cidade alta; e orientação do crescimento da cidade para o sul com a abertura de uma grande avenida, que foi inicialmente chamada de Avenida do Estado.
Na imagem abaixo vemos a extensão da avenida em vermelho. São 4600 metros de extensão, 21 metros de largura com 3 metros de passeio em cada lado. Ela inicia no Farol da Barra e termina na Ladeira de São Bento e levou 4 anos para ser concluída.
Em 1916 ela foi inaugurada com os sistemas de rede de água, esgoto, água pluvial, e rede elétrica.
Avenida Sete de Setembro, do Farol da Barra à ladeira de São Bento
Cada trecho dessa avenida manteve nomes relacionados a antigas edificações, algumas delas demolidas para sua abertura. No postal colorizado, podemos ver ao fundo o farol do forte de Santo Antônio da Barra e, à direita, o forte de Santa Maria, partes iniciais da avenida arborizada, com balaustrada e o passeio em pedra portuguesa que tanto caracterizam esta orla de Salvador.
Postal de Joaquim Ribeiro (c. 1920).
Por sua extensão, não poderemos falar de tudo, então escolhemos a região do Relógio de São Pedro.
Neste largo ficava a igreja de São Pedro, bela construção do século XVIII, que foi demolida em 1913 para alargar a rua e facilitar o trajeto dos bondes elétricos.
O espaço que ela ocupava virou uma praça onde foram instalados o relógio e o monumento ao Barão do Rio Branco, obra do artista italiano Pasquale De Chirico. Outra igreja a São Pedro foi construída na Praça da Piedade.
Trecho da Avenida Sete no Relógio de São Pedro.
A arquitetura das construções residenciais e comerciais ainda mantinha fortes características coloniais, com sobrados de até três pavimentos. Alguns deles ainda estão firmes, com suas fachadas escondidas por placas e letreiros.
Esta avenida, que já foi o principal centro comercial e de serviços da cidade, passou recentemente por mais uma reforma com o intuito de requalificar os seus espaços e revitalizar a economia local. Ela ainda atrai uma clientela diversificada, pois tem um comércio rico e variado, além de vários monumentos históricos.
Foi por muitas décadas o principal trajeto do carnaval de Salvador, das pranchas de bonde enfeitadas e viu nascer o trio elétrico, os novos baianos e muitos outros grandes artistas nacionais.
Cada parte dela tem uma beleza, que é admirada pelos soteropolitanos e por quem vem de fora: o pôr-do-sol no farol; o banho de mar no porto; a nobreza do Corredor da Vitória; a liberdade de comprar em uma via pública e ouvir as diferentes maneiras de mercar os produtos que cada ambulante tem.
Haja garganta!