Alberto Oliveira

Em busca de mais 600 mil mortes

É esse o desejo aparente de quem defende amontoar foliões

Tem sido coerente o governador da Bahia, Rui Costa (uma voz quase isolada), ao manter-se fora da onda de hipocrisia e irresponsabilidade alimentada por outros dirigentes apressados em anunciar a volta dos festejos carnavalescos, em 2022, como se a pandemia do novo coronavírus houvesse evaporado.

Governantes começam a negar os riscos de uma festa onde a norma é o amontoado de centenas de milhares de pessoas. A Imprensa, que citava a ciência por qualquer motivo, mostra os riscos do negacionismo desses dirigentes? Não. Cala-se, cúmplice.

"Os cientistas são unânimes" (como se alguma vez na história da humanidade houvesse sido registrada essa unanimidade planetária) desapareceu do texto jornalístico, o "afirmou sem dados" sumiu do noticiário sobre o carnaval.

O governador baiano corre o risco de ser taxado como intransigente, insensível aos problemas da classe artística, por manter a postura de tomar decisões ancorado nas estatísticas de saúde, porque age para preservar vidas, não para preservar votos.

Veja-se o que está acontecendo na Europa. A Alemanha, por exemplo, registra recordes de novos casos, e tem mais de 18% dos leitos de UTIs ocupados por pacientes com a Covid-19. 

A Itália luta contra o maior número de casos dos últimos 7 meses, com a média móvel de contágios em sete dias aumentando pela 22ª vez seguida.

A OMS-Organização Mundial de Saúde (aquela mesma exaustivamente citada pela Imprensa agora calada), anunciou o início da quarta onda de Covid, no mundo.

E para onde irão milhares de turistas europeus a partir de janeiro? Para o destino de sempre: as praias no Brasil, o carnaval brasileiro.

Ainda na semana passada ouvia-se, em uma emissora de TV na Bahia, que no carnaval seriam seguidos todos os protocolos. É um argumento insustentável e risível.

Há poucos dias, um evento para cerca de 500 pessoas, em Salvador, exigiu o uso de máscaras e a comprovação (por aplicativo) de vacinação completa contra a Covid. Houve rigor. Nem uma só pessoa foi admitida sem máscara; ninguém entrou sem comprovar ter recebido todas as doses de vacina. O distanciamento foi seguido.

Até iniciar-se a festa. Nem dois minutos após o primeiro toque do timbau o que se via era (sendo conservador), pelo menos 90% do público sem máscara e amontoado, pulando e cantando. O protocolo desceu goela abaixo.

Em shopping centers de Salvador nem mesmo há mais a medição de temperatura, embora o número de casos ativos de Covid-19 tenha crescido, na Bahia. Há 15 dias, eram 2,5 mil e, agora, são 3 mil.

O carnaval em 2022 (embora a ciência, a imprensa e alguns governadores não pareçam preocupados com isso; afinal, será ano eleitoral e é preciso agradar os eleitores) pode ser a abertura da porta para mais contaminações por coronavírus, com o inevitável aumento no número de mortes (sobre as quais nenhum dos governantes apressados assumirá a culpa).

Rui Costa pode virar uma voz solitária no deserto de coerência em que se transformou o País. Mas que mantenha a postura de agir com o foco na preservação de vidas. É o que espera a população responsável e consciente da Bahia. 

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Cutucada

O secretário de Saúde de Salvador, Leo Prates, deu uma cutucada no governo do Estado, por permitir aglomeração na Arena Fonte Nova (quase 28 mil pessoas foram ver o jogo entre Bahia e Grêmio, na noite dessa sexta-feira).

"E o “Carnaval” liberado pelo Decreto Estadual continua… Fonte Nova hoje. Vamos todos pagar a conta!", postou Prates, em seu perfil no Twitter.

Aguardemos o que permitirá a Prefeitura de Salvador no réveillon.