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Decreto municipal não intimida banhistas na Avenida Beira Mar

Jovens, crianças e adultos tomavam sol e se banhavam nas águas quentes da Ribeira

Foto: Morgana Montalvão
Avenida Beira Mar, Ribeira
O comportamento das pessoas demonstra uma flexibilização do isolamento por parte da sociedade soteropolitana

A temperatura marcava 27°C na sexta-feira,11 de setembro em Salvador, o céu estava limpo e a praia que se expande pela  Avenida Beira Mar, na Ribeira, estava convidativa. Às 15h, jovens,  crianças e adultos tomavam sol e se banhavam nas águas como se não houvesse uma pandemia. O comportamento das pessoas demonstra uma flexibilização do isolamento por parte da sociedade soteropolitana.

Para Gabriela Morais, 33 anos, dona de casa e moradora do Bonfim, ir à praia era um “alívio” por estar viva. Ela, que tem um casal de filhos, Ana Luiza de 5 anos e Luiz Guilherme de 3 anos, teve Covid-19 e não usava máscara ao tomar sol na areia com as crianças.

“Eu e minha filha fomos diagnosticadas com o coronavírus. Tivemos todos os sintomas. Ela ainda foi pior porque ficou durante três dias com uma febre de quarenta graus e muita diarreia. Foram 10 dias muito difíceis, eu tenho que agradecer”, revela a dona de casa, que por ter plano de saúde, foi tratada em uma clínica particular. “O médico disse que era só para isolar eu e minha filha e mais nada, eu não fui medicada e nem passei por nenhum tratamento”.

Mesmo desobedecendo ao decreto municipal  Nº 32.326 de 03 de abril de 2020, que restringe o acesso às praias para banho de mar e atividades na areia para evitar a proliferação do coronavírus na cidade, a dona de casa  conta que deu “uma escapada” para evitar o calor. 

“Desde que começou a quarentena, eu não saí com os meus filhos. Eu os trouxe porque a gente precisava pegar um sol, está muito calor e também, eu não aguentava mais ficar enclausurada com duas crianças pequenas sem nada para fazer. A noite aqui é pior é muito mais lotado e é muita confusão”.

O sol estava a pino e o calor subia. Eu era a única pessoa que estava usando máscara ao caminhar pela areia.  

Mais à frente, uma família composta por mãe, filha, marido e sobrinhos, tomava cerveja despretensiosamente sentados na areia.  Para Valedete Dórea, 37 anos, moradora do Subúrbio Ferroviário e também dona de casa, ver o mar era uma necessidade "inadiável”.

“Eu moro no Subúrbio, mas gosto muito daqui da região da Ribeira, me sinto muito bem. Perdi uma mãe vítima de um infarto fulminante  em junho. Eu necessito ficar perto do mar para acabar com a minha tristeza, estava ficando depressiva. Nós não estamos usando máscara porque estamos em família e também, não fico saindo o tempo todo. Todas as minhas compras eu peço pelo aplicativo”, diz.

O professor de Educação Física, Luís Alberto, 32 anos estava frequentando a praia pela primeira vez desde o início do decreto. Ele, que estava com amigos, crê que a interdição é “uma perda de tempo” que não resolve o problema.

“Existem outros lugares como o metrô e os ônibus que aglomeram muito mais gente, sendo o contato com vírus  muito maior. Eu, agora, estou em uma praia que é um lugar aberto, amplo e arejado. Restringir o acesso das pessoas às praias é ineficaz. A prefeitura deveria se preocupar com outras coisas, como festas paredões e afins e outros lugares aglomerados”, diz

O prefeito ACM Neto, afirmou na quinta-feira (10), em uma coletiva de imprensa, que a liberação da praias está cada vez mais próxima e que está sendo elaborado um protocolo para a segurança dos banhistas.

“ Nós iremos selecionar as praias que serão liberadas aos poucos, não será tudo de uma vez só. Não quero que tenha uma nova explosão de casos de coronavírus. Salvador tem conseguido manter a taxa de ocupação de leitos de UTI em 37% e isto é muito positivo. Há um protocolo sendo elaborado pela Guarda Civil Municipal e pela Semop para que este retorno aconteça de maneira segura”, enfatiza o prefeito, que complementa que a liberação das praias, de início, seria permitida apenas de segunda a sexta-feira, para a prática de atividades esportivas e banho de mar, sem comércio na areia, não especificando uma data certa para que a liberação aconteça.

Praia com gente, porém limpas

Morgana Montalvão

"Eu espero que as pessoas reflitam e parem de emporcalhar a areia”, diz Leandro

Leonardo Conceição, 32 anos é gari há 7 anos, trabalha em toda a extensão da Avenida Beira Mar e nas praças Divina, próxima a pista de Skate e a Francisco Dórea, em frente à Igreja Matriz de Nossa Senhora da Penha.  Ele, que estava acompanhado de mais dois garis, era o único a usar máscara.

 O trabalhador conta que o decreto da prefeitura tem facilitado o seu trabalho, pois, percebeu que a região tem ficado menos suja durante o isolamento social.

“ Constatei que com este decreto, as pessoas têm se conscientizado mais e deixando o espaço mais limpo. Claro que há gente, no entanto, há menos lixo na praia e isso é bom. Eu espero que as pessoas reflitam e parem de sujar a areia”, complementa.