Alberto Oliveira

Poderia ter sido um gol de placa, mas o Flamengo pisou na bola

Uma chance jogada fora de unir ainda mais a torcida

O Flamengo é, hoje, a melhor equipe da América Latina. Está mesmo em outro patamar, como disse seu técnico, o português Jorge Jesus, para choradeira dos técnicos brasileiros, retranqueiros por natureza.

Com ele, o Rubro-Negro carioca transformou-se em um encantador de estádios. Encurrala seus adversários do primeiro ao último minuto, de forma arrebatadora, sufocante, impede-os de raciocinar, tira-lhes o direito ao descanso.

Sua diretoria montou um elenco milionário e estelar. Do ponto de vista financeiro fez um trabalho irretocável. O Flamengo é o time brasileiro com mais recursos. E de tal maneira tem suas contas equilibradas que se deu ao luxo de enfrentar a poderosa Rede Globo, rejeitando os valores propostos pela emissora para ter a exclusividade na transmissão de seus jogos.

Disse não e disse-o bem, escancarando uma janela com possibilidades ainda não devidamente mapeadas de arrecadação. O Flamengo agora pode vender as partidas em que seja o mandante para quem quiser, a partir de uma Medida Provisória assinada pelo presidente Jair Bolsonaro.

E a partir daí realizou a primeira transmissão por mídias sociais (a do jogo contra o Boavista). Um gol de placa, uma chance enorme de consolidar sua FlaTV, de agregar ainda mais os torcedores, que expontaneamente fizeram doações para o clube durante a partida.

Mas o que fez a diretoria do Flamengo? Anunciou que cobraria (R$ 10) para quem desejasse ver a semifinal da Taça Rio contra o Volta Redonda. Para tanto, escolheu uma plataforma de "streaming" de vídeo (a Mycujoo), para a fúria compreensível da torcida.

Ora, todos sabem que o Flamengo precisa arrecadar e que está impedido de receber recursos da bilheteria dos jogos, já que estes se realizam a portões fechados, por causa da pandemia do coronavírus. É evidente que o Rubro-Negro precisa de novas formas de receita, mas certamente não é este o momento de exigir pagamento por parte de seus torcedores.

A 2 partidas do final do campeonato (se vencer o Fluminense será campeão no Rio) o Flamengo deveria ter aproveitado para ampliar o número de inscritos na FlaTV, começando a cobrar no ano que vem.

Resolveu fazer tudo às pressas, sem o planejamento exigido, e pisou feio na bola. Claramente escolheu uma plataforma sem estrutura para o desafio de atender uma torcida que chega a 40 milhões de pessoas apenas no Brasil.

Fazer o pagamento, no site da Mycujoo (que nome, Deus do céu!), foi uma tortura e muitos torcedores desistiram. O site travava, não avançava, voltava para o ponto de partida. Um horror.

Quem conseguiu pagar (e fui um deles), viu-se diante de uma transmissão capenga, sem qualidade de imagem, mesmo que o usuário (como eu) estivesse usando uma conexão de alta velocidade, em banda larga, por fibra ótica e cabeada, com praticamente nenhuma perda no tempo de recebimento dos dados.

No meu caso, ficou impossível continuar na plataforma já aos 3 minutos do primeiro tempo. 

O Flamengo se viu obrigado a liberar para todos (inclusive para quem nada pagou) a transmissão pela FlaTV, infinitamente superior à da Mycujoo. 

A operação toda foi um desastre.

Espera-se que a diretoria não insista no grave erro para a final da Taça Rio, se não vencer o Fluminense (que tem o mando de campo no jogo de quarta-feira, 8 de julho).

Se vencer, o campeonato acaba.