Alberto Oliveira

A segunda vez em que Sergio Moro deixou de agir como um juiz

Uma segunda camada de pó sobre sua biografia

É inegável o conhecimento que o ex-juiz Sergio Moro tem das leis. Mesmo um leigo consegue perceber isso com uma leitura de suas peças, em especial as que integram o conjunto de processos da Operação Lava Jato. 

Destacam-se, ainda, a serenidade com que conduzia as chamadas "oitivas" (quando ouvia os acusados) em Curitiba e a autoridade que impunha nesses momentos, sem que fosse preciso levantar a voz ou espalhar ameaças.

Apesar da campanha cerrada patrocinada por simpatizantes do ex-presidente Lula, por ele condenado, Sergio Moro ia lustrando uma biografia sem dúvida inserida na história do Direito brasileiro.

De um juiz espera-se conhecimento profundo da legislação e isenção a todo custo no exame das provas, na análise de alegações das partes envolvidas, uma condução sem manchas do processo sob sua responsabilidade.

Mas é inegável que a cintilante biografia do então juiz Sergio Moro recebeu, no mínimo, uma camada de pó, no momento em que ao desabrigo dos prazos processuais divulgou ("vazou", termo que passou a ser exaustivamente utilizado pela Imprensa) um diálogo nada republicano entre a então presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula, que apressou o "impeachment" da primeira, hoje célebre pelo raciocínio tortuoso e por suas falas ininteligíveis.

São muitos os que enxergam outra generosa camada de poeira nos contatos entre Sergio Moro e procuradores da Lava Jato, via WhatsApp, mas como aqui (recordemos o conhecido bordão do humor nacional) há controvérsias deixemos de lado essa (para muitos) segunda pá de areia.

Foi agora (e aí inexiste dúvida) que o ex-juiz Sergio Moro exibiu um inesperado lapso de memória, um desconhecimento que vai além do Direito, que esbarra mesmo no bom senso.

Ora, mesmo leigos (incluindo aqueles que enxergam méritos em suas sentenças) percebem que o trecho de diálogo entre ele e a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), que o ex-ministro da Justiça "vazou" para o Jornal Nacional, é tudo menos uma prova de que ele (Sergio Moro) nunca exigiu do presidente Jair Bolsonaro a indicação ao Supremo Tribunal Federal.

O diálogo apenas revela que a deputada (hoje com todos os bons motivos de se sentir traída) prometeu interceder pela indicação, nem uma vírgula além disso.

Não inocenta Sergio Moro da acusação de ter (em conversa com o presidente Bolsonaro) imposto sua ida ao STF como moeda de troca pela demissão do dirigente máximo da Polícia Federal.

A chamada "prova" apresentada ao JN não se sustenta em nenhum Tribunal. Moro deveria saber isso. O Jornal Nacional deveria saber isso. 

A essa altura, há pelo menos duas camadas de pó encobrindo o brilho da biografia do ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro.

Que pena!