É aparentemente inesgotável a capacidade de membros da família Bolsonaro (a começar pelo presidente) de falar e fazer bobagem, segundo alguns uma estratégia política, provavelmente insuficiência de massa cinzenta.
Em meio a uma pandemia, com o mundo (o Brasil incluído) virtualmente paralisado, diante de um vírus com altíssima capacidade de propagação e letalidade importante para pessoas com idade acima dos 60 anos, o presidente Jair Bolsonaro sai à rua para tocar manifestantes, quando os infectologistas são unânimes em recomendar o isolamento social, a distância mínima de um metro para outra pessoa.
Um péssimo exemplo, um incentivo ao descumprimento das medidas de cautela por parte da população.
Agora, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) cria uma crise diplomática entre o Brasil e a China (nosso maior parceiro comercial) ao divulgar acusações de que aquele país seria o responsável pela pandemia de novo coronavírus.
A resposta da Embaixada da China foi de uma dureza poucas vezes vista na diplomacia. "..são [palavras] extremamente irresponsáveis e nos soam familiares. Não deixam de ser uma imitação dos seus queridos amigos. Ao voltar de Miami, contraiu, infelizmente, vírus mental, que está infectando a amizade entre os nossos povos".
Nesse bate-boca público, se o deputado brasileiro endossou acusações que não tem como provar, o embaixador chinês, Yang Wanming, mostrou-se um boquirroto, atitude inaceitável por parte de um representante diplomático.
Tem-se saudade de Caco Antibes, personagem da série humorística "Sai de baixo", produzida pela Rede Globo, e de seu bordão mais conhecido: "Cala a boca, Magda!", dirigindo-se à mulher, cuja característica mais visível era a fieira de bobagens que falava.
O Brasil, historicamente, tem se mostrado maior que seus governantes e conseguido sobreviver apesar dos que lhe saquearam ou dos que lhe empurraram goela abaixo medidas exóticas, na contramão do que propõem o bom senso e a experiência.
Certamente sobreviverá à enxurrada de bobagens que se espraia desde o Planalto, à irresponsabilidade que campeia à direita e à esquerda, mas sabe-se lá com quais e quantas cicatrizes.
Pobre país!