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Para começo de conversa, deixemos claro um ponto fundamental: inexiste, nessas reflexões, qualquer interesse ou propósito de defender o presidente Jair Bolsonaro, mas tão somente o de examinar alguns fatos à luz de outros ocorridos no passado recente e, quem sabe, daí retirar conclusões que sejam de alguma utilidade.
Aos fatos, portanto, mas antes deixe-me lembrar um diálogo delicioso ocorrido em um pequeno restaurante no interior desse Brasil desmedido. O cliente pergunta se há sobremesa, e a dona do restaurante dá a resposta maravilhosa: "Temos banana em lata, em calda e pessoalmente".
Curioso, o cliente pediu "pessoalmente". E recebeu um pequeno cacho de bananas. A fruta. Pessoalmente.
De uns tempos a essa parte o presidente Jair Bolsonaro passou a se divertir distribuindo bananas (no sentido figurado e pessoalmente) aos jornalistas que insistem em dar plantão à frente do Palácio da Alvorada.
Foi uma gritaria. Muitos (de fora do jornalismo) se sentiram profundamente ofendidos, consideraram o ato uma ameaça ao estado democrático de direito.
Mas boa parte dessas mesmas pessoas passou os últimos anos espalhando aos quatro ventos que a imprensa brasileira é golpista, não merece confiança, mente, deturpa, engana.
Boa parte dessas mesmas pessoas que agora se ofendem, passou os últimos anos gravando a ferro e fogo, na mente dos brasileiros, que sua imprensa merece - no mínimo - receber bananas.
Portanto, deveriam estar, agora - para ser coerentes - aplaudindo o presidente Bolsonaro e seu bananal.
Eu, como jornalista que o sou há mais de 40 anos, sinto-me ofendido quando alguém dá uma "banana" à Imprensa, em especial quando se trata de um chefe de Estado, mas rejeito a solidariedade cínica de quem há menos de um ano acusava o jornalismo brasileiro de ser um antro de golpistas vendidos ao sistema.
Dou uma banana a esse cinismo oportunista. Pessoalmente.