Alberto Oliveira

Artistas que estimulam a violência deveriam ser banidos do carnaval

Autoridades erram ao promover esse tipo de artista

Por qualquer ângulo que se examine é difícil encontrar justificativa para o destempero patrocinado pelo dublê de cantor e deputado federal Anderson Machado de Jesus (conhecido como Igor Kannário) na tarde de segunda-feira (24 de fevereiro), no circuito Osmar, em Salvador.

Aboletado (e protegido) no alto de um trio-elétrico patrocinado pela Prefeitura de Salvador, chamou os policiais de "bunda-moles" e os desafiou a subirem no trio. Depois, insinuou que poderia estar de alguma forma ameaçado pela PM. "Se acontecer alguma coisa comigo, quem mandou me matar foi alguém da Polícia Militar, viu?", disse.

A PM baiana divulgou nota repudiando o que considerou "provocações e agressões feitas à tropa", concluindo que "além da atitude irresponsável e criminosa o também deputado federal incitou os foliões contra os policiais militares que faziam o policiamento".

E continua a nota: "É inaceitável que qualquer pessoa, ainda mais um parlamentar, tente comprometer a honra da instituição e de policiais militares que estão comprometidos e empenhados na defesa da sociedade baiana".

Também é inaceitável que recursos públicos continuem patrocinando artistas que estimulam a violência, seja por seus atos seja pelas mensagens que transmitem nas músicas que cantam.

Parcela considerável do público se mira nos artistas que admira e reproduz seus atos, repete suas falas, segue seus posicionamentos, sendo por eles fortemente influenciada. 

Autoridades comprometidas com a redução dos índices de violência no país não podem, portanto, ser aliadas de pessoas com essa índole, não importa que origem estas últimas tenham tido.

Não é a primeira vez - e, a levar-se em conta seu histórico - não terá sido a última que o cantor (e agora deputado federal) Igor Kannário envolve-se em confrontos com a polícia.

Criticá-lo após os destemperos, como o fez o vice-prefeito Bruno Reis, é imperativo, mas de nada adianta afirmar que "o artista tem que ajudar a polícia, um trabalho de parceria, sem qualquer tipo de declaração impertinente" se continuar patrocinando a impertinência.

Salvador - e o País - não pode continuar convivendo com esse tipo de mau exemplo.

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Sem morte
O carnaval em Salvador chega a seu último dia sem registro de morte nos circuitos Dodô (Barra/Ondina), Osmar (Centro) e Batatinha (Centro Histórico).

No quinto dia da folia foram contabilizados 19 roubos, 117 furtos e 23 lesões corporais.

"Fazemos a segurança em um Carnaval de rua, em bairros habitados, dificultando o controle do que já está dentro dos circuitos", destacou o secretário da Segurança Pública, Maurício Teles Barbosa.

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Parou por que?
O secretário Maurício Barbosa confirma a migração do público para o circuito Dodô.

O público vai para onde os artistas estão e eles vem debandando para a Barra.

Motivo da fuga em massa? Convenhamos, o percurso da Barra é metade do que vai do Campo Grande à Praça Castro Alves. 

E, convenhamos mais ainda, os principais artistas do carnaval baianos são de ooooooutros carnavais. O fôlego de há muito já não é o mesmo.

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Pesquisa
Dados parciais de pesquisa de avaliação realizada pela Ouvidoria da Polícia Militar da Bahia, durante os cinco dias de festejos carnavalescos em Salvador, e divulgados na noite desta terça-feira, apontam que mais de 84% dos foliões aprovam e se sentem seguros com a presença da PM.

Os dados foram coletados entre os dias 20 e 24 de fevereiro e os questionários de avaliação aplicados ao público nos circuitos Dodô (Barra/Ondina), Batatinha (Pelourinho) e Osmar (Centro). 

De acordo com a Ouvidoria, os serviços mais elogiados e que agradaram aos foliões foram: a segurança nos portais de abordagem - com funcionamento ininterrupto este ano -, e o serviço das patrulhas, que juntos somaram mais de 71% dos votos.