Alberto Oliveira

Lula está obrigando o PT a perder a eleição para prefeito em Salvador

O ex-presidente é incapaz de pensar no partido

Para o ex-presidente Lula, o Partido dos Trabalhadores tem uma única e exclusiva função: servir a ele, pouco importa se para isso diminui de tamanho, apequena-se.

E seus seguidores aceitam de bom grado apequenar-se, segui-lo cegamente como a um Messias reencarnado, adorá-lo como a um salvador da pátria, negar quaisquer "mal feitos" que pratique (para usar um termo caro à ex-presidente Dilma Rousseff).

Lula é visto como um gênio da política, embora dê exemplos cristalinos de cegueira.

Veja-se o que está obrigando o PT a fazer em Salvador, nas eleições de 2020 para prefeito da capital baiana: ter um candidato próprio, rejeitar um apoio a outro quadro, mesmo que estejam aí as maiores chances de vitória.

Rejeita o apoio a qualquer outro partido, mas exige ser apoiado em 2022. E ai daquele que se negue a continuar com esse jogo de apoiar sempre, nunca ser apoiado, como o fez Ciro Gomes, recentemente.

A única voz que se ouve, nesse deserto de ideias, é a do governador da Bahia, o petista Rui Costa. "É difícil ter a posição de não se aliar agora e esperar aliança em 2022", disse neste fim de semana em entrevista à Folha de S.Paulo.

Uma dedução lógica, que encontra oposição apenas nos que se recusam a olhar para os lados ou insistem em fazer oposição pela oposição.

Há alguém no governo e não sou eu, então serei contra qualquer uma de suas iniciativas, mesmo que beneficiem a população, mesmo que tenham como objetivo, por exemplo, resgatar os pobres dos esgotos em que vivem. Essa é a visão que se tem do discurso do PT (diga-se do discurso de Lula, porque o PT não tem voz, apenas ecoa o que disser o ex-presidente).

Os integrantes do Partido dos Trabalhadores gritam contra qualquer ato que minimamente arranhe a Constituição Brasileira, aquela mesma que o PT se recusou a endossar.

Fazem um escândalo quando algum movimento na economia (veja-se o aumento do preço da carne bovina) ameaça uma elevação disseminada dos preços, mas o PT tentou impedir o Plano Real, que acabou com a hiperinflação no País. 

Ou seja: fez oposição pela oposição, o que não se percebe no discurso do governador baiano, hoje o principal nome da sigla com cargo eletivo.

Na sexta-feira (12), a bancada petista no Congresso Nacional votou contra o marco legal do saneamento, um ponto de vista que tem a discordância de Rui Costa. "Quem é governador se pergunta: onde vamos buscar recursos para tirar o pobre de viver sem esgoto, em lugares alagados ou ficar sem água? O governo e os estados não têm como ofertar. É evidente que precisamos usar o instrumento da parceria público-privada, do capital privado, para levar água e esgoto à população."

À pergunta feita pelo repórter Igor Gielow, da Folha de S.Paulo, se teria votado a favor do projeto, precisou de uma só palavra: "Evidentemente".

Rui Costa participou da negociação para equilibrar a redação do texto, para criar uma fase de transição.

"Eu tenho um hospital público de subúrbio, gerido por empresa privada, com 90% de aprovação. Eles fazem a gestão melhor do que nós. O que conta para a população ao fim? Ter um serviço de qualidade, boas instalações, volume de atendimento", disse o governador.

É difícil entender isso? Ficar contra esse ponto de vista não é colocar-se contra a população carente?

A Bahia continua dando régua e compasso.