Ex-secretário indiciado por destruição de patrimônio histórico em Caravelas
O ex-secretário de Obras Everaldo Aguiar Hortêncio, da Prefeitura de Caravelas – A Princesa dos Abrolhos -, que participou do governo de Jadson Silva Ruas em 2016, foi indiciado em inquérito policial por crime de peculato por ter se apossado do patrimônio público em proveito alheio como mandante da destruição da Vila Militar dos Oficiais da Aeronáutica, patrimônio histórico do município construído pelos americanos durante a 2ª Guerra Mundial na década de 1940 do século passado.
O inquérito instaurado pela Polícia Civil a pedido do Ministério Público Estadual foi concluído dia 29 de agosto e encaminhado à Justiça pelo delegado Gilvan Prates.
“Para um crime dessa natureza, a Promotoria vai avaliar o inquérito e, se entender cabível, deve oferecer denúncia à Justiça. Em caso do réu ser condenado, poderá pegar uma pena que varia de 2 a 12 anos de prisão”, explica o delegado, lembrando ainda em conversa por telefone, que vinha investigando o caso desde sua chegada à Caravelas, em novembro de 2016.
“No período da campanha politica, as pessoas procuravam o ex-secretário Everaldo Aguiar para pedir telha, madeira, porta, janela, entre outros objetos e ele autorizava a retirada dos materiais das casas e dos alojamentos da Vila Militar, conforme está em depoimento das testemunhas, o que deixa evidente que havia anuência por parte do ex-secretário de Obras, para que as pessoas pudessem destruir os imóveis. Estes bens também foram saqueados por pessoas de outras cidades. Entre as testemunhas e pessoas ouvidas em inquérito, 12 confirmaram em depoimentos que tinham anuência do ex-secretário para fazer a retiradas das peças”, esclareceu o delegado.
Segundo Gilvan Prates, parte do material recuperado - telhas, caibros, janelas, portas, entre outros objetos - foram restituídos à Prefeitura.
Ele lembra que esse é o tipo de crime que não precisa de autorização da Justiça para investigação.
“Se a polícia tomar conhecimento de um caso como esse, ela tem poder para instaurar inquérito e apurar as denúncias. Mas esse caso foi solicitado pelo Ministério Público Estadual em agosto do ano passado. Na época, eu não era delegado de Caravelas. Cheguei à cidade em novembro. Apenas dei continuidade às investigações do inquérito concluído dia 29 e encaminhado a Justiça”, conclui o delegado.
Prefeito lamenta destruição da história
Para o prefeito Silvio Ramalho, a destruição da Vila Militar, em agosto de 2016, foi um ato de irresponsabilidade muito grande até porque “tem muita gente de Caravelas que nasceu e cresceu na Vila Militar. Nós tínhamos um projeto, elaborado no ano passado, em que na frente da Vila Militar seria instalada uma clínica para recuperação de dependentes químicos e, na parte de trás, uma Escola Agrícola. Esperamos, agora, que os culpados sejam punidos porque a Princesa dos Abrolhos já foi punida com a perda de parte de sua rica história”, explica o prefeito.
O projeto seria desenvolvido em parceria com o Rotary Clube e a Maçonaria.
Os internos seriam tratados na clinica e trabalhariam na escola.
“Nossa intenção era atender os dependentes de Prado, Alcobaça e Caravelas, para diminuir o custo e fazer com que a área tivesse uma utilidade e viesse a servir a comunidade. Essa era a nossa intenção. Mas, infelizmente antes de chegar o inicio da nossa administração, a Vila Militar foi totalmente destruída“ lamenta o prefeito.
A área que era do governo federal, hoje pertence ao Estado, que devera repassá-la para o município.
“Os danos causados a Vila Militar foram muito grandes. O município vai tentar fazer uma parceria para tentar recuperar uma parte das casas” disse Sílvio Ramalho.
Patrimônio histórico
Construída no ano de 1942 pelos americanos, a Vila dos Oficiais servia de moradia para oficiais que trabalhavam no aeroporto de Caravelas.
Com estrutura avançada para a época, a Vila contava com várias casas, galpões de alojamentos, clube e até cinema, cujos filmes eram trazidos em aviões por oficiais das forças aliadas.
Com arquitetura militar da época, ainda é possível ver as cerâmica decoradas à mão que enfeitam a entrada das casas dos oficiais.
Edificada em área rodeada por árvores frutífera e de restinga, a beleza do local é coroado pelo canto dos pássaros que voam livremente entre as árvores e enchiam o silêncio com seus cantos.
Os americanos se foram depois da guerra e doaram a vila ao governo brasileiro.
O local, que fica às margens da BR-418 e distante 12 quilômetros da sede do município, ainda ficou habitada por vários anos.
O tempo passou, as empresas aéreas se foram, mas a história permaneceu.
Com a construção da BR 418 e revitalização da pista de pouso do aeroporto de Caravelas, pelo 11º Batalhão de Engenharia e Construção do Exército Brasileiro de Araguari-MG, a vila foi revitalizada e serviu de morada para os trabalhadores da construção no período de 2008 a 2015.
Assim que a obra terminou e o Exército deixou o local, as construções antigas que fazem parte da história, foram completamente destruídas.
Hoje se vê telhas quebradas, madeiras destroçadas e paredes jogadas ao chão e que, por contarem parte da história de um local importante, merece ser preservado.
E a história de um povo deve ser preservada.
A reportagem entrou em contatos com populares da cidade na tentativa de localizar o acusado mas ninguém sobe informar seu paradeiro.