Brasil

Brasileiros desperdiçam mais
de 40,3% da água tratada

O volume desperdiçado encheria 21 milhões de caixas d´água

Foto: Pixabay | Creative Commons
O volume de água jogado fora poderia abastecer toda a população da Espanha
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O Brasil perdeu, em 2023, 5,8 bilhões de m³ de água tratada, o equivalente a 6.346 piscinas olímpicas por dia. A perda média nacional foi de 40,31%, com destaque negativo para Alagoas e Roraima. Reduzir esse índice à meta de 25% economizaria água suficiente para abastecer 31 milhões de brasileiros e geraria R$ 17 bilhões em ganhos líquidos até 2034.

O Brasil desperdiçou, em 2023, o equivalente a 5,8 bilhões de metros cúbicos de água tratada, conforme revela o “Estudo de Perdas de Água 2025” do Instituto Trata Brasil, divulgado em 24 de novembro. O volume equivale ao consumo anual de cerca de 50 milhões de brasileiros e representa uma perda de 40,31% da água tratada antes de chegar às torneiras.

Esse nível alarmante de ineficiência compromete o abastecimento em meio à crise climática e à escassez hídrica crescente, especialmente nas regiões Norte e Nordeste, onde os índices de perdas ultrapassam os 60% em alguns estados.

O volume total de água não faturada em 2023 equivale ao desperdício diário de 6.346 piscinas olímpicas ou 21 milhões de caixas d’água de 750 litros -- número suficiente para abastecer todas as famílias de comunidades vulneráveis do país por dois anos.

As perdas são classificadas em físicas (vazamentos e falhas na rede) e comerciais (fraudes, furtos e erros de medição). Do total desperdiçado nas capitais, 60% correspondem às perdas físicas.

O estudo estima que se o Brasil reduzisse suas perdas à meta de 25% prevista na Portaria 490/2021, seria possível economizar 1,9 bilhão de m³ de água por ano -- suficiente para abastecer 31 milhões de pessoas, quase toda a população que hoje não tem acesso regular à água tratada.

Esse volume economizado evitaria a necessidade de captação em novos mananciais, o que pouparia rios e fontes naturais já sobrecarregadas pelas secas, pelo calor extremo e por eventos climáticos cada vez mais frequentes.

Alagoas lidera o ranking negativo

O levantamento evidencia grandes desigualdades regionais. Os piores índices estão nas regiões Norte e Nordeste. Em Alagoas, o índice de perdas na distribuição chegou a 69,86%, seguido por Roraima (62,51%) e Acre (62,25%).

Por outro lado, os melhores desempenhos se concentram nas regiões Sudeste e Centro-Oeste. Goiás (25,68%) e Tocantins (30,96%) aparecem entre os estados mais eficientes.

Só 13 grandes cidades cumprem meta 

Entre os 100 municípios mais populosos, apenas 13 atendem simultaneamente os dois critérios de excelência: menos de 25% de perdas na distribuição e 216 litros por ligação/dia de perdas por ligação.

Cidades como Suzano (SP), Duque de Caxias (RJ), Santos (SP), Goiânia (GO) e Teresina (PI) se destacam positivamente. Por outro lado, capitais como Maceió (AL), Belém (PA) e Rio Branco (AC) estão entre as piores.

As 27 capitais brasileiras perderam juntas 2,71 bilhões de m³ de água em 2023. Apenas duas -- Teresina e Goiânia -- atingiram a meta de perdas abaixo de 25%.

Segundo o estudo, se todas as capitais reduzissem seus índices até o patamar de 25%, seria possível abastecer mais de 8 milhões de pessoas com o mesmo volume de água já captado.

A redução das perdas representa não apenas um ganho ambiental e social, mas também econômico. No cenário realista, com redução média das perdas a 25% até 2034, os ganhos brutos chegam a R$ 34,6 bilhões. Considerando os investimentos necessários, o benefício líquido estimado é de R$ 17,3 bilhões.

Para o Instituto Trata Brasil, enfrentar o desperdício de água é fundamental para garantir a universalização do saneamento básico. Em um cenário de escassez hídrica e mudança climática, reduzir perdas é mais eficiente do que expandir captação de novos mananciais.

“Perdemos diariamente mais de 6,3 mil piscinas de água potável. Isso compromete o suprimento e agrava impactos ambientais”, alerta Luana Pretto, presidente do Trata Brasil.

“Reduzir perdas de água não é só eficiência operacional. É adaptação climática”, conclui Gesner Oliveira, da Fundação Getulio Vargas (FGV).